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Língua Afiada

É na era da partilha que somos mais egoístas

Num mundo em que as coisas só fazem sentido quando divulgadas, onde uma aventura só parece real se estiver partilhada nas redes sociais, onde as palavras mais usadas num grupo de amigos são: partilha, gosto e comenta.

Soa mal dizer que vivemos numa era de egoísmo, mas a verdade é vivemos.

 

É um paradoxo:

 

- A partilha serve apenas para nos gabarmos;

- Os gostos apenas para nos afagar o ego;

- Os comentários só são bem-vindos se forem um reforço, qualquer crítica, mesmo que construtiva, não é admitida.

 

As pessoas nunca tiveram tantos amigos mas sentir-se-ão mais acompanhas?

 

Estou a generalizar, mas se vivemos numa sociedade centrada no consumo é natural que tudo o resto seja delegado para segundo plano.

Somos formatados para consumir, para desejarmos o que não podemos ter ao mesmo tempo que nos dizem que possível, basta lutar por isso, fazem-nos crer que nada é inalcançável, às vezes até explicam como é fácil, parece que existem fórmulas mágicas para tudo.

Claro que ninguém esclarece que não somos todos iguais, nem todos temos as mesmas capacidades, uns são mais astutos, outros mais inteligentes, outros mais persistentes, como se a fórmula fosse infalível, o sonho dá lugar à comparação, à descrença e depois à cobiça e à inveja.

Ninguém percebe que estão tão centrados em si próprios que nem conseguem enxergar o que os outros têm de diferente deles.

Há uma busca constante em ser reconhecido, em ser o centro das atenções, não importa bem como, o que interessa é ser diferente, especial, se para isso tivermos de fingir que somos estranhos, mais cultos, mais artistas, não há problema, elabora-se uma personagem e representa-se.

As pessoas especiais notam-se a léguas, não são artificiais, nem construídas, são apenas especiais e distintas, umas porque são inteligentes, outras apenas porque são divertidas, outras porque são genuinamente boas.

 

Se em vez de olharmos para o nosso umbigo tentássemos perceber o que faz com que algumas pessoas tenham mais sucesso, seriamos mais inteligentes, mais inteligentes seriamos ainda se tentássemos olhar através das aparências, ver mais longe, perceber realmente o que se encontra por de trás da cortina.

Não há sucesso sem esforço, não há felicidade constante e até para se ser feliz é preciso lutar.

Temos duas escolhas viver a vida a questionarmos e a sentirmo-nos indignados com os outros, fechados na nossa concha, ou decidirmos ser felizes e partilharmos essa felicidade, essa é a verdadeira partilha, a de nós próprios e não de aquilo que temos, fazemos ou aparentamos.

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