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Língua Afiada

Ingratidão

Dentro da imensidão de sentimentos e emoções que podemos sentir, dos negativos há dois que me deixam profundamente desgostosa com as pessoas que os praticam, a incoerência conforme a situação e a ingratidão, não raras as vezes coabitam na mesma pessoa em simultâneo e permanente.

Ingratidão é aquele sentimento que é pior do que ódio, raiva, rancor, só não é pior do que a Inveja, pois a Inveja nem chega a ser sentimento é o alimento dos pobres de valores e de sentimentos, é a prova máxima de falta de inteligência.

Ingratidão é o sentimento dos rufias, dos sabichões, os chicos-espertos, dos falsos, dos fúteis, dos néscios e dos imprudentes.

Não falo aqui da ingratidão diária que todos nós por vezes automaticamente praticamos, que atire a primeira pedra quem nunca reclamou de algo sem pensar no esforço e dedicação que a outra pessoa colocou na tarefa, reclamar de uma refeição à mãe durante a adolescência deve ser regra, falo de outro tipo de ingratidão daquela que é tão flagrante que molda o relacionamento interpessoal.

Refiro-me à ingratidão que as pessoas sentem perante uma atitude bondosa, louvável que alguém teve para com elas e que não era expetável. Todos nós ajudamos os nossos e até desconhecidos se for caso disso, mas há ajudas que só estamos dispostos a dar, ações que só estamos dispostos a fazer em situações especiais e para pessoas especiais. E é dessas pessoas especiais que vem a maior ingratidão possível.

Ingratidão, não significa especificamente falta de agradecimento, é algo que ultrapassa o reconhecimento imediato e instantâneo, é algo que sentimos depois, mais tarde quando já não necessitam de nós, não acho que as pessoas devam bajular e ficar eternamente a agradecer algo, mas esquecer e maltratar a quem deveriam estar gratas é uma falta de respeito e de noção desconcertantes.

Infelizmente a gratidão é só mais um dos valores que está em desuso como a empatia, respeito, compaixão e solidariedade, não é surpreendente numa sociedade cada vez mais egoísta onde o eu se tornou mais importante que o nós.

A figura de coach pessoal que apregoa o eu, eu, eu e só depois os outros esquece-se muitas vezes de referir que uma pessoa para se sentir bem não pode simplesmente ignorar o que a rodeia e maltratar e negligenciar os outros, especialmente os que sempre contribuíram ou contribuem para o seu bem-estar.

Devemos respeitar a nossa personalidade, vontade e forma de viver, mas devemos estar sempre abertos a mudanças, a crescer, a evoluir, especialmente se isso contribuir para o bem de todos, ninguém, absolutamente ninguém é feliz sozinho, somos seres sociais precisamos de conviver, confiar, amar e durante estes tempos estranhos de Covid-19 isso foi bem visível, é por isso importante refletir até onde o eu se deve prolongar, porque na maioria das vezes somos mais felizes a fazer pequenas concessões para fazermos alguém feliz do que a fazermos apenas aquilo que queremos.

Não nos devemos anular, mas não nos devemos elevar a ser o nosso próprio Deus, agradecer, retribuir, ter consciência das nossas ações é o caminho mais certo para a felicidade e paz interior.

Nunca seremos felizes a deixar um rasto de inimizades, dívidas emocionais, ingratidão, inveja, egoísmo, nunca seremos felizes a deixarmos os outros infelizes.

Se realmente tudo se paga neste mundo, quero ter muito a receber e quase nada a dever.

 

 

 

#GeorgeFloydChallenge – A última moda estúpida e repugnante das redes sociais

Jovens nos Estados Unidos decidiram lançar um desafio nas redes sociais no qual se fotografam com o joelho no pescoço de amigos a rirem-se, esta encenação que ridiculariza a detenção e morte de George Floyd tem sido feita maioritariamente por jovens brancos.


Que conclusões podemos retirar desta atitude? Que há um longo caminho para vivermos numa sociedade igualitária e justa e que o combate ao racismo deve estar na ordem do dia em todo o mundo.
Quando temos jovens que perante um crime horrendo reagem com uma tentativa de brincadeira repugnante, algo está a falhar na sua educação e formação, algo básico como respeitar o próximo, como ter empatia e tratar todas as pessoas como iguais.


Sinto-me arrepiada, enojada e revoltada sempre que alguém desvaloriza o racismo e isso acontece demasiadas vezes, infelizmente sinto que podemos estar a regredir em vez de evoluir a julgar pelo crescente apoio a movimentos de extrema-direita que incitam ao racismo e xenofobismo e até machismo pois consideram que todos os males da sociedade são causados pelos estrangeiros, por pessoas de culturas diferentes e até por mulheres que estão a ocupar cargos que consideram serem apenas de homens.


Esta visão simplista da sociedade pode ser muito apelativa quando as pessoas são cada vez mais egoístas, invejosas e carentes de valores, se lhe juntarmos revolta e ignorância temos uma combinação explosiva ideal para fomentar movimentos extremistas baseados em teorias da conspiração, notícias falsas, mitos e mentiras.

Tenho imensa pena que o Covid-19 não seja seletivo no contágio, espero que um dia a Natureza seja capaz de produzir um vírus que ataque apenas aqueles que merecem, é que mesmo com todas as evidências científicas e sob a ameaça de um vírus que não diferencia cor, estatuto social, género ou idade as pessoas têm dificuldade em entender que todos somos iguais, que vivemos sob o mesmo o sol e a única coisa que nos diferencia é a roleta russa do nascimento, será assim tão difícil entender e interiorizar isso?
Ignorância, tanta ignorância se propaga neste mundo.


A polícia já prendeu alguns dos sociopatas que fizeram este desafio, espero que os prendam a todos e que o desafio seja contido o quanto antes.

Distanciamento nas creches e amas? Pura Utopia e Ignorância

Impedir bebés e crianças pequenas de se tocarem e brincarem uns com os outros e com os adultos que os supervisionam é impossível.

É impossível, inviável, estúpido, infeliz, desumano, cruel e revela que mais uma vez que em Portugal o superior interesse da criança, chavão tantas vezes utilizado para justificar tantas decisões, não é realmente o mais importante.

Privar uma criança da interação humana é tudo menos no seu interesse, neste caso é no interesse da economia, e se quisermos incluir aqui o interesse das crianças, fazemos um esforço e podemos pensar que lhes estamos a assegurar um futuro melhor, mas a que custo?

Um custo demasiado alto, já que é essencial ao seu desenvolvimento a interação, a partilha, a troca, os afetos, os mimos e até as birras e as brigas.

Não sei se quem definiu as regras não percebe nada de crianças, do seu desenvolvimento e do funcionamento de uma creche ou se preferiram simplesmente ignorar e esperar que as educadoras e auxiliares consigam de alguma forma minimizar as interações, a certeza que tenho é que é impossível implementar as regras de distanciamento.

O distanciamento é impraticável com crianças tão pequenas, não conseguem entender os motivos da distância e se insistirmos muito em afasta-las vão interiorizar que isso é a norma e estaremos a ensina-las a serem frias, distantes, egoístas e egocêntricas.

É claro que devemos tomar as devidas precauções e concordo que exista um reforço da limpeza e desinfeção dos espaços, mas manter as crianças afastadas não me parece razoável ou colocamos o coração de parte e nos mentalizamos que vamos ter as crianças juntas ou ficamos com elas em casa.

Já custa horrores separar-nos delas depois de estarmos tanto tempo com elas em casa, pensar que as vamos deixar num local sem afetos é agonizante.

No meu caso, tive uma conversa franca com a ama e deixei-a à vontade para lhe dar colo e mimos e para a deixar interagir com as outras crianças, não consigo conceber que seja de outra forma.

Não conseguimos estar totalmente a salvo e não conseguimos controlar tudo, no que ao Covid-19 diz respeito às vezes mais parece uma questão de sorte ou azar, é que não fazemos sequer ideia se já tivemos o vírus, é tentar viver com esta normalidade estranha e ter os cuidados necessários e esperar não termos azar de nos infetar-nos num descuido nosso ou dos outros.

Às crianças, deixem-nas ser crianças, só assim crescerão saudáveis e felizes para serem adultos saudáveis e felizes.