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Língua Afiada

Aos comentadores iluminados

Começo a desconfiar que algumas pessoas que leem este blog não leem realmente aquilo que escrevo.

Uns parecerem ler o princípio e o fim dos textos, minha culpa, ninguém me manda escrever textos tão longos, não raras as vezes questionam situações que foram escrutinadas no meio do texto, no meio é que está a virtude, já diz o ditado.

Outros parecem ler nas entrelinhas, mas leem sempre coisas que eu não escrevi porque não pensei, por hábito aqui escreve-se o que se pensa, outro erro meu. Deve-se escrever sobre os mais variados temas sem exprimir uma opinião porque nunca se agrada a todos.

Outros descobrem novos significados, novas causas, uma simples frase ganha todo um contexto novo nas mentes criativas que me leem, fico sempre surpreendida com a capacidade de invenção das pessoas, julgava-me assertiva, nada disso o que escrevo é muito ambíguo e subjetivo.

Mas os que eu gosto mais, os que me dão mais pica são os que não concordam comigo e me tentam dissuadir, mais uma vez culpa minha, pensava que exprimia de forma clara a minha opinião, mas mais uma vez falho redondamente, há sempre quem ache que afinal eu não fui suficientemente clara.

 

Não fosse ser uma grande chatice a aprovação de comentários já a tinha ativado, mas é uma chatice ter de aprovar o que as pessoas escrevem, especialmente quando não aprovo, entenderam o trocadilho?

Felizmente os comentários parvos são uma pequena minoria.

Ressalvo que gosto de discutir temas e pontos de vista, a troca de opiniões de forma civilizada é uma das coisas que mais gosto de fazer.

Há pessoas que me comentam frequentemente com quem nem sempre concordo e com quem me dá especial prazer debater os mais variados temas, este texto não é para vós, é para os que caem aqui de paraquedas e que por lerem um texto já acham que me conhecem desde que usava fraldas.

Senhores menos, muito menos, este blog é o reflexo da minha opinião não é lei, doutrina ou sermão.

Passem bem.

Pedras da vida transformam-se em areia e pó.

Construímos castelos, muralhas, barreiras, verdadeiros monumentos colossais sob os rochedos da nossa personalidade com as sólidas pedras que cimentamos com as certezas que julgamos eternas.

Ao longo do tempo a nossa aldeia é fustigada por intempéries, noites de tempestade, dias tórridos, ventos frios do norte e tempestades de areia do sul.

Pedras caem, telhados levantam, abrem-se fendas nas paredes, estalam-se vidros, madeiras racham, mas a base sólida e firme aguenta-se estoicamente, reconstrói-se pedra sob pedra com o mesmo cimento das convicções de sempre.

Até um dia um forasteiro nos bate à porta, nos encanta com o seu sorriso e bem falar, deixamo-lo entrar, amigos nunca são demais, e todos gostamos de ouvir novas histórias e aventuras.

Um dia notamos uma fenda do alto da torre mais alta até à base, acorremos a cimenta-la, mas o cimento é fraco, não aguenta a torção e desfaz-se em pó. Começam a ruir pedras, primeiramente cai o telhado, depois a primeira torre, a mais alta, a mais orgulhosa, aquela que refletia o nosso espírito, está no chão arrasada.

Tentamos salvar o que podemos, mas a ruína das edificações é como uma peste, um cancro que se espalha a todos os edifícios.

A base abala-se, de sólida e forte passa a instável e fraca, não é capaz de sustentar nenhum dos edifícios, nem o mais simples e mais leve, todos estão a ruir. Abrem-se buracos no chão, escuros, densos e sem fundo à vista que sugam todas as certezas, todas as convicções, levam-nos a força e a vontade.

No meio da incompreensão da desgraça avistamos uma máquina infernal, aspira todas pedras que encontra, faz um ruído ensurdecedor, numa visão aterradora vemos a máquina a expelir areia e pó, a areia escorre pelas fendas, o pó dissipa-se na atmosfera.

Todo o nosso mundo está desfeito em areia e pó. Tudo o que julgávamos ser sólido e robusto é agora um punhado de areia e pó, todas as nossas convicções são abaladas, todas as certezas deixam de o ser, até a nossa personalidade fica despida e frágil, sentimos desnudados de convicções e a insegurança instala-se como um veneno que nos consume.

Fitamos a máquina infernal e vislumbramos um sorriso, é o forasteiro vitorioso satisfeito e feliz com a sua conquista.

 

Ao longo da nossa vida encontramos diversas britadeiras com nome e rosto, verdadeiras máquinas de destruição, más e cruéis, feitas de inveja e egoísmo, que chegam de soslaio, minam o terreno e depois esperam com toda a calma do mundo que tudo desabe.

É necessário ir ao mais âmago de nós, ao cerne, à nossa essência, para construirmos tudo de novo, não há restauro possível, não importa, não queremos reconstruir queremos edificar de raiz castelos mais fortes, mais baixos, mais reais, mais largos, assentes numa base maior e mais sólida, com uma vigilância mais cerrada e constante.

Da areia fazemos pedras e do pó cimento e erguemos uma fortaleza que ninguém consegue derrubar.

 

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Ao pássaro

Pássaro que me despertaste

Na madrugada desta matina

Que com o teu bico cantaste

Uma bela melodia matutina

 

Pássaro rebelde e madrugador

Quebraste a calma do meu sono

Orgulhoso e vaidoso trovador

Findaste o meu calmo sonho

 

Não alvoreças mais bandido

Esconde bem essa tua altivez

Descansa o teu fino zumbido

 

Sejas rouxinol ou pintassilgo

Se cantas mais uma única vez

Estarás para sempre perdido

 

 Escrevi este singelo soneto para ti querido pássaro que me acordaste às 6h.

Para te avisar de forma subtil que é melhor não fazeres o mesmo amanhã.

Chilrear só a partir das 8h de segunda a sexta, sábados e domingos a partir das 10h.

Estamos combinados?

Melhor assim.

Amigos como dantes.

 

Às 6h da manhã soou mais ou menos a isto.