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Língua Afiada

Sobre a Catalunha em particular e a sociedade em geral

Será legítimo travar uma inconstitucionalidade com uma inconstitucionalidade?

Se o referendo não é constitucional, não tem legitimidade, seria necessário recorrer à violência para tentar impedir um ato que em teoria não produziria qualquer efeito prático?

 

Há muitos anos que estamos habituados a conhecer as fronteiras tal como elas são do lado ocidental da Europa, mas não é preciso recuar muito no tempo para que ver um mapa diferente a Leste, onde novos países emergiram e novas fronteiras se criaram.

 

Fará sentido defender à lei da força uma fronteira contra a vontade do povo?

Qual a justificação?

Que a fronteira foi assim definida há muito tempo? Se tivesse sido recentemente como olharia o mundo para esta reivindicação?

Medo que se estabeleça um exemplo?

Será porque não faz sentido criar novos territórios soberanos quando caminhamos para uma Europa sem fronteiras? Mesmo quando alguns países estão a sair?

 

O que se passou na Catalunha não se coaduna com a liberdade que se apregoa na Europa, o uso da força e a intransigência não fazem parte da nossa realidade.

 

O que significa?

Que só temos liberdade até ao momento que atacamos os poderes instalados?

 

As pessoas necessitam do sentimento de pertença, necessitam de se identificarem com o local e com as pessoas onde vivem e com quem as governa, os passos dados para a globalização foram todos dados no sentido tecnológico e económico, esqueceram-se da componente social.

Estarão as pessoas preparadas para serem globais, para se identificarem como cidadãs do mundo e não de um país, de uma localidade?

 

Depois da tendência para a globalização estamos a assistir a um movimento inverso, o regresso às raízes, à história, ao legado, esta tendência encontra-se por toda à parte desde a preferência ao comércio tradicional, à escolha de produtos biológicos e de agricultura sustentável, passando pelo Turismo que leva as pessoas a procurarem experiências únicas próximas das culturas locais.

Quando os laços sociais e familiares se desvanecem a olhos vistos, as pessoas têm ainda mais necessidade de se identificar com algo, se lhe tiramos a cultura, o que resta?

A extrema-direita tem sabido aproveitar esta lacuna, explorando este desejo de identificação e proteção da cultura.

 

A sociedade e as ciências sociais e humanas têm sido desvalorizadas constantemente ao longo dos anos, ficando relegadas para um terceiro plano depois das ciências económicas e das científico-naturais. Estamos muito concentrados em criar meios de subsistência financeira e melhoramento da saúde, em descobrir o espaço, mas não cuidamos do essencial, do bem-estar psicológico.

 

Quando a sociedade não é funcional nada mais importa, pois é apenas uma questão de tempo até existir um colapso geral e não há garantias que a mudança que ocorrerá será para melhor, pelo contrário, a experiência mostra-nos que tende a regredir e depois serão precisas várias gerações para recuperarmos os valores e os direitos perdidos.

 

O que aconteceu na Catalunha e o crescendo dos movimentos de extrema-direita devem servir para refletir e tomar medidas para que não se faça uma inversão perigosa na história, para que o individualismo de uma sociedade não se sobreponha ao sentimento de igualdade global.

Ainda nos faltam dar largos passos para a igualdade, não vamos reverter o rumo a meio do caminho.

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