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Língua Afiada

A indignação por alguém ter a casa paga em 5 anos

Os portugueses são mesmo mesquinhos e invejosos, não conseguem ficar felizes com as conquistas dos outros e são incapazes de aprender com elas, acredito mesmo que é precisamente o contrário, o seu desporto favorito é rebaixar e arranjar justificações completamente absurdas para tentar diminuir essas conquistas.

Os portugueses perdoam tudo aos ricos, aos que têm tachos, aos que têm cunhas, justificam a sua miséria com a sorte dos outros e são incapazes de sair da sua concha e perceber que é possível fazer diferente, mesmo que eles não consigam há pessoas que conseguem, se pode parecer um milagre nesta sociedade castradora de mobilidade social, pode, mas que é possível é.

Este texto vem a propósito desta imagem no blog Contas Poupança, imagem inicialmente publicada no Facebook do blog e que gerou uma onda de comentários completamente absurda.

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É impressionante a quantidade de pessoas que sentem incomodadas com o facto de um casal conseguir liquidar o crédito habitação aos 35 anos, a par das incomodadas estão as incrédulas e as que tentam arranjar justificações, que não sejam as dadas pelo casal, para que isso tenha acontecido.

A pessoa escreveu que foi “ com muito trabalho, muita poupança e muita organização”, mas ninguém consegue acreditar nisso e dão as desculpas mais inusitadas e parvas, há mesmo quem fale em incapacidade e doença oncológica, mas está tudo doido?

Não sei que realidade conhecem, mas eu conheço casais que tinham a casa paga até antes dessa idade e não receberam nenhuma fortuna e não viveram reféns em casa como alguns sugerem, mas são pessoas muito organizadas, poupadas e ponderadas e espantem-se até têm carros novos.

Não tenho casa própria, mas tenho capital para a pagar uma (e isto é relativo pois depende muito do tipo de casa que estamos a falar) não recebemos nenhuma herança e não recebemos ordenados milionários, não vivemos fechados em casa e tivemos uma infelicidade na vida que nos privou de ter agora mais capital.

Esta postura irrita-me profundamente porque sofro com ela algumas vezes, assim como pessoas que conheço também sofrem, só porque escolheram organizar a sua vida de forma a não dependerem de créditos, nem todos temos essa escolha, é verdade, mas também não é preciso andar a pagar um crédito em 40 anos só porque o banco permitiu, mas se conseguem estar bem com essa situação, quem sou para dizer que fizeram uma má opção.

Cada um gasta o seu dinheiro como quer e leva a vida da forma que bem entende, as prioridades e escolhas de cada pessoa ou casal apenas a eles dizem respeito, não há formas piores nem melhores de viver, existem apenas diferentes formas de viver e encarar a vida, o dinheiro, por mais que nos custe admitir, faz parte da nossa vida e é uma parte importante, é o dinheiro que define muito do que somos, porque aquilo que somos também depende do que fazemos e o dinheiro condiciona o que fazemos e como nos relacionados, não tenham ilusões, o dinheiro até as nossas amizades condiciona.

O que me espanta é a dualidade de critérios, de uma forma geral, do que vou ouvindo, todas as pessoas dizem que o facto de não terem casa paga e de terem essa obrigação todos os meses lhes condiciona muito a vida e as escolhas, curiosamente não vejo nenhuma dessas pessoas interessada em estabelecer o pagamento da casa como prioridade, preferem gastar o dinheiro num sem fim de coisas à sua escolha, mas amortizar o crédito não é opção, e é simples de explicar, muito simples, financeiramente compensa, especialmente a quem tem filhos, porque neste país tudo favorece quem deve e não quem poupa.

Deixem-se de lamentos se querem estar livres desse fardo psicológico que é ter um crédito habitação, estabeleçam como prioridade a sua liquidação, se não é isso que pretendem deixem de criticar e atacar quem o faz, queriam agora o melhor de dois mundos, ter a casa paga e ter a dedução do crédito nas prestações da creche, no cálculo dos subsídios e dos abonos, era espetacular, mas não é possível.

Deixo-vos um conselho, analisem o vosso crédito, se calhar até poderiam pagar bem menos se fizessem um esforço para entenderem o que é pagam.

 

Coisas que acontecem lá em casa #12 – Eletrodomésticos

A lâmpada do forno fundiu e parece ser impossível retirar a proteção para a mudar, depois de um olhar atento ao estado geral do forno enquanto o limpava no sábado à tarde, pensei – Acho que vou comprar um forno novo.

O dito já tem quase 11 anos e nunca me encheu as medidas, especialmente no que toca à confeção de bolos, a ideia pareceu-me boa e estava já com o discurso aprumado para dar a notícia ao meu marido.

Entretanto a eletricidade foi-se abaixo, o Moralez diz-me que pelo disparo tinha sido um curto-circuito, pois tinha tentado ligar novamente e não tinha conseguido.

Inspeção a todos os aparelhos eletrónicos lá de casa, descobriu que tinha sido a máquina de lavar roupa, que após inversão a posição da ficha voltou a arrancar e a trabalhar sem problemas.

Só que não, uns 20 minutos depois chega a triste notícia da sua morte anunciada.

Moralez – A máquina de lavar roupa avariou e acho que é o controlador.

Eu – Já não vou comprar um forno novo.

Moralez – Forno?

Eu – Estava a pensar comprar um forno novo, agora já não há forno para ninguém.

 

Ontem na hora de almoço uma colega de trabalho pergunta:

– Então já decidiste Bimby ou Yammi?

Eu – Máquina de lavar roupa.

 

Planos adiados, nem forno, nem máquina de cozinhar que agora o mais importante é mesmo ter a roupa lavadinha.

A boa notícia para vocês? É que provavelmente terão aqui um guia para adquirir uma máquina de roupa em breve, porque sou vossa amiga e vou partilhar convosco a pesquisa exaustiva que fizer ou então vou só comprar a mais económica e não se fala mais no assunto.

Os polícias do português dos blogs

Há uma espécie de comentador, maioritariamente anónimo que gosta de comentar particularmente os posts destacados na homepage do Sapo que ignora completamente o conteúdo do texto para dar lições de português aos autores.

Ensinar a escrever bem, chamar a atenção para um erro não é necessariamente mau, as críticas construtivas são bem-vindas e os erros podem ser corrigidos de modo a que o texto para além de ter conteúdo relevante, passe a ter conteúdo sem erros ortográficos ou gramaticais, o que não é de bom-tom é maltratar o autor com arrogância, altivez e má-educação, demonstrando que por mais letrado que seja nunca será bem-educado.

Raras as vezes a correção tem apenas o intuito de corrigir, com ela traz a intenção de humilhar e de subjugar o autor do blog a uma posição de ignorante ou iletrado, curiosamente e por pura coincidência (quero acreditar que é porque o texto alcança mais pessoas) isto acontece a textos publicados num lugar de destaque ou então esquecendo as coincidências é mesmo porque o comentador está invejoso e decide ser juiz e carrasco do texto.

Já muito se falou aqui e em outros blogs dos destaques, mas parece que estes ainda fazem muita confusão a muitas pessoas, pessoas essas que julgam que a sua opinião pessoal é mais válida que a opinião da equipa da Sapo Blogs ou do próprio portal Sapo, questionar as escolhas dos outros com base na sua opinião é só ser hipócrita e cínico, mas o que interessa é o bom português.

Dizer que somos todos uns iletrados e que a iliteracia é dominante nos blogs, não é uma crítica é uma constatação, uma consequência óbvia da sociedade que temos, onde a leitura não é hábito regular, onde dar erros ortográficos e gramaticais não impede ninguém de passar de ano ou de exercer uma profissão, onde dar erros, por mais grosseiros que sejam, não é vergonha, é feitio e onde de uma forma generalizada ninguém dá importância a esses erros.

Este desprezo pela língua portuguesa está tão patente na nossa sociedade que até a adoção do acordo ortográfico foi permitida, os nossos governantes representam o povo e a mensagem que nos passaram foi a que temos de subjugar a nossa língua aos maneirismos e modas que outros países lhe atribuíram.

No fundo, poucos são aqueles que se preocupam com a língua portuguesa, tal como não se preocupam com tantas outros temas importantes da nossa cultura e identidade, é por isso mais do que natural que exista desleixo e assimilação de tiques do português de outros países que nos entra todos os dias pelos olhos e ouvidos no cérebro pela televisão, imprensa e agora redes sociais, basta ver quantos mantras se partilham e replicam em português do Brasil.

É triste perceber que cada vez se escreve pior e cada vez menos se tem vergonha disso, temos mais habilitações académicas mas isso não é sinónimo de saber escrever sem erros, o que não faltam são doutores que não conseguem escrever um parágrafo sem darem erros.

Apesar desta triste realidade, importa realçar a democracia que, em geral, as redes sociais, tantas vezes amplamente criticadas e os blogs, em particular, deram às pessoas, qualquer pessoa escreva ela bem ou mal pode exprimir livremente a sua opinião, não temos de ser todos aspirantes a Camões para escrevermos, aliás começar a escrever é o primeiro passo para escrever melhor.

Ninguém tem o direito de dizer a quem quer que seja que o seu texto não merece ser publicado, ninguém tem o direito de humilhar publicamente alguém só porque decidiu escrever e não sabe escrever melhor, em Portugal precisamos de espírito crítico e escrever é um exercício bom para treinar esse espírito.

Aos polícias do português dos blogs faço um convite, criem blogs que incentivem a escrever bem, é um tema bastante pertinente que até costuma estar em destaque. Não têm de agradecer, lá no fundinho, bem no fundinho o que vocês querem é protagonismo.

De nada.