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Língua Afiada

Escatologia e o fuso horário

Não, não vos venho presentear com uma teoria sobre o que se passará depois do fim do mundo, até podia ser isso, mas é só um texto sobre essa proeza que é defecar e expurgar o corpo.

 

O meu sistema digestivo é muito sensível, cheio de tiques e manias, um bebé mimado e egocêntrico, que chama a si toda a atenção do organismo a toda a hora e momento.

O bebé, chamemos-lhe assim daqui para a frente, faz birra por tudo e por nada, livre-se o bebé de não comer a horas certas que nunca mais trabalha como deve ser, se lhe troco as horas de sono só ao fim de três dias é que se comporta, se lhe mudo a sopa reclama, ai de mim que lhe mude o tempero, que é um berreiro pegado que só acalma com papás e chazinhos.

Este pequeno bebé é um nazi invertebrado que reclama atenção e cuidados a toda a hora e momento e as suas urgências ultrapassam quaisquer urgências que possa ter, já que sempre que berra não há outro remédio senão tratar de o silenciar imediatamente.

E quando amua? Quando amua é preciso trata-lo com paninhos quentes, com pezinhos de lã porque para desamuar é o cabo dos trabalhos, é preciso seguir um regime exemplar de minuciosos cuidados para que o bebé diga olá novamente.

 

Dizem os especialistas que nossa flora intestinal dita o nosso peso, outros dizem que a cor dos nossos dejetos atesta a nossa saúde, outros dizem ainda que se os intestinos funcionam mal é porque algo está mal, claramente que o meu não funciona direito, será que me devo preocupar?

Na verdade ninguém gosta que lhe digam:

- Já fizeste Mxrda!

Posto desta forma até tem as suas vantagens.

 

E agora alguém que me diga quem é que teve a ideia parva de mudar o horário do Verão para o Inverno? Alguém acredita que isto faz bem a alguém?

É por causa das criancinhas, coitadinhas que acordam de noite. Uma oba!

Foi para que no tempo em que não havia eletricidade se trabalhasse mais horas!

Tenho uma novidade, já há eletricidade, sim a sério, e o meu organismo não gosta que lhe troquem as horas.

Havia lá coisa mais parva para inventar?

A profissão não define as pessoas

Ultimamente diversos meios têm publicado notícias em que se referem às pessoas pelos seus cargos, este tratamento é aceitável quando a profissão é revelante para a notícia, mas quando a notícia não se encontra relacionada com a atividade profissional da pessoa, qual o motivo para referenciarem constantemente a profissão dos visados?

 

Pior do que referirem a profissão é quando a pessoa se encontra desempregada e é constantemente mencionada como o desempregado ou a desempregada, como se o azar de se encontrar nessa situação fosse relevante.

Será preguiça de escrever o nome das pessoas? Será porque não sabem que outro tipo de título usar?

 

É tão redutor limitarem a existência da pessoa à profissão que exercem no momento da notícia, como se o que fazemos nos definisse, como se a nossa vida profissional tomasse conta de toda a nossa vida e nos reduzisse apenas ao que fazemos para nos sustentarmos.

Pode parecer um detalhe, apenas uma forma de nos referirmos a alguém de quem muitas vezes não podemos revelar o nome, mas é mais um sinal que a sociedade dá demasiada importância à profissão, à vida profissional, classificamos as pessoas pelo que fazem e não pelo que valem, reduzimo-las a uma das partes da sua vida, a que atribuímos maior importância.

 

O sucesso profissional, o que fazemos continua a ser visto como uma definição do que somos, passamos a maior parte da nossa vida a trabalhar, mas isso não significa que se deva resumir toda a nossa vida ao que fazemos no campo profissional.

O emprego é apenas uma dimensão da nossa vida, mas há muito mais para além disso, e é frequentemente o que escolhemos fazer nas horas de lazer que nos realiza, preenche e engrandece, pois é nessas horas que temos liberdade para sermos genuínos, sem obrigações, regras e condutas.

E se nessas horas revelamos o melhor de nós, é nessas mesmas horas que revelamos o pior, em que reputados profissionais se revelam uns biltres, uns pulhas, seres absolutamente desprezíveis, pois nem sempre a sucesso profissional é sinónimo de grandeza pessoal, hombridade e honestidade.

 

Não reduzam as pessoas aos seus feitos e desfeitos profissionais, isso não é sinónimo de nada, nem forma de tratar ninguém, se a notícia não é sobre a profissão da pessoa, deixem-na de parte, pois é irrelevante.

Não interessa se foi um professor, um desempregado, um caixa de supermercado, um advogado, um gestor, um telefonista, interessa sim o que fez que é motivo de notícia.

Indecisões, condicionalismos, burocracias e aborrecimentos vários – Simplex? Nem vê-lo.

Nunca gostei do nome Simplex, parece a cópia pobre do ”Clix custa nix”, nestas coisas sou antiquada, acho que as denominações escolhidas para organizações, entidades, programas, medidas estatais devem ser em bom português de Portugal.

E se verificarmos bem o topónimo o que parece anunciar é a junção do simples com o ex, ou seja, o simples que deixou de ser, será que ninguém fez esta interpretação? O nosso cérebro, sempre atento, assimila os termos em separado e processa-os inconscientemente, talvez por isso nunca tenha apreciado o termo.

 

Goste-se ou não da palavra, o Simplex surgiu para nos facilitar a vida ou para facilitar a vida aos fáceis, pelo menos é isso que se passa no caso da abertura de uma empresa, pois quem se preocupar com todos os detalhes, como por exemplo, quem desejar criar o nome da empresa depara-se de imediato com o primeiro condicionalismo, escolher um nome da lista que, sejamos meigos, são anedóticos ou ter o dobro do trabalho e registar o nome que pretende.

E aqui começa a saga da burocracia, dos processos, dos atrasos, houve um em particularmente interessante, necessitarmos de um documento para abrir uma conta bancária e necessitarmos de conta bancária para termos esse documento.

 

Ultrapassados todos os constrangimentos iniciais passa-se à etapa seguinte que implica abrir um estabelecimento e aqui é que as coisas se complicam, com opiniões distintas dentro do mesmo gabinete, com inspetores mal-intencionados e com as ofertas mais absurdas de serviços que não lembram ao diabo.

Não é de admirar que a maioria das empresas e estabelecimentos não cumpram a legislação porque é quase impossível, especialmente se os recursos forem limitados, cumprir com todos os requisitos e abrir em tempo útil.

 

Para além de todos estes entraves burocráticos, existem depois os nossos próprios entraves, quando nos dedicamos muito a um projeto queremos que tudo esteja perfeito e nem sempre é possível, mas para quem pensa tudo ao detalhe não conseguir esse detalhe é uma frustração e um stress.

É preciso abdicar, optar e tomar decisões que não nos agradam para que o projeto possa avançar, custa muito, morremos um bocadinho sempre que abdicamos daquela ideia espetacular por falta de tempo ou orçamento, mas não temos outro remédio.

 

Neste momento estou entre a mentalização que não é possível esperar que tudo esteja perfeito e entre a negação, ainda quero acreditar e convencer os meus sócios que é possível que tudo fique tal como imaginamos, mas começo a aperceber-me que terei de abdicar de alguns pormenores e modificar outros para que se encontre um meio-termo que não prejudique o conceito nem o prazo de execução.

Montar um negócio pode ser simples, se formos pelo caminho mais fácil ou se não tivermos constrangimentos financeiros, trilhar o próprio caminho com um orçamento restrito não é fácil.

 

Tudo que nos realiza de alguma forma é trabalhoso e envolve esforço, só assim as conquistas têm um valor especial, se voltava atrás? Nunca, não há nada mais gratificante do que ver um sonho materializar-se, nem que seja com pequenos ajustes dados pela realidade.

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