Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Língua Afiada

Pessoas alienadas

Há muitas pessoas desocupadas, ou como se diz comumente “sem vida própria” e por isso focam-se nas coisas mais estranhas, gastando tempo e recursos úteis em batalhas sem sentido.

Infelizmente hoje todos temos razão, mas ninguém ouve a voz da razão, as nossas certezas não são mais que uma vontade, que um querer que se confunde com a verdade e o com os factos.

Desejarmos muito que algo aconteça, sentir que somos os donos da razão não faz com que estejamos certos.

 

Algumas pessoas por vezes estão tão alienadas da realidade, têm uma visão tão enviesada dos factos que vencem as outras pelo cansaço, somos capazes de aceder um capricho só para que desistam e deixem de nos importunar.

É assim que muitas pessoas conseguem as coisas mais ridículas das empresas, pela pressão, pelo cansaço, pela insistência e porque muitas vezes o dano causado à imagem não justifica a firmeza na resposta.

Neste jogo onde o cliente acha que tem sempre razão, a razão é-lhe dada pela diplomacia da empresa que perante uma perseguição feroz acaba por tirar o sapato e sacudir a pedra para bem longe. Mas há ainda uma espécie diferente, aquele com quem não se pode ser diplomata, pois é dar-lhe um poder e uma arma de arremesso para toda a vida, é assim que empresas ficam reféns de consumidores tresloucados que fazem exigências absurdas mas a quem se veem obrigados a fazer todas as vontades.

 

Estes espécimenes parecem multiplicar-se a olhos vistos, com uma teimosia e uma tenacidade capazes de fazer inveja ao mais ilustre empreender, movendo mundos e fundos para levar a sua vontade avante, vangloriam-se dos seus feitos inspirando outros desocupados de assuntos mais importantes em similares empreitadas.

A ameaça ao dano da imagem com uma incessante difamação é a arma mais recorrentemente usada, sendo as redes sociais o expoente máximo da ameaça, é gratuito escrever mal de alguém no Facebook chegando a centenas ou milhares de pessoas rapidamente, pessoas que não precisam de factos e de provas para condenar, afinal não é o consumidor que tem sempre razão?

 

Felizmente que as marcas têm fãs que muitas vezes dão a reposta que a marca não pode dar, mas fica sempre uma nódoa, uma mancha na reputação pois há sempre quem apoie o tresloucado, provavelmente outro tresloucado ou alienado.

É pertinente que empresas, marcas, personalidades, entidades, organizações tenham uma postura menos defensiva e mais atacante, quando começarmos a ver condenações e multas por difamação e injúria talvez as pessoas pensem duas vezes antes de difamar uma empresa ou pessoa.

Cansada de pessoas alineadas a quem é preciso explicar que 2+2 são 4 e não 5 como eles querem que seja, só porque não estão satisfeitos ou porque têm um problema a culpa não é obrigatoriamente da marca ou da empresa, na maioria das vezes é mesmo um problema vosso, que vocês mesmos criaram.

 

Do ódio ao desprezo

Na escala dos sentimentos de um lado está o amor e do outro está o ódio, assim como de um lado está a inveja e do outro está a empatia.

O ódio é o contrário do amor, mas é do amor que nasce, é impossível odiar alguém por quem não sentimos amor, amizade, admiração, à exceção dos ódios fundamentalistas incutidos por lavagem cerebral e herança cultural só somos capazes de odiar quem conhecemos.

O ódio é o pior sentimento que podemos sentir porque quem sente ódio faz mal a si próprio, é um sentimento danoso, que corrói todos os outros sentimentos, mesmo que amor, empatia, generosidade, amizade, compaixão nos preencham o coração o ódio far-nos-á mal.

É um sentimento que nos assola nos momentos solitários, que nos invade os pensamentos, que nos incomoda e que nos faz desejar mal ou fazer mal, porque o ódio incita à maldade como o amor incita à bondade.

Há feridas que se abrem que nunca cicatrizam, sabemos disso quanto o tempo em vez de as mitigar, as atiça como num fogo impossível de extinguir, nestes casos o ódio nunca poderá dar lugar a um sentimento bom, percebemos que não haverá tempo suficiente numa vida para perdoar, nem sequer existirá tempo para esquecer.

O que nos resta então quando não queremos odiar?

O desprezo, o desprezo e a indiferença são a solução, mas há todo um processo para lá chegarmos, é preciso aceitar que não podemos mudar a situação, é preciso aceitar que não queremos perdoar e assumir esse fardo, viver com mágoas e ressentimentos não faz bem, é preciso que estes sentimentos sejam arrumados devidamente e relegados para segundo plano, desvaloriza-los até que um dia toda a mágoa se converta em nada.

Asco, nojo, repudia, ódio não se convertem magicamente em indiferença, mas quando isso acontece é libertador e compensador, é um peso que deixámos para trás, só dessa forma conseguiremos viver leves.

Há situações que simplesmente não se podem resolver, resta-nos esperar que o tempo nos ensine a não dar importância, pouco a pouco o incómodo deixa de existir, o desejo de vingança cessa e o esgar dá origem ao menosprezo, esse liberta-nos e é retemperador, no fim de contas não há melhor vingança que o absoluto e certeiro desprezo.

Sou a favor da eutanásia

Sou a favor da liberdade, da liberdade de viver como quero e de morrer como quero.

O meu texto poderia terminar aqui porque é à liberdade de cada um que nos estamos a referir, nada me impede de por termo à própria vida para lá da vontade de a viver, se não há vontade de viver para quê continuar a estar vivo?

Comumente associamos eutanásia a sofrimento físico, ao alívio de quem sofre desmedidamente sem remédio e sem alternativa, pouco ou nada se fala do sofrimento psicológico, pouco se fala da razão principal para alguém reclamar o final da sua vida, a falta de propósito.

No nosso egoísmo e no nosso mundo de sonho onde a vida humana é sagrada e inviolável, nem sequer equacionamos essa falta de propósito, lembramo-nos apenas de todos os que sofrem agarrados a uma cama com dores excruciantes que pedem para que seja colocado um fim ao seu sofrimento e na nossa compaixão desejamos que partam em paz, para que o seu sofrimento termine.

Porque queremos desesperadamente manter vivos os que anseiam partir? Por egoísmo? Por medo? Por tabu? Por herança? Por vergonha? Por necessidade de um exemplo de coragem?

Podemos não compreender o desejo de alguém partir mais cedo, mas isso não nos dá o direito de o impedir, a sua vontade, a sua liberdade deve permanecer.

Não se trata de dignidade, de compaixão, de misericórdia, em última instância trata-se do direito de escolher viver ou morrer.

Que se legisle como, quando, em que situações, que se avalie a capacidade de discernimento de quem decide, mas que não se imponha a ninguém uma vida que não deseja.

Obrigar alguém que pede para morrer a viver não é proteger a vida humana, é tortura, é interferir com a sua liberdade.

Ninguém tem o direito de decidir sobre a vida e a morte, como não devemos sentenciar a morte, não devemos sentenciar a vida impedindo alguém que já há muito está morto de morrer, viver é muito mais do que respirar, quando não há sentido, propósito, esperança, não faz qualquer sentido impor os nossos desejos, a nossa consciência aos outros.

Pág. 1/6