Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Pela diferença a sério? Somos todos diferentes e todos iguais.

womens day 4.jpg

 

 

Estava a ler o post do blog Café, Canela & Chocolate que tem o título Sou pela diferença e estava a gostar, até porque acredito que as mulheres são diferentes dos homens e não devemos querer ser iguais a eles, apenas queremos ter direitos e oportunidades iguais.

O texto começa bem mas depois vem a pérola:

"Eles nunca vão experimentar a sensação de ter um ser a crescer dentro de nós, de o sentir mexer. Nunca vão ter uma ligação tão especial como uma mãe tem ao seu filho, ligados pelo cordão umbilical e pelo coração"

Eu juro que cada vez que leio coisas deste género me revoltam as entranhas, fico tão indignada que me sobem os calores, arregalam os olhos e sinto urticária.

É tão machista dizer isto como dizer que a mulher deve ficar em casa a cuidar dos filhos.

É claro que os homens nunca sentirão um bebé na barriga como nós nunca sentiremos o que é estar dentro de outra pessoa.

As parideiras não são mais do que parideiras como qualquer outro animal, carregamos o feto 9 meses na barriga, umas gostam outras odeiam, umas acham que é um estado de graça, outras acham que é uma desgraça, e depois?

Isso faz das mães pessoas mais completas que os pais? Por um acaso carregar um ser durante 9 meses na barriga confere algum poder especial a alguém? Não! Quantas parem os filhos sem lhes ter qualquer amor? Quantas os carregam por obrigação?

E quantas mães que nunca pariram nenhum filho e os amam de paixão, às vezes amam os delas e os dos outros.

E quantos pais têm relações especiais com os filhos? E quantos filhos têm uma adoração pelo pai? E quantos filhos detestam a mãe?

É claro que nenhum filho pode dizer alto e bom som que não suporta a mãe! Claro que não, leva logo com um Mãe é Mãe!

Para ser-se mãe não tem de se parir um filho, para ser-se mãe tem de se saber amar, educar, respeitar.

Gostava que fosse para os meus dias que os bebés pudessem ser criados numa bolha, só para o raio das mães não me amolarem a cabeça com a história do parir e do cordão umbilical.

É por essas e por outras que as mulheres são renegadas à condição de reprodutoras e que quando o vaso fica seco os homens passam para um vaso mais fértil. É por essa suposta relação especial que é sempre a mãe a ser chamada na doença dos filhos, às vezes nem é porque o pai queira, mas fica mal ser o pai, essas coisas são para a mãe, só ela é que sabe o que eles sentem.
Continuem com essa cantiga, fiquem acordadas todas as noites enquanto eles dormem descansados.

Continuem a fomentar a descriminação, continuem a assentar toda a vossa existência na maternidade.

Pois eu gostava de ser como os homens, poder semear sementes a meu belo prazer e ter 200 filhos coisa que nunca nenhuma mulher poderá gerar, não ter de me preocupar com o relógio biológico nem com a pressão da sociedade. Deve ser fantástico ter a possibilidade de deixar descendência até à cova.

Eu não vim ao mundo para parir eu vim ao mundo para ser feliz e ter o poder de decidir parir ou não faz parte dessa felicidade.

 Não tenho paciência para quem acha que a mulher só porque tem a capacidade de parir é extraordinária. Tantos anos de luta para a mulher continuar renagada à condição de mãe.

 

 

 

Ser mulher não é ser mais do que ser homem.

Ser mulher não é nada de especial, ser mulher não é ser mais do que ser um homem, é apenas e só ser mulher e viver com todas as vantagens e desvantagens disso.
É lamentável que no século XXI ainda faça sentido festejar o Dia Internacional da Mulher, que ainda exista tanta descriminação e tantas mulheres que são privadas dos seus direitos fundamentais enquanto pessoas.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada pelas Nações Unidas em 1948, mas a carta que promove os direitos básicos de qualquer Homem está longe de ser cumprida.

“Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

São ainda milhões de mulheres que se veem privadas da sua dignidade, direitos e liberdade, sempre que penso que algumas são consideradas propriedade de alguém sinto um nó no estômago. Mulheres transacionadas como mercadorias, mutiladas, violadas, assassinadas e o mundo assiste impávido e sereno. Aplicam-se sansões económicas por tudo e mais alguma coisa mas para se fazerem valer os direitos humanos não se aplicam sanções nenhumas.
Vivemos num mundo podre, fútil, governado por um capitalismo cego e obsoleto que cuida dos interesses de um punhado de privilegiados que o dominam, enquanto os outros 99% dos Homens passam pelo mundo sem deixar vestígio. Destacam-se algumas pessoas, homens e mulheres que assumem as penas do mundo às costas e lutam numa luta desigual para fazerem deste planeta azul um lugar mais bonito e harmonioso.

Agradeço por ter nascido num país onde tenho voz própria, opinião e vontade. Há muito ainda a melhorar em Portugal, mas é bom saber que posso falar abertamente sobre isso.
Lamento que a maioria das mulheres use este dia para a paródia em celebrações que em nada dignificam a sua condição de mulher, não há nada de mal em comemorar, mas se até no Dia Internacional da Mulher as mulheres se relegam para o direito de saírem sós, de não cozinharem, beberem demais e desculpabilizarem-se dos maiores disparates, como conseguem elas descolar-se dessa imagem?
Ser mulher não é encher a boca para dizer que somos melhores do que os homens, que somos mães, esposas e filhas, que somos mais inteligentes, multi-task e mais ponderadas. Ser mulher é defender o direito à igualdade, é lutar para que as nossas filhas nunca mais tenham as dificuldades que as nossas mães tiveram, é lutar para que no futuro ser mulher não seja uma sentença mas apenas uma questão de género.
Eduquemos as próximas gerações para a igualdade, tolerância e aceitação e talvez um dia o mundo possa ser governado por ideias de fraternidade e igualdade.
A todas as mulheres importantes da minha vida desejo um grande dia.