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Língua Afiada

Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte XI

Duvido que não conheçam ainda as aventuras e desventuras da Ísis, se não conhecem não sabem aquilo que estão a perder, têm de ir já ler os últimos capítulos e depois voltem aqui.

 

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Chovia violentamente em Lisboa naquela manhã de Fevereiro, no aeroporto André pensava que a sua vida estava desgraçada, tinha abandonado o amor da sua vida por uma mulher que tinha o traído e aproveitado da sua boa vontade. Partia de Lisboa com o coração despedaço desejando nunca mais regressar.

Em Paris os dias foram-se tornando menos cinzentos à medida que retomava o contacto com amigos e conhecidos e com a galeria de arte, o seu grande projeto, tinha deixado a sua gestão a uma boa amiga e os negócios corriam de feição, André facilmente se inteirou de tudo e rapidamente foi absorvido pelo seu sonho.

Nem queria acreditar quando olhou para o visor do telemóvel e viu o número da irmã de Maria, o que quereria agora?

- Sim? Raquel não …

- André houve com calma, a minha, a minha irmã faleceu…

- A Maria morreu? Como? Quando?

- Hoje de manhã André, sentiu-se mal foi levada de imediato para o hospital, mas não havia nada a fazer, teve uma hemorragia interna, não houve nada que os médicos pudessem fazer.

- Parto para Lisboa assim que tiver voo disponível, possivelmente só amanhã…

André tinha a irmã Sara, a única pessoa da família com quem tinha mantido o contacto, à sua espera. Abraçaram-se e ambos choraram.

- André tens de te preparar para enfrentares os nossos pais e os pais da Maria, toda a gente está contra ti, os pais da Maria culpam-te, não querem aceitar a morte da filha.

- Mas se foi uma hemorragia que culpa tenho eu?

- Nenhuma eu sei, mas as coisas estão complicadas.

Foi mal recebido pelas duas famílias a sua e da Maria, que tentou mesmo impedi-lo de ver a bebé. André poderia ter aproveitado para contar a verdade, mas honrou a sua decisão e aguentou a fúria dos ex-sogros, dos pais e do irmão, tudo para que Maria, agora morta, não tivesse a sua imagem denegrida. Não fazia ideia quem era o pai da criança, apenas que era casado, não podia confiar nele, e também não podia confiar nos pais de Maria, uns burgueses caquéticos e retrógradas, não sabia o que fazer.

Assim que Raquel lhe entregou aquela bebé de olhos ternos e feições tão angelicais não teve dúvidas, mesmo não sendo da sua filha, aquele rosto seria a sua razão de viver.

Depois de um grande alvoroço e para desgosto dos avós, André partiu de Lisboa com a filha nos braços, a lei estava do seu lado.

 

*

As complicações pós-parto de Ísis levaram-na ao coma, não se sabia se iria recuperar o prognóstico era reservado.

Entretanto, Ricardo tinha assumido o papel de pai de Dinis e o papel de marido tomando todas as diligências. Laura, a irmã mais nova de Ísis que antecipou a sua ida para Londres por causa do estado de saúde da irmã estranhou a sua presença, mas Ricardo sossegara-a dizendo que antes da complicação ele e Ísis teriam chegado a um entendimento.

*

Ísis começou por ouvir uns sons estranhos, sentiu depois o corpo dormente, a boca seca, abriu os olhos e percebeu que estava num quarto de hospital, demorou uns segundos a recordar-se do que tinha sucedido.

Entretanto Ricardo apercebeu-se que tinha despertado.

- Ísis meu amor. Consegues ouvir-me?

- Ricardo… Onde está o meu filho? O que aconteceu?

- Calma meu amor, tiveste uma complicação pós-parto, tiveram de te operar, fizeste uma paragem cardiorrespiratória durante a operação e entraste em coma.

- Em coma? Quanto tempo? Onde está o Dinis?

- Está na nossa casa com a tua irmã Laura, ele está bem, estamos a cuidar bem dele.

- Na nossa casa? Ricardo não estou a entender nada.

- Calma. Disse-lhe afagando-lhe o rosto com ternura.

- Aluguei um apartamento mais espaçoso, o teu era demasiado pequeno, a Laura tem-me ajudado a cuidar do Dinis, tem sido acompanhado e é um bebé feliz e saudável.

- Mas Ricardo, eu não sei se ele é teu filho ou do A…

Ricardo calou-lhe a boca com um beijo.

- Ísis fiz contas e é muito improvável que o filho seja do André, mas mesmo que seja eu não quero saber.

- O André deixou a Maria com um bebé recém-nascido nos braços e fugiu para Paris, regressou apenas para levar a filha depois do falecimento de Maria, cortou relações com a família e isolou-se, queres mesmo que ele seja o pai do teu filho?

- A Maria morreu? Como? O André abandonou a filha e depois levou-a com ele? Isso não faz sentido nenhum.

- Ísis a vida e as atitudes do meu irmão nunca fizeram sentido nenhum para ninguém, ele é muito impulsivo e emocional, não podes confiar nele.

- Já disse a todos que o filho é meu, já o registei como meu, por favor não me tires esta dádiva. Deixa-me fazer-te feliz. Podemos ser felizes os três.

- Preciso pensar Ricardo, isto é demasiada informação, quero ver o meu filho.

 - Vou pedir a Laura que o traga.

Ísis não sabia o que fazer, não gostava da atitude de Ricardo mas a verdade é que ele tomou as rédeas da situação, não a abandonou, nunca o fez, por outro lado André estava sozinho agora, poderiam ser felizes, mas ela necessitava de segurança não para si mas para o seu filho, Ricardo fazia sentir segura.

As suas dúvidas dissiparam-se quando viu como Ricardo cuidava, mimava e amava Dinis, o seu coração de mãe falou mais alto e consciente que estava a colocar a felicidade dos outros acima da sua concordou com Ricardo.

- Ricardo eu não sei se algum dia amar-te-ei verdadeiramente, mas prometo fazer os possíveis para te fazer feliz, serei uma esposa dedicada.

- Ísis fazes de mim o homem mais feliz do mundo prometo que seremos felizes.

Casaram-se em Setembro desse ano numa cerimónia intimista na quinta da família, mas continuaram a residir em Londres, visitando a família no Natal e no Verão.

 

*

O casamento corria bem, poder-se-ia dizer que eram um casal feliz, mas Ísis vivia angustiada, aquela incerteza moía-lhe o espírito, o Dinis quatro anos quando decidiu fazer o teste de ADN, não contou a ninguém, foi buscar pessoalmente a carta com o resultado à clinica, mas não foi capaz de a abrir aguardou pela noite e quando Ricardo e Dinis dormiam profundamente sentou-se diante da lareira, respirou fundo e abriu. Esboçou um sorriso, atirou a carta no fogo e deixou-se ficar por longos minutos a contemplar as chamas.

 

*

Os primeiros anos decorreram com normalidade, Ísis manteve a sua promessa e foi sempre uma esposa dedicada, mas Ricardo com o passar do tempo ficou cada vez mais distante, Ísis estava impedida de ter mais filhos, não podendo dar-lhe a família grande que tanto desejava, sentia-se amado pela metade, incompleto, começou a duvidar se teria tomado a decisão acertada.

O seu casamento era mantido pelo amor imensurável que sentia por Dinis, mas Dinis, agora com 18 anos, estudava fora do país e a casa estava irremediavelmente vazia. Ricardo começou a dar cada vez menos atenção a Ísis, passava muitas noites fora e viaja sozinho, Ísis não se incomodava e quanto menos ela se incomodava mais Ricardo se sentia ferido.

 

Como terá sido a vida de André?

Será que Ricardo irá manter a promessa?

Afinal quem é o pai de Dinis?

Não percam os próximos episódios porque nós também não.

 

Cara Mula já tens trabalho para o fim-de-semana.

 

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