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Língua Afiada

O domínio da sociedade pelas ferramentas digitais

Há cerca de 15 anos quando entrei no mercado de trabalho a exercer funções numa empesa da área das novas tecnologias e foi-me explicado o funcionamento do Google e do seu algoritmo mágico que classificava e pontuava os sites pela sua relevância, o motor de busca varria e compilava dados da rede a uma velocidade estonteante, apresentando os dados mais relevantes para casa utilizador.

A ideia de ter sempre os resultados mais adequados era interessante, um serviço gratuito e eficaz, o motor de busca que nos dá todas as respostas a todas as perguntas, mas basta estar do outro lado da equação por algum tempo para perceber que os resultados adequados são antes resultados manipulados, naquela época recorria-se a vários truques para que os sites fossem listados como relevantes pelo motor de busca, hoje procura-se fazer sites Google friendly que têm de obedecer a vários critérios e inevitavelmente temos de investir em publicidade para aparecer, com a consciência que se investimos uma vez veremos as nossas visitas orgânicas diminuir a pique quando deixarmos de investir.

 

Há uns anos vi um documentário sobre empresas nos Estados Unidos que não consigam vender porque foram cortadas dos resultados do motor de busca, chegando a colocar a Google em tribunal por discriminação. Sempre disse que o motor de busca Google era uma ferramenta demasiado perigosa, permite compilar demasiada informação, informação é poder, demasiado poder concentrado numa organização privada que vende e troca informações pessoais como sendo comerciais, não me surpreenderam as acusações.

 

Entretanto a Google alargou os seus serviços sendo o Gmail uma ferramenta importantíssima para quem usa e para a empresa que tem uma fonte inesgotável de recolha de informações sempre que estamos com sessão iniciada, o que acontece na maioria das vezes.

A quantidade de dados recolhidos e a forma como podem ser processados é incrível, é possível personalizar particamente tudo: como, quando, a quem queremos apresentar informação.

 

Neste cenário aparece o Facebook, a rede social com o objetivo de promover a interação das pessoas na rede, de transpor para a sua rede as relações e interações que temos na sociedade real, promovendo a aproximação das pessoas, o contacto fácil a qualquer momento, a partilha, o comentário, o culto do like.

Aproveitando uma das necessidades básicas do ser humano – o desejo de integração, reconhecimento e aceitação pelos pares – a rede social cresce exponencialmente em contas particulares e depois em contas profissionais, torna-se uma ferramenta importantíssima de comunicação entre empresas e os seus públicos, torna-se tão importante e relevante que começa a fazer uma verdadeira caça às páginas de amigos com nomes de empresas para que se convertam em páginas de gostos, altera o algoritmo de apresentação de resultados e uma empresa que pretenda comunicar com o seu público só o consegue fazer eficazmente pagando, mesmo para comunicar com os fãs que já conquistou.

 

Esta manipulação assume proporções gigantescas quando é possível controlar toda a informação que é apresentada, anúncios de produtos ou serviços conseguimos distinguir de conteúdo, mas como distinguir notícias falsas e informação criada especificamente para nos levar a pensar de determinada forma? Não é fácil, porque todo o processo é pensado para nos levar a crer que se trata de conteúdo verdadeiro e credível.

Esta arma ajudou a eleger Donald Trump e esta a ajudar a que diversos grupos mais ou menos radicais a instalarem-se e a ganharem relevância na sociedade através da criação de conteúdos específicos para públicos específicos, manipulando a opinião pública, implementando silenciosamente tendências e pensamentos.

 

O grande público não tem consciência que é manipulado diariamente e a maioria das pessoas quando confrontada com esta realidade não lhe dá a devida importância, encolhendo os ombros ou achando que não é um tema que lhe diga respeito.

Enganam-se, esta manipulação em maior ou menos escala afeta todas as pessoas, superando até a influência dos media tradicionais, por mais pensamento crítico que tenhamos e por mais atentos que estejamos, somos sempre influenciados pela teia de manipulação.

 

Se influenciar tendências de consumo ou apresentar produtos e serviços de acordo com as nossas preferências pode ser aceitável, manipular o que pensamos, levando-nos a agir e a votar em conformidade é um caminho muito perigoso, especialmente quando têm existido diversos avisos de que as gerações mais jovens são incapazes de distinguir uma notícia falsa de uma notícia verdadeira, os próprios órgãos de comunicação social na ânsia do furo e do like propagam notícias falsas.

 

Diogo Queiroz de Andrade fez um excelente artigo para Jornal Público que explica como a política tem sabido usar esta máquina de manipulação de forma indecente sem qualquer ética ou respeito pela liberdade de pensamento, um texto que todos deveriam ler para perceberem a gravidade da situação.

 

Temos permitido que os grandes players digitais dominem o que gostamos, desejamos e compramos, estamos a um passo que controlem o que pensamos acerca de tudo, um caminho perigoso para que a sociedade seja dominada e subjugada por quem pagar mais.

Carta aberta aos comerciais deste mundo

Aos gestores e gestoras comerciais deste mundo,

 

([Des]larguem-me! Poderia ficar por aqui)

 

Vender é uma tarefa árdua que implica muito trabalho, esforço e dedicação, pregar porta-a-porta ou de telefone em telefone não é fácil, nem os emails vieram facilitar, porque a maioria deles vai para a pasta reciclagem sem ser aberto.

Vender não é fácil, a menos que se tenha nascido com um dom natural para vender gelo aos esquimós, mas não é por ser difícil e trabalhoso que se pode justificar e perdoar tudo.

Não, chega ali a um ponto que a nossa paciência e benevolência para com a profissão nos faz revirar os olhos e deitar fumo pela boca ao estilo banda-desenhada.

 

A nível pessoal gostava de me dirigir a dois tipos de comerciais:

Aos comerciais que fazem telemarketing, essa maravilhosa técnica de vendas agressiva.

A esses dou apenas um conselho, se a pessoa não se mostrar interessada, esqueçam e avancem para a próxima, é estatística, quantos mais contactos fizerem mais probabilidades têm de acertar numa pessoa que esteja com tempo e disposição para vos ouvir, insistir com alguém só leva a duas coisas: a perda de tempo de ambos e a irritação e frustração de ambos, não quer, não tem tempo, não está interessado, next.

 

Aos comerciais que fazem abordagens diretas em superfícies comerciais:

Não abordem pessoas que estão claramente cheias de pressa.

Não abordem as pessoas que estão carregadas de sacos, especialmente quando parecem pesados.

Nos supermercados falem com as pessoas à entrada, na saída há probabilidade de terem produtos perecíveis e ninguém quer chegar a casa com o gelado derretido.

Foquem-se nas pessoas que passeiam descontraídas, que olham para o vosso balcão e parecem interessadas, porque enquanto estão a pedinchar atenção a quem não vos quer ver nem pintados de ouro, potenciais clientes passam-vos ao lado.

Analisem antes de abordarem, não é física-quântica é bom senso. 

 

A nível profissional:

Quando alguém diz que não tem interesse, é porque não tem interesse.

Quando alguém diz que vai analisar e depois responder, aguardem pela resposta, aguardar significa esperar uns dias, não é para ligar ou enviar e-mails todos os dias a solicitar respostas.

Saibam isto, quando alguém esta a ponderar analisar a vossa proposta, quanto mais insistirem maior é a probabilidade de vos enviarem um e-mail com um garrafal – não estamos interessados.

Ninguém gosta de pessoas chatas, ter alguém a interromper constantemente o nosso trabalho não é agradável, é cansativo e muito prejudicial ao vosso trabalho.

Por melhor que seja o vosso serviço ou produto não forcem, porque nem sempre as empresas necessitam dos vossos serviços ou produtos, outras vezes não têm capacidade financeira para os adquirirem, não temos orçamento disponível, temos o orçamento fechado ou temos outras prioridades significam isso mesmo, não há disponibilidade porque existem outros assuntos mais prementes.

 

Nunca, mas nunca tentem passar por cima da pessoa de contacto, é um dos maiores erros que podem cometer, primeiro porque cada vez mais empresas disponibilizam contactos diretos de vários departamentos e segundo porque se essa pessoa se sentir melindrada irá minar-vos, ninguém gosta de ser menosprezado e pior do que isso ninguém gosta de interferências no seu trabalho. Podem ter sorte e conseguirem um novo contacto, mas na maioria dos casos serão reencaminhados para a primeira pessoa com quem falaram e não serão muito bem recebidos.

Não menosprezem quem vos dá as respostas, sejam assistentes, assessores, secretárias ou secretários, primeiro porque é falta de profissionalismo e segundo porque quem controla a agenda tem muito poder.

Num departamento com homens e mulheres não se apressem a bajular os homens, nem sempre são eles os chefes, e mesmo que exista um chefe nem sempre é ele que decide, felizmente há chefes que delegam e confiam no critério e nas capacidades dos seus colaboradores, tentem perceber quem tem mais poder de decisão e influência, mas tratem todos por igual, envolvam todos no processo.

 

Sejam educados, cordiais e respeitem todas as pessoas, arrogância, prepotência e ares de superioridade não combinam bem com estratégias de vendas.

Coisas insignificantes com significado

 

Abri uma folha digital em branco, uma necessidade, uma urgência de não deixar por dois dias o blog sem textos, não sei se é obrigação, dever, responsabilidade ou simplesmente hábito.

Primeiro pensei em escrever algo leve como se quer e se recomenda às sextas, depois pensei explicar-vos que tenho cada vez menos tempo disponível para escrever, mas logo me encolhi, estamos todos sem tempo, nota-se, haveria ainda assim muito para discorrer sobre as dificuldades que tenho tido em organizar o meu tempo, no acumular de tarefas causadas por mudanças e acréscimos, muito poderia falar da minha falta de disciplina e da inabilidade de priorizar.

Pensei ainda dar-vos um review de uma série, mas não me apetece escrever sobre as histórias dos outros, apetece-me escrever sobre a minha história, mas não quero que este blog seja apenas sobre a minha vida, quero que seja sobre como vejo a minha vida e a dos outros e também como vejo o mundo.

O mundo é cada vez menos um lugar convidativo, desilusão constante, carece de exemplos de força, honestidade, idoneidade, verdade, não há dia em que não se descubra uma corrupção, um crime, sempre os houve, mas o que esperar quando os exemplos, os líderes são o oposto do esperado?

Há tanto para discutir e refletir, pensamos dois minutos nos temas fraturantes do mundo e seguimos com a nossa vida, a reunião não pode ser adiada, o comboio não espera por nós, o jantar não se prepara sozinho, embrenhamo-nos na vida sem nos inebriarmos dela, afinal o tempo corre e nós corremos com ele, incapazes de perceber que ele só corre porque nós vivemos a correr.