Páginas soltas #3 - Quando os que amamos sofrem
Não há nada pior do que ver uma pessoa que amamos sofrer, digam-me que sou louca mas às vezes é mais fácil ser eu a sofrer do que lidar com o sofrimento dos outros.
Nunca sei que dizer ou que fazer, sinto-me impotente, de mãos atadas e muitas vezes responsável, não pelo sofrimento mas pela cura.
O que dizer a uma pessoa cuja vida maltrata sistematicamente, vamos cair em lugares comuns como o há quem esteja pior ou depois da tempestade bem a bonança?
Estaríamos a dar-lhes alguma novidade, eles sabem que há sempre quem esteja pior do que eles, eles sabem que o sol acaba sempre por brilhar, a chuva dá sempre tréguas.
O que dizer a uma pessoa vítima das injustiças da vida?
Quando o amor, o carinho, o abraço apertado não são suficientes, o que dizer? O que fazer?
Estou cansada de fórmulas mágicas, de teorias da felicidade e palestras de motivação.
Como se motiva alguém que não fez nada de mal e recebe sistematicamente maldade em troca?
A determinada altura da minha vida cheguei à conclusão que a vingança, a maldade e a revolta não resolviam nada, mas ser bonzinho, honesto e ético também não compensa, antes pelo contrário.
As pessoas confundem simpatia, cordialidade e disponibilidade com fraqueza e tentam usar-nos e aproveitar-se de nós.
Eu lido bem com o mal que me fazem, já com o mal que fazem a quem amo não, corroí-me, desperta o pior de mim, faz-me ter sede de justiça e de vingança.
Se a vida não se encarrega de dar a cada um o que cada um merece, talvez nos esteja a passar uma mensagem.
Não dizem que Deus nos deu livre arbítrio para sermos livres e se ele nos estaria a dizer que devemos fazer nós próprios a nossa justiça?
Não se castigam as crianças? E o que são a maioria dos adultos se não um bando de crianças que cresceram sem educação, ética e valores?
Se cá se fazem, cá se pagam, porque não começar a fazê-los pagar?
Quando o desprezo não é solução, o melhor é enfrentar as pessoas de frente e preparar uma vingança fria e doce como um gelado saboreado à beira-mar depois de um longo dia de trabalho.