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Língua Afiada

Será a inveja o bruxedo dos nossos dias?

O dia das bruxas já passou, mas elas se existirem, não exercem só durante um dia, uma vez bruxas, sempre bruxas.

Não acredito nas bruxas das fábulas, mas acredito que existem pessoas más, são em maior número que as pessoas boas, há entre os dois extremos uma grande área cinzenta, mas existem pessoas realmente más e pessoas genuinamente boas, embora acredite que as últimas sejam uma espécie em vias de extinção.

 

As pessoas más não estão diante de um caldeirão a despejar poções mágicas e a proferir receitas maldosas, mas congeminam para o mal dos outros com palavras e ações para as prejudicarem, se isto não é ser bruxa não sei o que será.

Sorte a nossa que não têm poderes mágicos e não voam numa vassoura quando são descobertas, sorte a delas que não são exiladas da comunidade ou queimadas numa fogueira.

Apesar de não terem poderes mágicos, de não fabricarem poções e não lançarem feitiços, as bruxas atuais lançam más energias, antigamente dizia-se que era o mau-olhado, o mau-olhado não é nada mais do que despejar sobre algo ou alguém um sentimento mau tão grande que as afeta, já vi plantas secarem de inveja, se a maldade tem a capacidade de matar uma planta, com certeza de terá algum efeito nefasto nos humanos.

 

Existem muitas forças, energias, espíritos o que lhe queiram chamar que não entendemos, mas que sentimos, não todos, acredito que umas pessoas são mais permeáveis do que outros, mais sensíveis ou simplesmente mais atentas.

Não gosto muito de pensar, falar ou escrever sobre este tema, pois quem procura encontra e nem sempre encontramos boas energias ao nosso redor, mas ultimamente tenho pensado mais no assunto.

Quando a vida não corre como o esperado tentamos arranjar algo ou alguém para culpar, faz parte da natureza humana culpar os outros, mitos, crenças e até religiões têm a sua origem no que não conseguimos explicar, fantasiamos o que não entendemos e justificamos o que não conseguimos aceitar.

 

Consciente disso tenho afastado o pensamento deste tema, pois na vida há muita coisa que não se explica, muitos acontecimentos fruto do acaso, muitas consequências que são apenas uma questão de sorte ou azar.

Mas as frases rapidamente evoluíram do acaso para o imaginário.

- Não temos sorte nenhuma.

- Acontece sempre algum imprevisto.

- Deve ser karma.

- Parece bruxedo.

 

E não é que parece mesmo? Tem sido sempre assim, pensamos que reunimos as condições todas, ultrapassamos todos os obstáculos, encontramos soluções, enchemo-nos de esperança e acontece sempre algo que não nos deixa avançar.

Será que existe alguém que nos deseje tanto mal que não nos condicione a vida?

Claro que não, primeiro não acredito que alguém tenha esse poder, segundo não consigo conceber quem nos deseje tanto mal, terceiro isto é só uma tentativa de encontrar uma resposta para uma pergunta que não pode ser respondida.

O meu lado racional sabe que este pensamento é uma fantasia, existem pessoas más que nos prejudicam deliberadamente outras inconscientemente, mas não existe nada capaz de nos condicionar toda vida.

 

Mas e se existir? Talvez isso explique o que sempre ouvi dizer desde criança:

“Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.”

E vocês acreditam?

Acham que a inveja e a maldade de alguém podem fazer-nos mal?

Será a inveja a poção das bruxas dos nossos dias?

O olho gordo

Há pessoas que por melhor que estejam na vida e por mais conquistas que obtenham têm uma espécie de acidez constante que não as deixa desfrutar plenamente as suas vitórias.

Não sei se será uma sede constante de poder, uma ambição desmedida ou uma necessidade constante de se mostrarem melhores do que quem os rodeia, os motivos podem ser diferentes mas a motivação parece ser igual a todos, a necessidade de provarem alguma coisa, não a eles próprios mas aos outros.

 

Esta incapacidade de se sentirem plenamente felizes, esta insatisfação impossível de satisfazer anda por norma de mãos-dadas com a inveja, independentemente de tudo o que conseguiram alcançar há sempre algo que vão ver na vida dos outros que os irrita, faz-lhes uma espécie de cócegas no estômago, que se nuns dias é apenas um incómodo, noutros revolve-lhes mesmo as entranhas causando-lhe uma indisposição impossível de controlar.

 

O que essas pessoas não percebem é que o que lhes causa impressão é precisamente o contrário daquilo que as motiva, é a capacidade de festejar pequenas conquistas, conviver pacificamente com as pequenas derrotas e encarar a vida com a agilidade necessária para dosear as doses de alegria e as doses de tristeza, alavancando a felicidade e subestimando a tristeza, nem que para isso seja necessário alterar e ajustar objetivos, estabelecer prioridades, abicar de alguns sonhos e definir novas metas.

Para ser feliz é preciso uma certa leveza de espírito, um determinado sentido de humor, um pouco sarcástico, por vezes inconveniente e pragmatismo, saber escolher as batalhas que devemos travar e as que colocar de parte, aceitar o que não pode ser mudado é o caminho mais fácil para a serenidade que nos ajuda a ser felizes.

 

Todos temos os nossos dilemas, as nossas quimeras, os nossos problemas, sejamos sinceros não há vidas perfeitas, se relegamos as nossas conquistas para segundo plano porque nem tudo é perfeito, estamos a impedir-nos de ser felizes.

Se uma pessoa bem-sucedida se foca no exterior, na felicidade dos outros nunca poderá ser feliz, mas o olho gordo, maior do que a barriga é enganador, é tentador invejar aquilo que não se tem achando que esse é o melhor caminho para o conquistar, quando o caminho é o inverso, a felicidade conquista-se sem querer, sem pensar, sem dar muita importância, desligando-nos das mesquinhezes do mundo e apegando-nos aos sentimentos, aos pensamentos, aos valores, ao que realmente nos preenche.

 

O problema destas pessoas é terem mais olhos que barriga, já diz o ditado popular, não é a colocar no prato mais do que conseguem comer, é quererem alcançar mais do que conseguem absorver e processar com o estômago da mente, esse não dilata, tende mesmo a encolher com a idade.

 

O olho gordo engorda a tristeza, a tacanhez, a pobreza de espírito, incapacita qualquer degustação prazerosa por melhor que seja a carta servida, por mais famoso que seja o Chef, por mais exclusivo que seja o restaurante, por mais caro e mais prestigiado, até as trufas mais raras se entaliscam na garganta.

Há sapos difíceis de engolir, depois há os impossíveis, a inveja é um deles, não se mastiga, não se engole, não se dirige, é ácida, corrosiva e permanente, aloja-se ali a nível do esófago e espelha-se num rosto raivento e num sorriso postiço, impossíveis de disfarçar.

 

Há nas pessoas invejosas uma sombra, uma mancha persistente impossível de limpar, nem com todo o sucesso do mundo, não há fome que nunca acabe, nem sede que nunca termine, um dia tudo acaba, melhor passar a vida satisfeito do que uma com fome e sede impossíveis de saciar.

Alergia na alma

Aquelas pessoas dissimuladas que escolhem cuidadosamente o que dizer e quando o dizer, que descontextualizam conforme lhes convém e que se encrespam na sua suposta especial superioridade fazem-me alergia, alergia na alma.

Sinto um formigueiro interior pelo corpo todo, um nó na garganta e nos casos mais graves o asco é tão grande que sinto as entranhas a revolver, quase como se o ácido que vociferam me atacasse diretamente o estômago.

Esses seres que se acreditam superiores e interessantes não passam de parasitas da sociedade que bebem inspiração da inveja que sentem do sucesso dos outros, respiram para se autoelogiarem através dos ataques que dirigem aos alvos que cobiçam, como se um mesquinho ataque fosse causar algum desmérito a quem tem talento.

Desprezo pessoas invejosas e mesquinhas que pensam esconder-se atrás de subterfúgios inócuos, em desculpas vãs e argumentos sem sentido, não fosse eu deteta-las tão bem, não me causassem elas alergia, seriam apenas seres medíocres a querer ganhar espaço.

Mas esta alergia que me causam é tão forte que me incomodam como as melgas ansiosas por beberem um pouco de sangue doce nas noites quentes de verão.

O melhor inseticida para elas? Felicidade, quando maior a nossa felicidade maior a sua tristeza.