Quando me diziam que a idade trazia sabedoria e serenidade eu instintivamente torcia o nariz, eu temperamental e impulsiva algum dia iria ter serenidade? Nunca pensava eu.
Pois estava bem enganada, não é que eu seja um poço de calma e serenidade, nada disso, mas já penso duas vezes antes de falar, já não tomo decisões radicais sem pensar e encaro as coisas com muito mais tranquilidade.
Ontem até comentava com o meu MQT que devo ter sido benzida, já que ando muito calma com tudo, até com coisas que normalmente me tirariam do sério.
Ora isto tem a ver com aceitação, eu tenho muita dificuldade em aceitar algumas coisas, especialmente aquelas que mais me magoam ou aquelas que eu sempre idealizei e concebi de outra forma muito mais perfeita que a realidade.
Mas este ano tem sido um ano de aceitações:
- Constatar que as pessoas na sua generalidade são más, mesquinhas e invejosas, são poucas as que se aproveitam e não há volta a dar, estamos numa era em que as coisas são mesmo assim, toda a gente se queixa disto mas no fundo quase toda a gente é assim e não faz nada para mudar.
- Aceitar que tenho uma família disfuncional e que sou muitas vezes negligenciada, para completar a família do meu MQT não é melhor e acabamos por estar os dois numa posição desaconchegada. Há que ver a coisa pelo lado positivo quanto menos fazem por nós menos teremos de fazer por eles no futuro.
- Entender que tinha que fazer a separação entre os amigos que fazem um esforço para estar comigo e aqueles que esperam sempre que seja eu a fazer esse esforço. Estes últimos acomodados nas suas vidas passam bem sem mim e por isso eu não tenho outro remédio do que passar bem sem eles. Sei que muitos deles estarão lá em horas de aperto, mas a vida não é só feita de horas de aperto, felizmente são mais os momentos de felicidade, em que pequenas coisas nos enchem a alma e o coração. Os verdadeiros amigos são os que estão lá nos bons e nos maus momentos.
- Aceitar que nunca mais irei ser magra como antes a menos que faça exercício e uma alimentação equilibrada e ponderada, não adianta nada correr 3x por semana se depois como uma lontra.
- Eliminar pessoas tóxicas, por muito que nos custe existem pessoas que nos fazem mal, ambientes, assuntos, este tipo de pessoas e coisas têm de ser eliminadas da nossa vida, pode custar, podemos querer lutar contra as evidências, mas não há nada a fazer, se algo nos causa tristeza, pesar ou nos afeta os nervos temos de nos afastar disso e pronto.
- Entender que não posso ter tudo o que quero e que sonhei na vida, para tudo há um custo de oportunidade, e se quero ter umas coisas tenho de abdicar de outras, não posso ter um cargo de muita responsabilidade com um ordenado chorudo e ter bom ambiente de trabalho, emprego perto de casa e sair sempre a horas, ora alguma destas coisas tenho de sacrificar já que ter todas é praticamente uma combinação impossível.
- Aprender a ser feliz com a minha realidade, com aquilo que tenho de bom e de mau. Devemos sempre sonhar, ambicionar e lutar para sermos melhores e termos uma vida melhor, mas a premissa para isso não deve ser uma ambição desmedida por dinheiro, poder, status e superioridade, a base da procura devem ser as coisas mais simples, as pessoas mais simples são as mais felizes.
Lutar para demonstrar algo a alguém não é bom, é basearmos toda a nossa existência na necessidade de provarmos algo a alguém, que na maioria das vezes nem se importa com o que estamos a tentar provar.
E nessa sede nunca seremos bons o suficiente, ricos o suficiente, reconhecidos o suficiente e no entretanto a vida passa e esquecemo-nos de viver.
Viver com as pequenas coisas é a lição mais importante que tiro desta vida, ver o copo meio cheio, ser otimista, ver o lado positivo das coisas e o melhor de cada pessoa é o segredo da felicidade. Para sermos felizes basta querermos ser, ao aproveitar cada segundo desta vida para sermos e fazermos alguém feliz, seja com simples gestos de simpatia ou com grandes atos de altruísmo.