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Língua Afiada

Estou sem paciência.

Acordei cabisbaixa e como sempre tenho a mesma reação parva quando isto acontece, que é parecer extremamente feliz e contente.

Mas sem paciência, sem paciência para ouvir os colegas na hora de almoço, sem paciência para ouvir os meus pensamentos e sem paciência para aguentar o resto da tarde enfiada no escritório.

Fosse eu irresponsável e levanta-me e só cá voltava na segunda-feira.

Podia sempre dizer que estou doente, que me estou a sentir mal, um dia não são dias e bem que me sabia espairecer.

Mas o meu mal não é falta de espairecer, o meu mal é sono! Dormi bem menos esta semana do que deveria e o meu corpo suplica por descanso, retempero e sossego.

Quando estou assim não tenho paciência, e logo hoje tinha de me calhar na rifa um desentendimento.

Não suporto pessoas com défice cognitivo que se acham superiores, sempre pensei não ser preconceituosa, mas afinal sou, não gosto de pessoas que na sua mesquinhez se consideram inteligentes e importantes, pessoas que são tão tacanhas, quanto parvas e não se avaliam pela mesma bitola que avaliam os outros.

Eu sei que o mundo está pejado delas, mas hoje? Tinha de ser logo hoje?

Como não fosse bastante, a privação de sono coloca-me em alerta, ou em paranoia, nada escapa ao radar, o olhar de soslaio de uma colega para outra, o sorriso de escárnio que acompanha o cumprimento obrigatório, o lascivo olhar do fornecedor, a voz de superioridade do cliente, mas será que há alguém realmente verdadeiro?

Quem sou eu para falar?

Sorri a manhã toda a toda para todos, lancei piadas, ri-me sem vontade ou ri-me com vontade não das piadas mas de mim.

Mas ao menos sou inofensiva que rir nunca fez mal a ninguém.

 

A Psicogata foi raptada e é minha prisioneira, só será libertada quando soarem as 18h, conseguem adiantar os relógios do mundo? Não conseguem!

Então ela será mantida em cativeiro.

Uma folha em branco

Tenho uma folha em branco, olho para ela e penso no que escrever, sei que tenho uma nuvem negra a pairar sobre o pensamento e sei que consequentemente o meu texto será triste, tento pensar em algo alegre, foco-me nas coisas positivas, mas só pensamentos pesarosos afluem.

Há alturas na nossa vida, em que tudo parece alinhar-se para o lado menos positivo, não há nenhum grande mal, não houve nenhuma notícia trágica, é apenas a soma de muitas pequenas coisas tristes.

Se a felicidade é a soma das pequenas coisas, o contrário também é verdade, pequenas coisas más fazem-nos imensamente infelizes quando a sua insignificância se soma, se multiplica e se eleva ao cubo, sentimo-nos tristes.

 

- Porque estás triste? Pergunta.

- Não sei. Respondo.

- Não tens motivos para estares triste. Retorque.

- Nem tenho motivos para estar feliz. Digo.

- Tanta coisa boa na tua vida. Diz entusiasmado.

- Tanta coisa má na minha vida. Digo pesarosa.

- Verdade. Anui.

 

E o meu lado otimista recolhe-se, deixando o pessimista levar a melhor.

Sinto-me cansada, esgotada, respiro fundo, duas lágrimas grosas escorrem-me pela face, apenas duas carregadas de sal e angústia, limpo-as, afogo as seguintes antes de aflorarem e respiro fundo novamente.

Olho pela janela e vejo o céu azul lá fora, ouço os pássaros a cantar e penso a vida é tão bela.

Levanto-me, saio, sinto o ar puro, inalo um longo rasgo de ar, reconforto-me, apanho um punhado de flores para decorar a casa e sorrio.

Afinal é Primavera.

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