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Língua Afiada

Metade dos jovens portugueses não distingue opinião de facto na Internet

Apenas 47% de todos os jovens inquiridos conseguiu distinguir um facto de uma opinião. Em Portugal, a percentagem subiu para 50%, a conclusão é de um estudo da OCDE e embora seja deveras preocupante, deixa-me a pensar quais seriam as conclusões se analisassem outras faixas etárias.

É preocupante, mas não é surpreendente, é aliás mais do que expetável, já que apetência para utilizar aparelhos eletrónicos não é sinal de inteligência e capacidade de compreensão e a questão que tem escapado não é a sua utilização, mas como são utilizados e para que finalidades.

Quando se trata da utilização de novas tecnologias pelas crianças há extremos, de um lado os pais que acham que é tudo normal, que faz parte, que é bom e que se os filhos não aprenderem a utilizar partirão em pé de desigualdade na corrida, do outro os pais que acham que as tecnologias deveriam ser erradicadas completamente da vida das crianças, adiando a sua introdução o máximo que conseguem. Como em tudo acho que o equilibro possa estar no meio, mas quando falamos em bebés e crianças pequenas seria preferível sermos todos radicais e colocar de parte as tecnologias.

Num mundo perfeito talvez isso fosse possível, mas nos tempos em que vivemos erradicar a tecnologia da vida das crianças é quase impossível, elas são o nosso espelho e se estamos constantemente a utilizar o telemóvel e o computador será mesmo isso o que elas tentarão fazer ao imitar o nosso comportamento, ainda mais quando percebem que aquele retângulo permite ver vídeos dos seus desenhos animados favoritos.

E tempos de pandemia e de teletrabalho é mesmo impossível, pois somos obrigados a utilizar as tecnologias e muitas vezes foram elas a única solução de muitos pais para sossegar os miúdos por uns minutos para tratar daquele assunto mesmo urgente. Cria-se um hábito que depois é muito difícil de contrariar, mas tempos difíceis requerem medidas desesperadas para nosso desespero futuro.

Até certa idade vamos conseguindo controlar, mas chega um ponto que é preciso pulso firme e muita capacidade de argumentação para evitar alguns comportamentos, costumo dizer que se as redes sociais dizem a partir dos 16 anos, porque é que se inscrevem crianças adulterando a sua data de nascimento com muito menos idade?

Achava isto muito estranho, mas desde que vejo comentários de mães que dizem alimentar crianças de 6 meses com iogurtes cuja embalagem diz a partir dos 3 anos, acho que mentir sobre a idade numa rede social é perfeitamente aceitável em comparação direta.

Voltando ao assunto inicial, se os pais fazem um uso pobre da tecnologia, se muitas vezes eles próprios não distinguem factos de opiniões, se não sabem explicar as vantagens do acesso à informação, se não se cultivam, como é que podem cultivar nos filhos o gosto por outras atividades mais lúdicas e intelectualmente desafiantes?

O problema não é o uso, é as horas infinitas que passam atrás de um ecrã em conversas e em jogos, para além do problema óbvio do sedentarismo, temos o problema da interação social, a continuar assim os jovens só saberão exprimir-se com emojis, podemos juntar ainda um grave problema que é a incapacidade de concentração e de aprofundamento de um assunto, um problema que não é exclusivo dos jovens, que começa a ser uma realidade para os adultos.

Vivemos demasiado conectados, é cada vez mais difícil de desligar, temos vidas stressantes em constante correria, mas quando temos tempo de descanso o que fazemos? Vê-mos o feed de notícias do telemóvel. Suspiramos por férias, mas estamos de férias e estamos preocupados em documenta-las nas redes socias.

Será que estamos a dar um bom exemplo? Ou estamos apenas a encaminhar as gerações mais jovens para um mundo cada vez mais digital, virtual e de faz de conta?

Não se distinguirem factos de opiniões, notícias falsas de verdadeiras é o caminho para a ignorância e para o populismo, avizinham-se tempos difíceis, até porque se a história se repetir teremos uns loucos anos 20 e depois uma grande depressão, é bom que não nos deixemos iludir com os salvadores da pátria que vão surgindo e que clamam ser a solução de tudo, batendo no peito e exultando, porque o caminho para a sua ascensão está a ser construído e nós nada fazemos para o fechar.

E ninguém aplaude os pais? À beira do colapso.

Desde o início que a gestão da pandemia foi malconduzida, mas o “milagre” português fez com que não tivéssemos de lidar com uma realidade tão dura como outros países, o milagre na verdade foi mais um adiamento, pois o caos acabou por instalar-se em 2021.

Os portugueses bem-comportados, são agora os rebeldes e se em 2020 se teriam desculpado erros com a surpresa, a novidade da inusitada situação, em 2021 este caos só demonstra a incapacidade de preparação e antevisão da situação.

Será que alguém acreditou que o alívio das medidas do Natal não seria catastrófico? Será que temos governantes tão incompetentes que não previram isso ou será que prefiram o aumento exponencial de casos à impopularidade, são tão incompetentes que provavelmente foi um misto das duas.

Resultado, estamos confinados novamente, como nada mantinha os portugueses em casa e nada fazia com que as empresas aderissem massivamente ao teletrabalho, fecham-se as escolas e resolve-se o problema, criando outros, até para o Governo que teve de improvisar umas férias porque o ensino à distância não estava preparado.

Inacreditável, mas não estavam preparados, a falta de preparação e planeamento deste Governo é avassaladora, devido a erros sistemáticos das autoridades estamos agora confinados e com os filhos a cargo, o dia-a-dia de muitos pais é simplesmente caótico, surreal e incomportável.

Não se consegue ser bom pai e não se consegue ser bom trabalhador, por mais que se façam turnos, que se planeie o dia, que se durma apenas 5/6h por dia, não é possível conciliar tudo de forma pacífica porque o cansaço acumula-se, a irritabilidade aumenta e o confinamento retira-nos praticamente todas as formas de descontração e descompressão que conhecemos.

Recriminar quem se queixa não ajuda em nada, só faz os pais sentirem-se mais culpados, mais inúteis e mais frustrados, o que é preciso é reconhecer que as pessoas não são imensas e não conseguem conciliar o teletrabalho com a parentalidade.

O Estado tem de perceber que as empresas não substituem a Segurança Social e que há funções e crianças que não são compatíveis, porque não se pode simplesmente generalizar e aplicar a medida a todos da mesma forma.

Teletrabalho obrigatório, não há apoio à família, mas e quem não consegue conciliar? O que faz? Recorre às faltas justificadas sem remuneração?

O que mais uma vez o nosso Governo ainda não percebeu é que agora impede uma boa parte dos pais de recorrerem a um apoio social, mas que alguns desses pais, estarão a recorrer a outro apoio daqui a uns meses, se calhar por muito mais tempo e com consequências mais graves, se a situação se mantiver muitos pais estarão com baixa psicológica não faltará muito.

Se muitas pessoas foram imprudentes e levaram a que isto acontecesse, sim, os portugueses simplesmente ignoraram todas as recomendações, há cada vez mais negacionistas e cada vez mais pessoas a desvalorizarem a situação.

 

Onda de Ignorância é a maior de sempre em Nazaré

Alertas? A pedir para usarem máscara?

Tenham paciência, foi decretado o uso obrigatório de máscara ao ar livre sempre que não possa ser mantido o distanciamento social, por isso comecem a passar multas, é inadmissível o que se passa neste país.

Aglomerados de pessoas para ver ondas gigantes? As ondas por acaso irão acabar? É assim tão importante ver hoje e agora as ondas? Não podem esperar para o ano?

Inacreditável a ignorância e a prepotência das pessoas, sinceramente não consigo entender como é que ainda existem pessoas a desvalorizar este vírus?

Os hospitais estão à beira do limite, não tardará entrarão em colapso e depois? Vão colocar as culpas em quem?

Há situações na vida em que de nada nos vale as imposições, as regras e as recomendações, só nos salva o bom senso, a colaboração, a empatia e a solidariedade, claramente estamos a falhar enquanto cidadãos, familiares, amigos e sociedade em geral.

Não tenham dúvidas, a maior ameaça aos nossos somos nós próprios quando nos colocamos em risco e não nos protegemos.

Já não deverá haver ninguém que não conheça pessoas infetadas, a continuar assim não haverá ninguém que não conheça uma vítima.

É triste saber que pessoas que estão bem, com saúde dentro do possível, podem ser levadas de nós a qualquer momento pelo descuido de alguém.

Ontem soubemos que a avó do meu marido está infetada, assintomática, não tem problemas de saúde relevantes, mas tem 86 anos, durante os próximos dias estaremos em suspenso, porque um assintomático pode ter sintomas a qualquer momento e tudo pode mudar.

Sinto uma revolta enorme com estas situações em que as pessoas se colocam deliberadamente em perigo.

Ondas há muitas, já os nossos familiares e amigos são únicos e só têm uma vida.

 

Estamos no meio de um turbilhão e os telejornais dão relevância às eleições de um clube, nem sequer o OE teve relevância. Enfim, não é um país triste, é um país de tristes.