Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Língua Afiada

Os curtos minutos das minhas horas

Às vezes sinto que vivo numa constante luta contra o tempo.

Não é medo de envelhecer, é medo de não conseguir alcançar tudo aquilo a me propus e proponho todos os dias.

 

Luto todos os dias contra a minha vontade de ficar na cama e a obrigação de me levantar a uma hora certa para cumprir um horário que não escolhi, que não se adequa ao meu relógio biológico, que me torna improdutiva e me põe de mau humor.

 

Corro todos os dias contra os segundos, os minutos das horas que teimam em voar enquanto respondo a emails, atendo telefones e fico sem tempo para pensar, estruturar o trabalho e criar valor.

 

Tento abstrair-me do trânsito que não flui, das faltas de civismo que vejo constantemente, mordo os lábios e digo impropérios e canto a pleno pulmões para espantar os fantasmas que com a sua má educação teimam interromper os meus pensamentos.

 

A azáfama de chegar a casa é um misto de alegria com correria, entre um beijo e um abraço apertado, festinhas e saudações, planeio cuidadosamente as horas seguintes para que entre as tarefas domésticas, o jantar e as 8h de sono obrigatórias, haja tempo para descansar e descontrair. Gostava tanto de não precisar de dormir tanto.

 

Suspiro pelo fim-de-semana apenas para o ver desvanecer entre os mil e um planos que faço, entre aqueles que concretizo e os que se adiam, há lamentos, constatações, devia ter ligado àquela amiga, tenho de combinar um jantar com aquele casal, esqueci-me de comprar aquilo e ainda tenho de comprar isto, devia ter feito exercício, devia ter dormido mais o fim-de-semana já passou e estou cansada.

 

Ah as férias, esses dias quase utópicos pelos quais suspiro o ano inteiro, nunca mais chegam e depois esfumam-se tão rápido, precisamente naquele instante em que percebo que relaxei, estou livre, estou em comunhão com mundo, inspiro profundamente e estou em paz, só para perceber que essa paz está exatamente a terminar.

 

Mas que sorte é esta que me impele para a frente, que me apressa? Parece que estou sempre com urgência para alguma coisa, estou sempre sem tempo, lamentando nos intervalos desse escaço tempo que o tempo passe tão rápido.

É stress dizem-me! Mas que stress ter tanto stress.

 

Abranda penso mentalmente, mas como? Como abrandar no meio de um turbilhão impaciente, numa roda angustiante, numa lida constante, num dilema de prioridades, de pressões e de estereótipos parvos nos quais não desejei estar incluída.

 

E o tic-tac não para, o tempo não para, o cérebro também não. Entre o desejo de abrandar e a rotina de acelerar os dias vão passando sem pedir licença.

 

O único consolo que tenho na loucura dos meus dias é não envelhecer sozinha, seguro a tua mão e olho-te nos olhos, são apenas segundos, podem parecer uma insignificância nas 24h do meu dia, mas esses breves instantes que mergulho no azul dos teus olhos contêm todo o tempo do mundo, todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos, o rio do meu tempo corre em direção ao mar do teu e juntos o nosso tempo é infinito, não tem princípio nem fim, pois o nosso entreolhar contém toda a eternidade.

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.