O que olhos não veem o coração sente
Despedi-me cansada, coberta por uma estranha inquietude plácida, na contradição do querer desligar e do querer estar presente, no limbo entre a necessidade de viajar para longe e a vontade de ficar.
Não há nada pior do que partir com o sentimento que deveríamos permanecer, há uma luta constante entre o nosso lado racional e o nosso lado emocional, deixei-me guiar pela razão.
É a segunda vez que parto de coração apertado para uma viagem, foi desde então que entendi o que é estar longe com as mãos atadas e coração em sobressalto, sem poder tocar, abraçar, beijar quem mais queremos.
É difícil, é cruel e quem está presente não entende, não pode entender, porque só sentindo é que se sente.
É uma forma de sofrer diferente, a que se sofre à distância, mais solitária, mais inconstante, a tristeza vem em ondas como a saudade, sobressalta-nos a qualquer instante, não raras ocasiões nos momentos mais plenos de felicidade, naqueles que deveriam ser perfeitos não fosse a imperfeição cravada como um espinho no coração.
Assalta-nos também o remorso, uma espécie de culpa pela ausência, um sentimento de contrição.
Os sorrisos não são verdadeiramente sorrisos, há uma sombra invisível que nos sobrecarrega o semblante, uma névoa cobre-nos o olhar, estamos a sorrir, mas a nossa alma ferida transparece constantemente o seu lamurio.
Não é preciso estar presente para sentir, não é preciso os olhos verem para o coração sentir, os sentimentos acompanham-nos sempre, podemos fugir de tudo, menos do que sentimos.
Não somos nada mais do que aquilo que sentimos, experienciamos e vivemos, seja perto ou longe, somos um conjunto de sentimentos e emoções.
A distância não me fez sentir menos, não me fez sofrer menos, chorar menos ou ter menos saudades, estiveste sempre no meu coração e no meu pensamento.
Despedi-me de ti com um até logo, recuso dizer-te adeus, afinal estarás sempre comigo.
Até breve.