A minha Páscoa costuma ser passada em família por isso se decidimos passar uns dias fora nunca incluímos o domingo de Páscoa onde o almoço e o receber o Compasso é obrigatório na casa dos meus pais.
Sempre adorei a Páscoa, gosto de festas, adoro ter a família reunida, gosto de comer, gosto de festejos, sorrisos, beijos e abraços e na Páscoa tudo isto acontece, não sinto a alegria que sentia em criança, caraterística dos tempos em que as nossas maiores preocupações eram vestir uma roupa nova e passear de casa em casa numa competição de quem beijava mais cruzes e comia mais amêndoas.
O dia começava cedo com o construir do caminho de flores para receber o Compasso Pascal, depois de terminado era nosso trabalho vigiar para que ninguém o pisasse, havia ali também uma competição, escolhíamos as flores mais bonitas, quase sempre silvestres para desenhar com elas flores feitas de flores.
Se não tivéssemos ido à missa no dia anterior era quase certo que iríamos no dia de Páscoa de manhã, sempre gostei da forma entusiasta com que se dizia – Aleluia, Aleluia! Com tanta alegria, as pessoas ficavam realmente alegres ou seríamos nós, as crianças, que víamos nelas espelhada a nossa alegria?
O dia era passado a correr de casa em casa, dos familiares mais próximos, mas também dos vizinhos e da família dos vizinhos, tive o privilégio de crescer entre três famílias grandes, a da minha mãe mais próxima geograficamente, a do meu pai relativamente perto e a da vizinhança, erámos uma grande família local e era tão bom.
Na Páscoa juntava-me com os meus amigos e percorríamos casa a casa, seguíamos o sininho pascal que anunciava a vinda da procissão encabeçada pela cruz, apostar por onde surgiria também fazia parte, erámos muito competitivos, mas tão, tão solidários, naquilo que era a verdadeira competição saudável.
Todo o dia era passado em festa bem recheado de doces, amêndoas e chocolate, não era grande adepta de doces, mas pão-de-ló, pudim francês e bolinhos de amor sempre foram os meus favoritos.
Pintávamos ovos com cebola e uma erva lilás do campo, não havia caça aos ovos, mas nem por isso corríamos ou brincávamos menos, aliás passávamos o dia em euforia, chegávamos à noite exaustos e com o coração cheio.
Durante muitos anos o dia de Páscoa foi um dia muito feliz, foi perdendo magia não porque cresci, mas porque foram faltando pessoas, a rua dos meus pais está cada vez mais vazia, não há praticamente crianças e os amigos estão longe, confesso que sinto falta de ver a rua cheia de pessoas num convívio tão espontâneo quanto bom.
Agora há alegria, há partilha, há mais fartura e até há prendas, mas faltam-me as pessoas, infelizmente algumas já partiram deixando saudades, outras estão cá mas estão mais longe, sinto falta da azáfama da multidão, era uma multidão, mas era a nossa.
Está a crescer uma nova geração e cabe-nos agora a nós proporcionar-lhes momentos inesquecíveis, ocupar-lhes a mente de boas recordações e encher-lhes o coração de partilha e amor.
A Páscoa de hoje é diferente, mas não tem de ser pior, alguém tem de iniciar tradições e costumes, não podemos deixar que memórias antigas nos impeçam de criar novas.
A minha Páscoa de hoje é criar recordações para os mais novos, para que um dia recordem com tanto carinho quanto eu a Páscoa da sua infância.
Votos de uma Páscoa inesquecível a todos.