Li agora no Sapo a notícia que Salvador Sobral está à frente na lista de espera para transplante, nem queria acreditar quando li os comentários.
Quando se recebe a notícia que alguém passou à frente na lista de espera ao contrário do que muitos possam pensar não é uma boa notícia, é mesmo má, é sinal que o prazo de validade do órgão está a terminar e que a vida do doente está por um fio.
A notícia apresenta a justificação de Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia "Não passou à frente de ninguém. Mas, devido à gravidade da situação e ao tempo em que já se encontra à espera, o Salvador já está à frente na lista".
Mas nem a declaração do médico acalma os ânimos destes portugueses que só por se tratar de uma pessoa famosa esperam automaticamente que tenha tido algum tipo de favorecimento.
Se estar dependente da morte de uma pessoa já deve ser terrivelmente assustador, ter que lidar com este tipo de comentários deve ser devastador para o cantor e para a família.
Não faço ideia do que será estar numa situação destas, mas deve ser um sentimento de impotência e revolta enorme, um misto de esperança e culpa, afinal espera-se a morte de uma pessoa para salvar outra.
Há sempre mortes inesperadas e que não podem ser evitadas, se essas vidas ceifadas precocemente podem salvar outras é um legado inestimável que deixam neste mundo, mas é sempre um sentimento dúbio e contraditório.
Estes portugueses que se apressam a julgar tudo e todos serão os mesmos que elegem políticos corruptos, que levam materiais da empresa para casa, que compram bens sem fatura, que registam a casa por um valor patrimonial abaixo do real, que passam à socapa à frente das filas, que estacionam nos lugares para deficientes e grávidas, que provam a fruta no supermercado antes de pagarem, que favorecem a empesa do amigo, que têm TV Cabo pirata, que compram sapatilhas contrafeitas das marcas da moda?
Dou por mim a pensar se o desenrascanço e o chico-espertismo não é uma espécie de praga da qual todos reclamam, mas só quando não lhes é dado um quinhão.
Ser reto, idóneo, honesto, franco e honrado não é difícil, chega a ser impossível no meio de tanta estupidez.