Longe de mim pensar que tenho uma escrita perfeita, dou alguns erros ortográficos, erros de digitação e às vezes gramaticais, mas faço um esforço contínuo para melhorar.
Uma das vantagens do blog é exercitar a escrita, percebi que estava cada vez mais a usar muletas desnecessárias, caraterísticas da linguagem oral, quando escrevia, uma situação que tenho tentado evitar.
Escrever Eu antes de um verbo, usar pronomes de e que em excesso estão entre os erros que mais vezes cometia e que por vezes ainda cometo.
Conjugar dois verbos seguidos na terceira pessoa do plural era outro erro frequente, que, confesso, continua a ser uma dificuldade.
É curioso como coisas simples podem alterar a beleza e a correção de um texto, curioso também é a capacidade do nosso cérebro em lembrar-se das regras gramaticais à medida que vamos escrevendo.
Tenho recordado muitas regras, outras vou pesquisando e quando não tenho certezas procuro exemplos concretos ou peço mesmo uma segunda opinião.
O erro que me tira do sério é a confusão que as pessoas fazem com o a preposição à e a conjugação do presente do indicativo do verbo haver na terceira pessoa do singular – há.
Quando a troca é entre o à e há respira-se fundo, mas quando escrevem á sinto suores frios porque a palavra não existe.
A culpa, em parte, é dos corretores que não corrigem o á, o que faz com que muitas pessoas assumam que está correto.
Os erros que vemos espalhados pela Internet devem fazer Camões revirar o olho e são um claro exemplo que vivemos num país em que taxa de analfabetismo é realmente muito superior às estatísticas. Saberão as pessoas realmente escrever?
A maioria, definitivamente não sabe escrever corretamente, todos sabemos que o português é das línguas mais difíceis de escrever sem máculas, mas é necessário ser tão crítico que temos portugueses que escrevem como se não tivessem frequentado a escola? Pela amostra do que leio há realmente uma grande percentagem de pessoas que não sabe efetivamente escrever, leem-se comentários em alguns jornais que de tão mal escritos perdem até o sentido.
A maioria dos erros são facilmente detetados por quem lê, mas o à e há são um caso particular, se já é difícil distinguir qual dos dois usar, com o aumento considerável das vezes que vemos estas duas palavras mal empregues acentua e escala o problema.
Não há uma explicação muito simples, no português nunca há, mas existem regras e truques que podemos usar. Aqui ficam alguns:
À
A forma à corresponde a uma contração da preposição a com o artigo definido feminino singular a. A preposição a pode ocorrer contraída com todas as formas flexionadas do Artigo definido: à, às, ao, aos.
à: implica uma direção, sentido ou ação
Três processos simples para verificar que se trata da contração da preposição com o artigo:
1.º: Altere a frase substituindo a palavra que se segue a "à" por outra de género e número diferente. Se o puder fazer, e tiver que alterar a forma à, contraindo a preposição com outro artigo definido, é sinal de que se trata da contração da preposição com o artigo:
Ex.:
1. Vou à praia. (a + a)
2. Vou ao jardim. (a + o)
3. Vou às compras. (a + as)
4. Vou aos saldos. (a + os)
2.º Veja se pode substituir esse à por "a uma". Se o puder fazer e a frase ficar correta, é porque se trata da contração da preposição.
Ex.:
1. Fui à loja. / Fui a uma loja.
2. Respondi à menina. / Respondi a uma menina.
3. Ela fugiu à pergunta. / Ela fugiu a uma pergunta.
3.º Essa contração da preposição "a" com o artigo definido no feminino singular "a" (= à) tem de anteceder sempre uma palavra no feminino singular. Repare nos exemplos anteriores, todos palavras desse género e número: escola, minha irmã, Patrícia, biblioteca, praia, loja, menina, pergunta.
Há
A forma há corresponde à 3ª pessoa do singular do presente do Indicativo do verbo haver. Este verbo pode ocorrer como principal, na categoria dos transitivos diretos, e os significados com que é utilizado com mais frequência são existir, acontecer, passar.
há: implica que existe ou que se tem algo.
Um processo simples para verificar se se trata do verbo haver: tente substituir essa forma verbal por outra do mesmo verbo, mas em tempo diferente.
Ex.:
1. Hoje há aulas.
2. Ontem houve aulas.
Uma regra: com expressões de tempo, trata-se do verbo haver.
Ex.:
1. Ele foi-se embora há uma semana.
2. Isto aconteceu há dias.
3. Fui há quinze dias a Lisboa e...
4. Há muito tempo que ele andava doente.
5. Há anos, estava ela no jardim...
6. Ela festejou o aniversário há pouco tempo.
Uma chamada de atenção: quando significa existir, o verbo haver não tem plural.
Ex:
1. Hoje há aula de... / Hoje há aulas de...
2. Não o vejo há um mês. / Não o vejo há tempos.
3. Há um político que... / Há muitos políticos que...
4. Houve uma pessoa... / Houve várias pessoas...
Espero que estes exemplos ajudem na clarificação de algumas dúvidas.
Fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt