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Língua Afiada

A última introspeção do ano. Que 2021 seja um ano bom.

Sinto um aperto inexplicável no peito, ou será no coração? Dizem que o coração não dói, é mentira já senti o meu doer muitas vezes, demasiadas vezes para saber que dói mais do que qualquer outro órgão, é uma dor diferente, é talvez a pior das dores.

Impossível de compreender esta culpa, sem culpa, conscientemente, racionalmente não posso ser culpada de me sentir magoada, injustiçada e renegada, são sentimentos demasiado fortes, demasiado avassaladores para serem ignorados ou arrumados numa gaveta recôndita do meu cérebro, a mágoa é maior do que qualquer outro sentimento e é impossível de esquecer.

Durante as alegrias da vida é fácil ignorar as ações que nos prejudicam, desvalorizamos, justificamos até o injustificável para acalentar a mentira confortável que está tudo bem, vamos vivendo em banho-maria, no morninho para que tudo passe sem grandes percalços, sem questões, sem cobranças, afinal as coisas são como são, as pessoas são assim e não mudam, frases feitas que repetimos em surdina para suportarmos comportamentos e atitudes que nos ferem a alma e nos dilaceram o coração.

É nos momentos de fragilidade, de necessidade de apoio e de carinho que percebemos que a realidade paralela que construímos para conseguirmos lidar com a verdade se desfaz como um castelo de cartas, o que é assente em mentiras, meias-verdades e desculpas incoerentes não resiste a uma tempestade, o vento passa e as cartas espalham-se pelo chão, rasgadas, mutiladas, húmidas, desfeitas colocam a nu a sua fraqueza e inconsistência.

A nossa idealização termina abruptamente, já conhecíamos os factos, já sabíamos que tudo era uma frágil mentira assente nos nossos ideais e sonhos, mas não é por isso que é menos sofrido ou doloroso para nós.

Martelam-nos novamente as frases feitas, o importante é sermos fiéis a nós próprios, devemos afastar-nos do que nos faz mal, é preciso aceitar e seguir em frente, estas frases e outras são verdade, mas desfazem-se na nossa boca como areia seca, estéril e enxabida, em nada reconfortam, apenas nos fazem sentir mais impotentes e incapazes.

O Natal, o final do ano, fazem-nos fazer balanços, planos, análises e projetos, num ano tão diferente, tão mau, tão cruel e tão atípico, os balanços são ainda mais profundos, mais introspetivos e mais penosos.

Afinal este vírus não mostrou o melhor de nós, deu visibilidade ao pior da sociedade, das pessoas, do mundo, agravou as desigualdades, demonstrou a nossa incapacidade de fazer sacrifícios em prole dos mais frágeis, mostrou quão egoístas somos e quão invertidas estão as prioridades do mundo.

Permanece para mim um mistério como o ser humano convive tão pacificamente com todas as desgraças e injustiças que se vivem no mundo, mas se dúvidas existissem que o Homem é um ser completamente egoísta, o Covid-19 todas dissipou.

E é assim que me descentro de mim, dos meus problemas, dos meus conflitos internos, olho à volta e percebo que não tenho tudo, mas o que o que tenho é tanto, tão bom, tão maravilhoso, a minha vida não é perfeita, longe disso, não sou perfeita, sou o somatório de todas as falhas, decisões erradas, más escolhas com qualidades, decisões acertadas e caminhos certos.

A felicidade é uma escolha e escolho ser feliz, mas o dilema persiste, ser fiel a mim mesma e aos meus valores ou, mais uma vez, dar a outra face, fazer um esforço, construir castelos de cartas porque é isso que esperam de mim, que recue e que seja mais uma carta no baralho que por mais que se baralhe, corte, baralhe e corte quando chega ao momento de dar as cartas, o jogo é e será sempre o mesmo e sou sempre eu quem perde, não há como ganhar.

A todos desejo um Feliz Natal em segurança e com consciência.

Espero que 2021 seja um ano melhor, que o mundo se torne um lugar melhor, mais igualitário, mais humano e mais verde, parece um desejo de Miss, mas é a verdade, sonho com um mundo melhor, mas para isso as pessoas têm de ser melhores, por isso que em 2021 saibamos ser todos melhores pessoas.

Boas Festas

 

A ti meu amor, meu companheiro, meu amigo, meu suporte, meu chão, meu teto, meu mundo, desejo-te o melhor e que a garra e o amor que nos une seja cada vez mais forte.

Quando o Covid-19 nos bate à porta – Não, não é uma gripezinha

Começou com dores de cabeça, embora não seja habitual ter dores de cabeça, associei ao cansaço do trabalho acumulado com consecutivas noites mal dormidas. Ao terceiro dia acordo com uma espécie de ardor na garganta e uma dor intercostal, nevrítica, desconfiei que pudesse ser Covid-19 por causa da garganta, mas a dor parecia derivada de outra coisa, tomei um benurum e aguardei, como era sábado fiquei em casa, os sintomas amenizaram só para piorar no dia no seguinte.

No Domingo a este quadro juntou-se uma tosse seca, embora muito espaçada e uma pressão no peito, o nosso corpo não mente, percebi que algo de muito errado se passava no meu organismo, quase que sentia algo maligno a tecer uma rede dentro de mim, senti prostração, uma vontade inexplicável de vegetar, estar quieta, sossegada.

Não haviam muitas dúvidas do que se tratava, pelo que na Saúde 24 mandaram-me imediatamente realizar teste, era Domingo, só consegui realizar o teste na segunda-feira e o resultado só chegaria na quarta-feira, mas o diagnóstico estava mais que dado, estava com Covid-19.

Quando às 7:30h da manhã a mensagem chegou nem me dei ao trabalho de alcançar o telemóvel, foi o meu marido que leu o resultado, eu não precisava da mensagem, sabia bem o que sentia e a minha única preocupação era não piorar ao ponto de precisar de oxigénio.

O Moralez estava com esperança que pudesse não ser Covid-19, não sei se era esperança ou querer que não fosse, mas a nossa vontade não comanda a nossa saúde. O próximo passo foi testar a ele e à nossa filha, ele mesmo com sintomas idênticos aos meus, embora um pouco mais ligeiros, testou negativo, a nossa filha sem sintomas testou positivo.

Confinamento, isolamento e esperar que o organismo combata o vírus sem consequências.

Os últimos sintomas a aparecerem foram o nariz congestionado e a perda de olfato e paladar, uma sensação muito estranha não conseguir cheirar absolutamente nada, rigorosamente nada, não é a maior desgraça do mundo, nem sequer é o sentido mais importante, mas a vida é muito diferente sem olfato, felizmente o meu foi recuperado poucos dias depois, voltou gradualmente.

O Covid-19 não é uma gripe, nem nada que se pareça, já tive gripes daquelas bravas que me atiraram à cama durante três dias, com dores no corpo e febre alta, tudo combatível com benurum ou griponal, passando a publicidade, é uma bomba mas uma bomba que resulta e quando necessário um anti-histamínico, com o Covid-19 a experiência é bem diferente.

Àqueles que dizem que isto se cura com benurum posso dizer-vos que o paracetamol às dores do Covid-19 faz cócegas, ajuda, mas não cura e não tira as dores e o mal-estar, para a pressão e dor no peito, respiração ofegante, fadiga constante e necessidade constante de respirar fundo para compensar a falta de oxigénio não há medicamento, há quando a situação complica o internamento para fazer oxigénio e nos piores cenários a ventilação.

Houve uma noite que senti que as coisas poderiam correr muito mal, como sempre que a minha filha chora levantei-me rapidamente e acorri ao quarto dela, estava inquieta, peguei-lhe ao colo e enquanto ela sossegava eu estava a acelerar, o meu batimento cardíaco estava acelerado, comecei a sentir suores frios, a sentir-me enjoada, fraca, impotente, pois por mais que pensasse que tudo correria bem, não sossegava, estava ali naquele limbo que se sente quando se está prestes a ter um ataque de ansiedade, mas não era ansiedade, era Covid-19.

A bebé sossegou, eu regressei à cama inquieta decidida que no dia seguinte acordaria melhor, esta situação repetiu-se novamente na noite seguinte, mas com menos intensidade, aos poucos a dor intercostal foi melhorando e a pressão no peito foi diminuindo e o alívio que é perceber que já não nos dói o peito quando respiramos fundo.

Como é possível termos necessidade de respirar fundo para compensar a nossa respiração e esse simples ato de respirar ser doloroso? É mau, muito mau, o segredo é manter a calma, mas ter consciência que há um ponto em que é preciso contactar o 112.

Tive um acompanhamento espetacular da minha médica de família e da minha enfermeira, sempre presentes, sempre muito atentas e preocupadas e sempre vigilantes, se sentires dificuldade em respirar tens de ligar o 112, não podes deixar uma situação dessas evoluir.

Felizmente não chegou a esse ponto, mas tive receio que pudesse chegar, sou saudável, não tenho qualquer doença diagnosticada, mas tive sintomas, sintomas dolorosos e assustadores.

Ninguém sabe o motivo de umas pessoas terem mais sintomas que outras, talvez um dia consigam entender o funcionamento deste vírus, o que sabem é que este vírus é altamente invasivo e contagioso e que se todos formos contagiados ao mesmo tempo viveremos um caos.

A pressão no SNS já é imensa, os números não param de aumentar, mas há quem prefira focar-se nos erros dos outros para se escusar de seguir as regras e as recomendações, perdoem-me mas só consigo apelidar essas pessoas de ignorantes e estúpidas.

Não se trata de concordar com tudo, não se trata de achar que as autoridades procederam bem e atempadamente, trata-se de fazer a única coisa que podemos fazer proteger-nos a nós e aos nossos o máximo que conseguirmos.

Podemos e devermos reclamar de como esta pandemia tem sido tratada, mas não é inteligente, nem prudente realizar manifestações e a acreditar em teorias negacionistas (convenientes) e de conspiração, neste momento a pandemia existe, é real e pode ser muito dolorosa, pode tirar vidas, a economia é importante, mas de nada nos servirá ter economia se não estivermos cá ou se tivermos de viver com a saudade dos nossos.

Para mim não importa a idade de quem morre, todos podemos morrer a qualquer momento por milhentos motivos, por milhares de doenças ou azares, será que só a mim me faz confusão que uma pessoa, mesmo que idosa, se vá devido ao Covid-19 por falta de cuidados?

Acham justo que se viva uma vida longa e se vá morrer de um vírus porque as pessoas escolheram que a sua vida vale menos do que a de uma pessoa jovem?

Custa assim tanto manter a máscara na cara e manter o distanciamento social? É assim tão importante fazer tudo hoje e agora colocando em risco o futuro?

 

 

P.S. Não foi confirmada a minha fonte (pessoa) de contágio, mas terá sido em contexto laboral.

Obrigatório ver – A vida no nosso planeta com David Attenborough

 

 

"Este documentário único conta a história da vida no nosso planeta através do homem que já viu mais da natureza do que qualquer outro", explica a Netflix.

Após dedicar a vida a relatar a vida selvagem, David Attenborough dá o seu testemunho sobre o nosso planeta, o seu relato é impressionante, avassalador, desolador, mas esperançoso, ainda estamos a tempo de travar o declínio da espécie humana, que segundo David Attenborough está muito próximo se não mudarmos o nosso comportamento.

Quando falamos de alterações climáticas e das suas consequências, pensamos sempre no planeta, nos ecossistemas e na extinção de diversas espécies, mas logo vozes se ouvem que o planeta não morre, regenera, com mais facilidade e mais rapidez do que se imagina, mas isso não quer dizer que todas as espécies o acompanhem nessa regeneração.

 Não é o planeta que está que causa, é a continuidade da espécie humana.

Do alto da nossa superioridade intelectual podemos achar que somos a espécie dominante, a mais forte, mas isso não é garantia que não possamos ser extintos, caminhamos a passos largos para sermos responsáveis pela nossa própria extinção e connosco arrastaremos milhares de espécies, mas não o planeta, esse continuará vivo muito para além da extinção dos humanos.

Este documentário ao contrário de tantos outros não extrapola, não conjetura, é o relato de uma pessoa que acompanhou de perto a natureza e vivenciou, experienciou ao vivo a sua degradação, a vida selvagem está gravemente ameaçada, mas a pressão que exercemos sobre ela todos os dias não acabará com a vida selvagem, acabará com a raça humana e livre de nós o planeta curar-se-á e novas espécies o povoarão e não tenho dúvidas que será um colorido de uma beleza estonteante de biodiversidade e evolução, mas que não estaremos cá para documentar.

Numa 1h e 30m tudo é explicado de forma simples e concisa, muitos dos mitos são desconstruídos e acredito que após a visualização deste documentário só mesmo os que preferem continuar na ignorância é que podem ignorar o maior problema, o maior desafio da raça humana e também a nossa maior oportunidade de evolução.

O mais interessante é David Attenborough dá-nos a solução, indica-nos o caminho para viver em harmonia com a natureza e a vida selvagem para evitar que um dia todas os locais outrora habitados sejam assim:

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Imagens atuais de Chernobyl- 30 anos depois da tragédia a Natureza reclama assim o seu território.