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Língua Afiada

Resoluções para 2018

Afinal quero fazer uma lista de resoluções para 2018, já estamos em Fevereiro, mas acho que ainda vou a tempo, até porque Janeiro valeu por um ano inteiro em tantos aspetos negativos que só quero risca-lo do calendário.

 

1 - Deixar de ser crente

Como se diz aqui no Porto – fia-te na virgem e não corras, pois nunca fiando, nunca fiando, por isso vamo-nos deixar de ingenuidades e correr, as pessoas são más, as pessoas não mudam e por isso acabou-se a crença nas pessoas e no bem, é preciso deixar de ter fé na esperança que tudo acabará bem, a vida não é um conto de fadas.

 

2 - Eliminar as expetativas

Este ano é que vai ser, agora é que vai correr tudo bem, finalmente parece que vejo luz, afinal é só a vista a ficar cansada do escuro, não vai nada correr bem porque a vida corre mal naturalmente como corre bem outras vezes, não há propriamente um calendário, já devias saber disso. - Voltar ao ponto 1.

 

3 – Deixar de sonhar com o que poderia ser

Ninguém sabe disto, mas sonho, muito, sonho muitíssimo acordada, não é preciso muito, eu do pouco faço muito, basta uma pontinha de esperança para eu sonhar todo um filme, antevejo todo um futuro promissor, cheio de sucesso, felicidade, harmonia, como sou feliz nos sonhos que tenho acordada. Para quê? Só para criar expetativas que nunca se concretizarão. – Voltar ao ponto 2.

 

4 – Deixar de construir realidades alternativas

É um escape e uma prisão, quando algo não corre como eu espero eu construo toda uma realidade alternativa, ou outras realidades, pode variar consoante o dia, faço uma espécie de plano B, isto é tão critico que chego a ver a minha vida até ser velinha, dá medo mas imagino-me muitas vezes a morrer de diversas formas, em diversas idades e em diversas vidas alternativas? Para quê perder tempo com o que nunca acontecerá. – Voltar ao ponto 3.

 

5 – Dar às coisas a importância que elas têm

Viver intensamente, sentir intensamente cada dia, pois isso é muito bonito quando estamos de bem com a vida, quando a vida nos corre mal é só uma grande frustração, por isso nada melhor do que a apatia, as coisas correm mal paciência, nem tudo pode correr bem, é seguir em frente e assobiar para o lado e cantar para espantar os males, nem vale a pena fazer planos alternativos, eles saião igualmente furados, é assim a vida. – Voltar ao ponto 4.

 

Estes cinco pontos têm sido a receita para tentar conviver pacificamente com a vida, é triste, é verdade, mas os sonhos criam-nos demasiadas expetativas e estou cansada de nada ser como eu esperaria que fosse, olho para a minha vida e não há uma única coisa que esteja como eu queria ou ambicionava.

O que faço para mudar? Nada, parece que há uma relutância que me impede de lutar, como se achasse que é a vida que mereço, não me reconheço, mas também não me quero encontrar, no entanto, nunca me conheci tão bem, talvez seja essa a minha maior desilusão, conhecer-me e não gostar de mim, aceitar que me acomodo, que me escuso de mudar, que prefiro ficar quieta a sair da minha zona de conforto enquanto encorajo os outros a mudar é o grande paradoxo da minha vida.

Resoluções para 2018 sobreviver a este turbilhão de sentimentos contraditórios, a esta bipolaridade de emoções, encontrar um caminho e ter coragem de o seguir, porque às vezes é preciso dar um passo atrás para correr em frente, não sejas crente. – Voltar ao ponto 1.

Irritações – complicar a simplicidade da vida

Não sei porque é que as pessoas gostam de complicar as coisas simples, não há necessariamente segundas intenções em tudo, por vezes estamos apenas a exprimir uma opinião, uma vontade, fazê-lo não implica manipular, magoar ou mudar a opinião dos outros.

Na vida poucas coisas são certas ou erradas, poucas coisas são preto no branco, há muitos tons de cinza e há todo um mundo de cores a serem descobertas.

Entristece-me a incapacidade de usufruir das coisas simples, de momentos, de se criarem constantemente expetativas infundadas que nos impedem de viver o aqui e o agora.

Frustram-me de forma avassaladora as pequenas frustrações e os dramas que elas despertam, a vida não é como queremos, planeamos, vamos agora transformar-nos em crianças mimadas e fazer de uma birra um objetivo obstinado? Se não é como eu quero, não é.

Esta inabilidade de lidar com as circunstâncias da vida não só causa frustração, angústia como nos impede de viver. Adiar a vida para as circunstâncias perfeitas, é simplesmente estúpido, mas os seres humanos são estúpidos, nada mais normal do que vivermos estupidamente.

Também tenho as minhas embirrações, os meus braços de ferro com a vida e com as pessoas, há situações que são difíceis de digerir, travam-se-nos na garganta com um sabor amargo, a fel, a bílis que tentámos expulsar a todo o custo, sem sucesso, não podemos mudar os factos, apenas podemos aprender a conviver pacificamente com eles.

Perante um imprevisto, temos duas hipóteses revoltar-nos, questionar-nos, massacra-nos com o problema ou seguir em frente, quando se tratam de coisas corriqueiras e banais nem sei porque predemos tempo a lamentar, é resolver e seguir em frente.

Podemos soltar o típico palavrão, dar duas bofetadas imaginárias a alguém, ranger os dentes, partir um prato, mas a seguir a essa explosão, adiantará de muito remoer? Claro que não, todos sabemos disso, se o sabemos porque caímos sempre no mesmo erro de escrutinar as desgraças até ao seu âmago?

Quando acontece uma verdadeira desgraça na vida, alguns de nós aprendem com ela, perante uma calamidade todos os pequenos percalços do dia-a-dia passam a ser insignificantes, na verdade nunca tiveram significado, nós na nossa bolha de egoísta e egocêntrica é que os consideramos dantescos.

Outros porém assumem que a desgraça é parte integrante da sua vida e qualquer problema tem a mesma dimensão de uma grande calamidade, como se estivessem sempre à espera da contrariedade para se enraivecerem, talvez seja porque não conseguiram ultrapassar a desgraça inicial, talvez seja porque preferem lidar com as situações dessa forma.

As pessoas são tão, mas tão complicadas, que qualquer tentativa de simplificar, de desmitificar é encarada como afronta ou irresponsabilidade, porque só nós é que sabemos, só nós é que sentimos, ninguém conhece a nós ou à nossa vida como nós.

Estou cansada das pessoas, das suas birras, da sua forma de estar, da sua falta de otimismo, do constante lamentar, do dar importância a minimidades.

Importa assim tanto discutir, debater trivialidades enquanto o tempo corre e não espera por nós?

Irrita-me, como me irrita profundamente sentir o tempo passar enquanto se desperdiça a vida em coisas que não são importante na vida.

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