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Língua Afiada

Ser jovem não é desculpa. Ponto.

Continua-se a exagerar, a generalizar e a normalizar, desculpar o que é indesculpável, quando leio testemunhos de jovens que se enchem de razão, justificando as suas ações como sendo normais, sinto o estômago às voltas, uma coisa é ser um comportamento frequente, outra é ser um comportamento normal, não considero normal que jovens vandalizem espaços escusando-se na idade.

 

A idade nunca foi, nem nunca será desculpa para falta de responsabilidade, má educação, violência gratuita e destruição de propriedade alheia. Se são suficientemente adultos para irem sozinhos para uma viagem de finalistas, também são suficientemente adultos para arcarem com as consequências.

Não é de agora, há muito que se conhece o comportamento vergonhoso dos jovens portugueses nas viagens de finalistas, numa ânsia de viverem em poucos dias todas as aventuras de uma vida, faz com que se ultrapassem limites demasiado depressa.

Não se julgue que são só portugueses, infelizmente é um problema transversal à juventude, característico da desresponsabilização que se tem atribuído sucessivamente aos mais jovens.

 

De mãos-dadas com a aparente normalidade dos seus atos, anda a generalização, de repente são todos iguais, felizmente que não é assim, é gratificante saber que existem grupos de jovens que optam por outros destinos que aliam cultura às noites animadas, não me acredito que estes sejam santos e que não façam uma ou outra asneira, mas com certeza terão um comportamento mais adequado à visita de museus e ao passear-se em ruas históricas.

Cruzei-me com alguns desses grupos em Barcelona, barulhentos, animados, frenéticos, mas sóbrios e com civismo suficiente para não serem expulsos de nenhum local público e acredito que privado.

Nem tão pouco acredito que todos os que escolheram como destino Torremolinos e outros destinos similares tenham tido um comportamento deplorável e destruidor, mas isso passa despercebido quando as notícias de mau comportamento, abuso de álcool e de drogas, vandalização e destruição são recorrentes todos os anos neste tipo de viagem.

Acredito que a gerência do hotel não esteja isenta de culpas, há sempre dois lados da mesma história, mas há algo que não entendo, após anos e anos em que a história se repete como é que se continuam a organizar este tipo de viagens?

Como esperam os alunos serem bem recebidos por unidades hoteleiras que só os aceitam porque só estão em época baixa, as unidades hoteleiras já sabem que incorrem num risco altíssimo de terem o hotel sujo e vandalizado, habitado por jovens inconsequentes que passam a maior parte do dia alcoolizados.

Como esperam pais e professores que viagens que parecem servir apenas para os alunos ficarem bêbedos e saírem durante a noite tenham um final pacífico?

Será que ainda não perceberam que o destino em si, o conceito, a tradição, as histórias que antes se propagavam de boca a boca e agora de mural em mural são altamente propícios a estas situações? 

No meio de toda esta confusão pergunto-me como se sentirão os pais, especialmente os pais daqueles que continuam por lá?

Conheço quem tenha proibido a ida a uma viagem de finalistas e tenha sido duramente criticado por isso, justificou a recusa com a diferença das asneiras de agora das asneiras de outros tempos, velho de restelo pensaram muitos, muitos desses agora à luz da notícia lhe devem estar a dar razão.

 Um grupo de jovens é uma mistura explosiva, o efeito manada é terrível especialmente quando acompanhado de álcool e drogas, quando a isto somamos sentido de liberdade incondicional e impunidade o resultado está à vista.

Canso-me de dizer que estamos a criar uma sociedade egoísta, pretensiosa e mimada, sem valores, sem remorsos, sem culpa. Quando uma jovem acha normal fazerem desacatos no elevador, riscar paredes e existirem coisas partidas algo está muito mal na sua formação e educação.

Não, não é normal danificar propriedade privada e esperar que o dono não reclame, o normal é que quando se estraga algo se pague por isso, até termos idade suficiente pagam os nossos pais por nós e quando vamos em grupo, o grupo é responsabilizado, é assim que funciona.

Tudo o que fazemos tem consequências, boas ou más, tudo depende da ação, é inacreditável que jovens de 17 e 18 anos não tenham consciência disso.

 

Para além da responsabilização por danos patrimoniais, alguém também deveria explicar a estes jovens que uma semana de excessos pode condicionar toda a sua vida, quer seja por uma ação inconsequente ou por um conjunto delas, uma semana a beber até cair, sem dormir o suficiente, a comer mal, a apanhar sol sem cuidado é no mínimo um desgaste brutal para o organismo, se é verdade que são novos, também é verdade que onde “elas caem não nasce cabelo” e depois é ver pessoas com 30 anos que parecerem ter 50 e não, não foi por trabalharem demais, é mesmo por excessos a mais.

Isto sem falar de perigos maiores como doenças e vícios, sabemos que estão bem informados, mas num ambiente inconsequente pararão eles alguma vez para pensarem nas consequências? Não creio.

 

A solução? Mais uma vez passa pela educação e pela formação, acredito que se bem-educados os estragos fossem a exceção e não a regra, na minha altura funcionava assim, não erámos anjos, mas o medo e o respeito mantinham-nos com os pés assentes no chão, sabíamos que existia um limite, esse limite era tudo o que pudesse chegar aos ouvidos dos nossos pais, se tivessem uma queixa de nós haveriam consequências, essas consequências e essa responsabilização que fazem parte da educação equilibravam as hormonas, o álcool e as drogas.

Nós não erámos jovens responsáveis, erámos jovens responsabilizados, essa era a grande diferença, porque ser jovem não é desculpa.

Ponto.

Mundo virado do avesso e a insegurança

Duas semanas de férias em que o fluxo noticioso não é constante, quando nos inteiramos de tudo, sentimos que o mundo está virado do avesso.

Por entre desgraças e notícias preocupantes teria um sem fim de assuntos sobre os quais me debruçar.

Na Síria ultrapassaram todos os limites e usaram armas químicas, o precipitado de serviço faz exatamente o que tinha previsto, toma uma atitude irrefletida e impulsiva por conta própria e decide atacar, Donald Trump a ser Donald Trump. Veremos se a Rússia não é tão precipitada.

Mais um atentado na Europa, há uma crescente sensação de insegurança no velho continente e infelizmente parece que os dias de paz e tranquilidade estão perto de extinção.

Confesso que durante a viagem a Barcelona, nos aeroportos e em locais mais movimentados senti algum receio, a ideia de um atentado cruzou-me várias vezes o pensamento, algo que há uns anos seria impensável.

Há muito que existe uma guerra mais ou menos silenciosa entre o extremismo e a liberdade, quando para se combater o extremismo se recorre a ideais extremistas é uma questão de tempo até estalar uma guerra.

Querem que nos sintamos inseguros no nosso continente, no nosso país, não descansarão até que nos sintamos inseguros na nossa própria casa, esse é o plano.

Enquanto nos distraem com suspeitas e ódio aos migrantes, mexem na surdina os cordelinhos para um plano muito maior e audaz, mas o povo anda distraído.

O que desejo é que a situação não piore de tal forma que todo o povo tenha consciência dela, deixem-nos andar sorridentes e despreocupados, que a vida é muito curta para ser vivida em constante sobressalto.

Aos que já estão sobressaltos deixo a minha empatia, é uma sensação estranha sentir um calafrio constante provocado pela insegurança, um medo inconsciente que sentimos e que não sabemos bem como explicar.

É como andar de avião, sabemos que é seguro, mas que às vezes acontecem acidentes e por isso não deixámos de sentir um arrepio sempre que nos lembramos que se o avião se despenhar não há nada nem ninguém que nos possa salvar.

O que olhos não veem o coração sente

Despedi-me cansada, coberta por uma estranha inquietude plácida, na contradição do querer desligar e do querer estar presente, no limbo entre a necessidade de viajar para longe e a vontade de ficar.

Não há nada pior do que partir com o sentimento que deveríamos permanecer, há uma luta constante entre o nosso lado racional e o nosso lado emocional, deixei-me guiar pela razão.

 

É a segunda vez que parto de coração apertado para uma viagem, foi desde então que entendi o que é estar longe com as mãos atadas e coração em sobressalto, sem poder tocar, abraçar, beijar quem mais queremos.

É difícil, é cruel e quem está presente não entende, não pode entender, porque só sentindo é que se sente.

É uma forma de sofrer diferente, a que se sofre à distância, mais solitária, mais inconstante, a tristeza vem em ondas como a saudade, sobressalta-nos a qualquer instante, não raras ocasiões nos momentos mais plenos de felicidade, naqueles que deveriam ser perfeitos não fosse a imperfeição cravada como um espinho no coração.

Assalta-nos também o remorso, uma espécie de culpa pela ausência, um sentimento de contrição.

Os sorrisos não são verdadeiramente sorrisos, há uma sombra invisível que nos sobrecarrega o semblante, uma névoa cobre-nos o olhar, estamos a sorrir, mas a nossa alma ferida transparece constantemente o seu lamurio.

 

Não é preciso estar presente para sentir, não é preciso os olhos verem para o coração sentir, os sentimentos acompanham-nos sempre, podemos fugir de tudo, menos do que sentimos.

Não somos nada mais do que aquilo que sentimos, experienciamos e vivemos, seja perto ou longe, somos um conjunto de sentimentos e emoções.

A distância não me fez sentir menos, não me fez sofrer menos, chorar menos ou ter menos saudades, estiveste sempre no meu coração e no meu pensamento.

Despedi-me de ti com um até logo, recuso dizer-te adeus, afinal estarás sempre comigo.

Até breve.