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Língua Afiada

12,64% - Quando o terceiro lugar é o primeiro

O partido AfD que se intitula a Alternativa para a Alemanha foi o grande vencedor das eleições, com um resultado histórico que coloca pela primeira vez a Extrema Direita no parlamento Alemão desde a Segunda Guerra Mundial, mais do que a percentagem e o número de deputados, o que é verdadeiramente assustador é verificar que o partido tem apenas quatro anos de existência.

Quatro anos em que com propostas e slogans populistas reuniram o apoio dos nazis e de todos aqueles que quiseram fazer do voto um protesto, entre os alemães extremistas, os revoltados, os eurocéticos e os inseguros somaram quase 13% dos votos.

13% parece parco, mas não nos podemos esquecer que foi esta mistura que elegeu Donald Trump, quando o descontentamento e a necessidade de protesto ultrapassa os ideais das pessoas estamos perante um perigo eminente.

 

Não há arma mais poderosa que o medo e o medo de perderem a identidade e o controlo do país, revoltando-se contra os imigrantes e propondo uma alternativa à União Europeia é uma ideia de futuro poderosa.

Esta vitória representa uma vergonha para a maioria dos alemães, por todo lado se formaram manifestações contra os resultados das eleições, mas representa sobretudo uma rutura com o passado, a Alemanha tentou durante anos distanciar-se do nazismo, uma redenção impossível para já, é um passado demasiado terrorífico do país, o que este resultado demonstra é que uma fatia considerável dos alemães estão dispostos a aproximarem-se do passado nazi para restaurarem o que acreditam ser a sua Alemanha.

 

Durante a campanha foi possível ouvir Alexander Gauland a enaltecer "o desempenho dos soldados" do exército de Hitler e alguns candidatos do AfD fizeram mesmo comentários revisionistas sobre os factos da Segunda Guerra Mundial e apelidaram Angela Merkel de "traidora da pátria", o partido questiona o arrependimento e diz que é hora de devolver a Alemanha aos alemães.

 

As crises, o descontentamento, a insegurança e a incerteza quanto ao futuro fazem com que as pessoas recuem aos instintos básicos, depois das necessidades fisiológicas a nossa segunda prioridade é a segurança, se pressentimos que esta pode ser afetada somos capazes de regredir até ao nosso estado mais primitivo para garantir a nossa sobrevivência.

O conceito de sobrevivência, segurança e bem-estar evoluiu muito ao longo dos anos, seria de esperar que o nosso instinto tivesse ficado relegado para situações extremas, mas o medo é um rastilho poderoso e faz com que o instinto, a necessidade de segurança se sobreponha à razão e à lógica.

 

Em períodos conturbados como o que atravessamos, especialmente após um período de franco crescimento e harmonia, aparecem naturalmente os ideais extremistas como salvadores da pátria, a história apresenta-nos diversos exemplos, alguns bem recentes, mas a Humanidade só tem memória do que vive, só acumula experiência do que experiencia e teimamos em não aprender com os erros do passado.

 

Nenhum sistema extremista resultou até hoje, a Democracia pode não ser a situação ideal, mas ainda não criaram nenhum sistema melhor e mais justo, o problema não reside no sistema democrático, reside no sistema financeiro, mas não interessa que as pessoas questionem o Capitalismo, pois independentemente do regime político o sistema funciona, adapta-se.

Nas eleições alemãs a vitória foi da memória que teima em esquecer a história, que teima em querer seguir um caminho que nunca conduziu a um futuro promissor ou brilhante, apenas à destruição, à exclusão, à guerra e à desolação.

 

Em política nunca os fins justificaram os meios, é bom que os cidadãos europeus tenham sempre presente esta ideia e não se deixem iludir por ideias grandiosas de pátria, nacionalismo e identidade que andam de mãos dadas com censura, segregação, xenofobismo, submissão, intolerância e tirania.

6 comentários

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    Psicogata 27.09.2017 14:12

    Pois não, o princípio do partido não era esse, mas tem-se tornado nisso e a prova maior é uma das deputadas agora ter-se declarado independente.
    Os discursos e as palavras de ordem são contra os migrantes e algumas declarações sobre a Segunda Guerra Mundial são preocupantes.
    Tal como disse o problema não é do sistema político, é do sistema financeiro, mas não é com extremismos que se resolve.
    É curioso teres falado no Comunismo, as ideologias políticas parecem estar dispostas num círculo em vez de numa reta, os extremos tocam-se e misturam-se constantemente.
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    Andy Bloig 27.09.2017 14:31

    O separem o partido em 2 tem outro uso: passam a ser 5 bancadas a discutir a mesma coisa. Em vez de serem 4 a avançar com propostas, passam a ser 5. Se não existir um entendimento coeso, podem obter mais votos dos descontentes da CDU e SPD (e de quem se coligar com a Merkel), que os vão ver como sendo muito activos a defender a Alemanha.

    Percebeste o que quis dizer... a extrema direita, que eram conservadora e muito defensora da iniciativa privada contra a estrutura pública do estado, agora foi buscar coisas ao "maldoso" comunismo, mudou-lhes os nomes e usam-nas para seu proveito. Tem estado a acontecer por toda a Europa (e na América) e é uma das razões porque são coisas que tocam localmente e não passam para o exterior.
    Nos canais alemães era normal ver anúncios desses partidos no intervalo de um jogo de futebol ou antes do noticiário. Enquanto os grandes partidos se concentravam nas hora de maior audiência. O anúncio do "Não queremos burkas. Assim é melhor de ver" (2 raparigas com bikinis a afastar-se da câmara) tem sido propaganda mas, eles tinham outros que mostravam canos de água rotos e a água a sair da torneira cheia de lama. Para as cidades isso é algo "impossível", fora delas, não é. São essas coisinhas que ganham votos para se tornarem em forças de bloqueio.
    Na França tens o Macron que conseguiu quase 2/3 dos deputados eleitos, nas sondagens mais recentes, já está par e par com a le pen... mesmo com ela debaixo de fogo do próprio partido.
    São essas coisas que nos fazem espécie, pois tudo o que nos é colado à frente aponta só para este ou aquele ponto que são violentos e dão mau nome ás pessoas ou partidos. É daí que o Trump venceu na América, que o Brexit venceu e que temos a extrema direita populista a criar posições de destaque na Europa central. (Vamos ver se daqui a 3 semanas não temos a Áustria a ficar com um governo de extrema direita, depois do candidato deles ter perdido por menos de meio por cento nas presidenciais, nas legislativas há 2 partidos que estão destacados... um deles é a versão AfD austríaca e está na frente das sondagens na maioria dos estados. Também são muito falados por causa de defenderem o encerramento das fronteiras e a expulsão dos indocumentados mas, o ponto principal deles é ter o país na mão dos austriacos e não de europeus "ou estrangeiros desconhecidos que moram em aviões e penthouses".
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    Anónimo 27.09.2017 14:43

    Claro que percebi, quem está atento percebe que esta extrema direita de extremismo só tem a xenofobia, porque o resto colhe ideias de todo lado para satisfazer o eleitorado insatisfeito.
    O problema? As pessoas agarram-se a uma das ideias e esquecem tudo o resto, é aqui que entra a parte dos meios não justificarem os meios.
    E com o crescente descontentamento geral estes partidos crescem a olhos vistos, mas por melhores que possam parecer as suas intenções, elas são muito, muito perigosas e no essencial são contrárias à liberdade.
    Os europeus têm de colocar a mão na consciência e perguntarem-se se querem abdicar da sua liberdade para marcarem uma posição?
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    Andy Bloig 27.09.2017 14:51

    Esse é o ponto que eles usam: de que liberdade estás a falar?
    A de teres de viver sobre as obrigações de algo que nem sabes o que é? A liberdade de quando algo corre mal é o teu bolso e a tua vida que pagam as favas, enquanto os que o provocaram continuam a rir-se e a fazer a mesma coisa?
    São esses os pontos que estes grupos tem conseguido apanhar. Ao tirarem um ponto da extrema direita, outro da extrema esquerda, darem-lhe uma ropagem nova e são um foco de esperança... para quem se vê atraiçoado vezes sem conta. Até chegarem ao poder e terem de mostrar se são capazes de ir contra "as forças ocultas que mandam no mundo", conseguem ir apanhando votos aqui e ali.
    E, por experiência própria, já sabemos que, nos grandes pontos, os governos nada podem fazer... tem mais poder um banqueiro ou um accionista majoritário de uma empresa do que um primeiro ministro. Podem tirar-lhes uns benefícios aqui e ali mas, na estrutura não é possível, quem manda no mundo não são os governos, são aglomerados de empresas financeiras.
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    Psicogata 27.09.2017 15:17

    Obviamente que os Governos não mandam, por isso mesmo é que não se justifica esta aposta na extrema-direita, porque eles são como os outros quando chegam ao poder têm a sua margem de ação completamente limitada pelos grupos financeiros.
    Vão fechar-se ao mundo? Fechar fronteiras a bens e pessoas? Sair de todos os acordos internacionais? Isso é pura utopia.
    Há muito poucos países autossuficientes e a Alemanha não o é.
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