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Língua Afiada

O discurso do Presidente

O Presidente da República demitiu ontem em direto a Ministra Constança Urbano de Sousa, não foi diretamente mas foi realmente o que aconteceu e hoje a ministra apresentou a demissão e António Costa foi forçado a aceita-la.

Marcelo Rebelo de Sousa pediu desculpas a todos as portuguesas e portugueses, demonstrou pesar, solidariedade, compaixão e empatia, sentimentos e valores desconhecidos dos representantes do Governo e do próprio primeiro-ministro.

 

Aconselhou (mandou) o Governo pedir desculpas aos portugueses e deu-lhes uma lição de humildade, civismos e humanismo.

No início do discurso por momentos pensei que iria dissolver o Governo, não o fez, no entanto, não deixou de lembrar que a Assembleia da República tem esse poder e pode usar a moção de censura para o fazer, diria até que deu o seu aval para o fazerem.

 

Lembrou o Governo a necessidade de ouvir aqueles que não têm a mesma capacidade mediática e de negociação pública uma achega que serve também para o PCP que parece só se preocupar com uma franja particular da população.

Marcelo exigiu ainda que se faça da floresta uma prioridade e que se delineie um plano a longo-prazo que atravesse mandatos e Governos.

Marcelo deu assim voz a milhões de portugueses que desejam que se termine este jogo do empurra e que se façam mudanças realmente profundas com efeitos visíveis e a longo prazo.

O discurso do Presidente fica marcado pelas lições a António Costa.

 

“Por muito que a frieza destes tempos cheia de números e chavões políticos convidem a banalizar, estes 100 mortos não mais sairão do meu pensamento, com o peso enorme na minha consciência como no meu mandato presidencial”.

 

“Olhar para os dramas de pessoas com carne e osso, com a distância das teorias, dos sistemas ou das estruturas, por muito necessário que possa ser, é passar ao lado do fundamental na vida e na política”.

 

“A melhor ou a única forma de pedir desculpa às vítimas, e de facto é justificável que se peça desculpa, é por um lado reconhecer com humildade que portugueses houve que não viram os poderes públicos como garante de segurança.

 

“Pode e deve dizer que reformar a pensar no médio e longo prazo não significa termos de conviver com novas tragédias até lá chegarmos.”

 

Palavras completamente opostas ao discurso e posição do primeiro-ministro.

Marcelo Rebelo de Sousa deixou ainda uma achega aos restantes partidos da geringonça.

 

“Mais de 100 mortos em menos de 4 meses são uma interpelação política."

 

Uma interpelação política que ninguém parece disponível para fazer.

Pessoalmente não sinto confiança e crença num primeiro-ministro que encara a morte de mais de 100 portugueses com tamanha frieza e normalidade.

Perdeu para mim o respeito quando anuiu com as palavras do Secretário de Estado, permitindo que os portugueses se sentissem inseguros e abandonados à sua sorte num dos momentos mais difíceis na longa história deste país, depois de duas tragédias inigualáveis e aterradoras.

Perdeu toda a legitimidade para governar quando nos avisou para estarmos preparados para vermos esta tragédia novamente repetir-se com uma passividade e serenidade ao nível de um sociopata sem remorsos e escrúpulos.

 

Pergunto-me se são estes valores que queremos ver no poder?

Eu não quero, tenho por isso pena que o discurso do Presidente por mais duro que tenha sido não tenha sido mais direto e concreto, pois se Marcelo Rebelo de Sousa não confia no Governo que faça uso do seu poder e o destitua.

Bem sei que instabilidade política e novas eleições não é de todo o cenário que este país precisa, mas desconfiança, descrença e insegurança também não.

Se António Costa não fosse a personagem que é, se tivesse um pouco de decência e sentido de Estado apresentaria ele a demissão, isso seria o mais louvável, pelo número de vítimas e pelo discurso, pela atitude que não é digna deste povo.

 

A tragédia dos incêndios fica marcada por duas conclusões:

 

A incapacidade política e a irresponsabilidade de António Costa.

A incapacidade de o Presidente chamar a si a responsabilidade de responsabilizar.

 

No fundo vivemos num país em que a culpa morre solteira e onde os anéis do poder são intocáveis e por mais palavras, discursos, diretas e indiretas a verdade é que ninguém quer ser responsável por ataca-los diretamente.

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