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Língua Afiada

Relação pai e filho - o bom exemplo de The Revenant

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Escrevi uma crítica do filme aqui, para mim o filme é uma obra-prima.

Aceito as críticas à brutalidade das imagens e ao quase exagero do sofrimento, mas o filme centra-se numa personagem e por isso é normal que a destaquem.

Não acho que tenham deixado para segundo plano as dificuldades e as atrocidades que se passavam na época, elas estão lá e são bem visíveis. O filme não é sobre isso, é sobre a jornada de Hugh Glass e por isso é a sua história que sobressai. Assim como em Ponte de Espiões as atrocidades da segunda guerra mundial estão lá, mas não são o cerne da história.

Mas o que estava mesmo à espera sobre o The Revenant é que comparassem a relação da personagem Hugh Glass com o filho à relação de que uma mãe tem com o seu filho ou que a vissem como anormal.

Como se um pai não pudesse mover mundos e fundos por um filho?

Já tive várias discussões por causa deste tema e da velha e ultrapassada frase – Mãe é mãe!

E o pai não é pai?

Enquanto as mulheres e a sociedade não perceberem que isto é um preconceito maldoso e castrador para os pais, iremos ter pais com vergonha em dar prioridade aos filhos, pais com medo de pedirem custódia partilhada, pais a serem vistos como um acessório na vida dos filhos e mulheres a serem penalizadas por serem mães.

Será que ainda não entenderam que muito do caminho para a igualdade das mães no trabalho passa por darem a mesma importância ao pai na relação com o filho.

É claro que por uma questão biológica a mãe é necessária junto da cria nos primeiros meses se amamentar, mas tirando isso o pai não é igualmente importante?

Felizmente muitos pais ignoram o preconceito e privilegiam a relação com os filhos e conheço casos em que isto é visível pela clara preferência dos filhos pelo pai e não pela mãe.

Estas relações não são exclusivas dos filmes, acontecem na vida real, há pais que fazem tudo pelos filhos, há pais que cuidam melhor dos filhos que as mães.

Existem mães más, negligentes, hostis, rudes, estúpidas. As mães antes de serem mães são pessoas e as pessoas não são todas boas. Ser mãe ou pai, não faz automaticamente uma pessoa ser melhor.

Se todas as mães querem o melhor para os seus filhos, a maioria acredito que sim, mas isso não significa que o consigam dar. Algumas são tão egoístas e perseguem tanto o sonho de serem mães que presenteiam os filhos com um mau pai.

Outras a única coisa boa que conseguem dar aos filhos é um bom pai

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aquiGitHub: Software description: a handy method for logging your code as it runs (Ruby).

Os portugueses não têm dinheiro para filhos.

Nunca mais atiro pedras a quem disser que não tem dinheiro para ter um segundo filho ou até quem diga que não tem dinheiro para ter sequer 1.

Aquela velha história, eles criam-se. Como era antigamente? Ninguém ficava por criar.

A sabedoria popular é que sabe, sempre houve dinheiro para se criarem os filhos.

Só que não é bem assim.

Um casal de 40 anos com dois filhos um de 14 e outro de 10 necessita de 766 euros mensais para ter uma “alimentação digna”.

766€????

Um casal cujos ordenados sejam próximos do ordenado mínimo estão no mínimo em falência técnica, suponhamos que recebem entre os dois 1200€ se retirarmos 766€ para alimentação sobram 434€ para todas as outras despesas, incluindo, renda/prestação da casa, eletricidade, água e saneamento, gás, vestuário, transportes e educação.

Mas mesmo que recebam os dois 1500€ se retirarmos os 766€ sobram apenas 734€.

O estudo refere que contabiliza algumas refeições fora de casa e ainda a visita de amigos, que convenhamos são programas que qualquer família deveria conseguir fazer.

O estudo pode parecer alarmista, mas a verdade é que comento várias vezes com o meu marido e com amigos que a alimentação está muito cara e que a qualidade dos alimentos é cada vez menor.

Fazer uma alimentação equilibrada e saudável, com carne, peixe, legumes e frutas de qualidade não é fácil. Obriga a uma gestão controlada, muita atenção às promoções e uma seleção muito detalhada das ementas.

Mas as famílias vivem com bem menos, mas será que vivem ou sobrevivem?

Não é de estranhar que os casos de obesidade, diabetes estejam a aumentar nas crianças e que a hipertensão comece a aparecer em jovens de 18 anos e que o colesterol seja um problema de pessoas com 20 anos.

Comemos mal, mas será que podemos comer bem?

Basta fazer uma ronda pelas promoções dos supermercados para percebermos que a maioria dos alimentos em promoção não estão indicados para fazerem parte da ementa diária de uma criança ou jovem. Comida processada, pré-confecionada, rica em açúcares e pobre em proteínas e vitaminas.

Não tarda nada será mais barato comprar um litro de refrigerante do que uma garrafa de água. Já vi pães-de-leite industriais mais baratos que os pães normais, para não falar do pão escuro que é mais saudável e mais caro.

 

É quase impossível entrar num supermercado para lanchar e afastar-nos dos alimentos não saudáveis, eles estão em todo lado e com preços mais apetecíveis do que as peças de fruta.

Salvam-nos as maças e as peras, porque a restante fruta não está acessível a toda a gente, talvez as bananas.

Muitas pessoas adorariam substituir a batata pela batata-doce ou a abóbora, mas o preço é proibitivo.

Não seria de estranhar que nas zonas mais rurais onde cada um cultiva uma pequena horta e o que não se tem pede-se ou compra-se fresco do campo do vizinho, onde quem tem sorte até tem um pequeno espaço para criar animais, as pessoas sejam mais saudáveis. Se calhar vivem com menos mas acabam por ser mais saudáveis.

Já existem alguns estudos que confirmam que nas cidades alguns tipos de cancro são mais comuns devido ao consumo de comida processada.

Se nada se fizer para que as famílias portuguesas tenham acesso a uma “alimentação digna” estamos condenados a dois cenários ou à redução radical da taxa de natalidade ou às doenças derivadas de uma alimentação incorreta.

Em qualquer um dos cenários estamos condenados à falência.

Acho que é desta que me vou virar para a agricultura.