Crescer magoa
Crescer magoa, não os ossos mas a alma.
O fardo da vida estilhaça-nos as fantasias.
A realidade dilacera as ilusões.
Sentimos a dor de cada objetivo perdido, de cada sonho desfeito em nada.
Certezas que passam a insignificâncias.
Verdades basilares que se transformam em mentiras descaradas.
Valores que passam a mesquinhezes.
Importâncias que se revelam pequenezes.
Camada a camada esfolamos a pele interna da inocência.
Sangramos um sangue inócuo e transparente.
Não se vê, sente-se, a escorrer pelas veias do pensamento.
Crescer magoa, sangra sem sangrar.
Abre feridas invisíveis e terríveis
As piores de curar, algumas incuráveis
Ficam como chagas abertas na memória
Que trazemos presente todos os dias.
Crescer magoa, não a carne mas a alma.