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Língua Afiada

E a minha progressão de carreira?

Cresci a saber que existiam dois tipos de empregos bons, trabalhar para o Estado ou trabalhar para um banco, com os anos percebi que trabalhar num banco era mais uma questão de posição do que benefício, mas confirmei que trabalhar na Função Pública é realmente o melhor emprego que se pode ter em Portugal.

Não confundir emprego, que implica neste caso trabalhar por conta de outrem, com outro tipo de atividade que nos providencia remuneração, como ser empresário ou profissional liberal.

 

Então vamos lá por os pontos nos is para ver se os indignados de serviço sossegam que eu não quero ser causadora de ataques cardíacos a ninguém.

Este post é sobre a minha, minha, progressão no trabalho.

Ora vejamos as vantagens de trabalhar para Função Pública:

- Aumentos consoante a inflação (Aos anos que trabalho já teria tido uns quantos)

- Progressões automáticas da carreira (Mesmo com os congelamentos recentes já teria subido)

- Possibilidade de progressão mediante concurso (Infelizmente no privado isso não existe.)

- Regime especial de saúde – ADSE (ninguém disse que não pagavam, só não entendo porque é que só dão essa possibilidade ao público)

- Reforma a 100% e possibilidade em alguns cargos de reforma em idade inferior à regra geral (sim continuam a existir regimes especiais, especialmente para os intocáveis que refiro mais abaixo)

- Horário de trabalho reduzido e flexível na maioria dos casos (não vejo aqui nenhuma mentira)

- Facilidade na obtenção de créditos bancários (há, porque há maior proteção no trabalho é uma consequência da estabilidade)

- Atestado médico pago a 100% (Teria ficado de baixa muito mais vezes se fosse a 100%, em vez de vir trabalhar de rastos, agora temos todos de ir porque o regime é geral)

- Impossibilidade de serem despedidos (não é impossível mas é tão difícil que é muito pouco improvável que alguém se dê ao trabalho de tentar)

- Mais dias de férias (Ui aos anos que trabalho já tinha acumulado alguns e atenção eu até majoração).

 

Com a TROIKA em Portugal pensei realmente que se iriam repor algumas igualdades e que se fossem cortar algumas gorduras do Estado, mas a reforma na Função Pública não passou de uma miragem e agora com um Governo de esquerda pressionado pelos sindicados e com sede de votos as promessas eleitorais são para manter e as progressões da carreira estão de volta.

Não sou especialista em economia, mas nunca entendi os aumentos progressivos e automáticos no Estado independentemente de o país estar ou não a crescer.

 

Temos uma máquina demasiado pesada, com custos elevados e sempre que se falam em cortes é a contestação total, compreendo, e mais digo que não se devem retirar direitos e regalias, isso não é certo, especialmente porque mesmo na Função Pública não são todos iguais, há demasiados regimes especiais e quem leva a maior fatia do bolo são os intocáveis, aqueles que nem beliscados são com os cortes e as mudanças.

Esses, nem sequer necessitam de se chatear, os seus subalternos tratam de encher as ruas em manifestações de descontentamento e protesto, os seus tentáculos estendem-se a quem coordena as massas e entre avanços e recuos eles continuam as suas carreiras intocáveis.

 

Enquanto isso a minha progressão na carreira continuou, como sou boa profissional e competente progredi naturalmente na carreira, tenho mais responsabilidade, mais autonomia, mais trabalho, mais preocupações, mais stress, com os anos fui somando muita coisa à minha carreira, orgulho-me dela, infelizmente faltou somar o mais importante, faltou somar dinheiro.

Progressão na carreira? Sim, todos vamos tendo, só se esquecem de aumentar progressivamente a remuneração, infelizmente essa não é aumentada automaticamente, só porque me limito a aparecer para trabalhar.

 

Não tenho nada contra os funcionários públicos, não tenho inveja, não posso ter porque nunca quis seguir essa carreira, a não ser talvez na adolescência em que tive o devaneio de querer ir para a Marinha, se quisesse uma carreira na função pública teria com certeza escolhido outra profissão que não esta.

Este post foi simplesmente um desabafo pessoal de alguém que tal como milhares de portugueses gostava de ver o seu trabalho reconhecido monetariamente. Isto não é um jornal, não é um estudo científico, que relata factos, isto é um blog pessoal, meu, e mais do que uma opinião é um desabafo.

Sobre o emprego

Há coisas que me tiram do sério, mas tanto que tenho ganas de distribuir bofetadas a quem as profere.*

Uma delas é dizerem que-

Não se podem queixar porque a empresa paga a tempo e horas!?

A sério? Não é suposto isso acontecer?

Ou agora o normal é as empresas atrasarem o pagamento de ordenados?

Desde quando é que pagar atempadamente aos funcionários é uma qualidade?

Os empregados não trabalham o mês todo para receberem o seu ordenado?

 

Outra é dizerem que:

Não se podem queixar porque têm emprego.

A sério? Têm emprego ou têm trabalho? Ou será escravidão?

Este país está assim não é porque a entidade patronal manda, é porque o povo que deveria ser quem mais ordena, se limita a seguir ordens, baixa as orelhas e dá-se por satisfeito com o que tem.

E quando reclama, reclamam de quê?

Das regalias dos funcionários públicos, em vez de lutarem pelas mesmas regalias.

Indagam e escrutinam quem conseguiu melhor, inventam desculpas e refugiam-se nos lugares comuns.

Estão assim porque querem, admitam isso.

 

Eu admito, admito que me acomodei, que deixei passar demasiado tempo, que não me impus quando tive a oportunidade e agora estou a pagar caro o custo dessa oportunidade.

Se desisti? Não, não deve haver uma semana em que não reclame e que não faça ver a quem de direito as injustiças que por aqui se cometem. Se ajuda?

Ajuda a dormir com a consciência tranquila.

 

Se baixei os braços?

Não, estou a construir um caminho alternativo, um plano B que um dia, tenha eu forças, será o plano A.

Não me escuso em desculpas vãs, na crise, nas dificuldades, há sempre algo a fazer, sempre, é bom que se tenha consciência disso, pena que não tenham.

A alternativa pode ser um caminho doloroso, mas existem sempre alternativas.

Soubessem o que me custa engolir algumas coisas, custa-me ainda mais comentar algumas delas com a minha mãe, que sempre me educou para defender os meus direitos.

Abana a cabeça e diz: “Lutamos tanto contra a escravidão no trabalho e agora voltou tudo ao mesmo.”

 

Uma vergonha o que a minha geração está a fazer a este país… a trabalhar de graça, a trocar conhecimentos e competências por uns trocos, tudo porque há sempre alguém que o faça e porque no fim do mês as contas invariavelmente caem.

Se calhar devíamos seguir todos o conselho de Passos Coelho, imigrar e deixar este país para os governantes governarem ar e vento e os padrões a mandarem neles mesmos.

Ou então recusar-nos a trabalhar, se as empresas não podem dar boas condições de trabalho é porque algo está mal:

- Incompetência da gestão – fechem e deem lugar a outros

- Enriquecimento – deixem de ser gananciosos e distribuam os rendimentos

Este país está tão mal, tão doente, tão podre, que isto só se resolve com uma revolução.

 

*quem me conhece sabe que sou contra a violência, mas há situações em que eu própria não me controlo.