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Língua Afiada

A morte, essa coisa mal-educada... #2

A morte, essa coisa mal-educada...

Que chega sem ser convidada.

Não bate à porta! Não avisa!

Entra e instala-se.

Ocupa um espaço gigantesco

e tudo passa a girar à sua volta.

Não há coisa mais egocêntrica,

todas atenções recaem sobre ela.

E é vão o nosso esforço…

Nada a fazer se não conviver com a maldita.

Não escolhe dias, nem idades,

simplesmente aparece e permanece,

sem opção, escolha ou preferência,

e assim reside nas nossas vidas.

Vida que nos fluiu pelas mãos,

cuja única certeza é a morte,

que um dia sem aviso ou notícia

baterá também à nossa porta.

 

 

Quando o telemóvel tocou às 8h da manhã, bastou-lhe olhar para o ecrã para adivinhar as más notícias. Era demasiado cedo, especialmente sendo um domingo, para receber uma chamada da A.

As palavras trocadas foram escassas não havia muito a dizer, apenas houve a confirmação que a garganta seca adivinhava.

Enquanto o senti estremecer, encolhi-me nos lençóis, não havia nada a dizer.

O dia que amanheceu soalheiro ficou cinzento e frio.

E a saudade, as recordações do passado e as lembranças do futuro instalaram-se no pensamento, adivinha-se a despedida.

 

Já tinha muita idade.

Já tinha vivido muito.

É a lei da vida.

 

Gostava de saber quem define que já se viveu muito ou pouco?

Existirá alguma idade que nos faça lidar melhor com a morte?

A verdade é que o avô já se tinha desapegado da vida, mas a vida não se tinha desapegado dele, havia ainda tanto para ele viver.

Não contávamos, tinha-nos pregado um susto há umas semanas, mas pensamos que tinha saído ileso, que mais uma vez a sua força tinha prevalecido, estava a melhorar, estava a melhorar…

Tínhamos tanto orgulho da sua força, da sua resiliência, da sua capacidade de recuperação.

Mas teve uma recaída e o seu coração não resistiu, foi a última batalha que travou.

Não esperava escrever um texto com este título tão cedo, mas a vida prega-nos estas partidas e 6 meses depois da avó partiu o avô do meu MQT.

Mais uma vez antecipo as saudades, a pena de ele não poder estar presente em tantos momentos que gostaria que ele estivesse. Sei que ninguém vive para sempre, mas gostava tanto de o ter cá por mais alguns anos, junto de nós.

 

Mais uma vez estou aqui para ti Amor, mesmo não sabendo o que te dizer…

Não existem palavras, apenas gestos de conforto.

Sabes que adotei os teus avós como meus no momento em que os conheci.

Partilho contigo esta dor como já partilhamos tantas outras.

Este ano não foi fácil para nós, mas 2016 será melhor, tenho certeza disso.

Temos mais uma estrela a olhar por nós.

Beijinho grande Amor.

Até já avô Manuel.