Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Língua Afiada

A abstenção, o futebol e a solução.

Depois de sucessivas recomendações da Comissão Nacional de Eleições (CNE) o Governo vai mesmo proibir os jogos de futebol nos dias de eleições, ou seja, vai criar uma lei que proíbe a Federação Portuguesa de Futebol de agendar jogos em dias de eleições.

Está é, na minha opinião, uma das leis mais estúpidas alguma vez criadas nos últimos anos, em primeiro lugar porque penaliza uma entidade privada, completamente independente do Estado e em particular, pois não proíbe todas as competições desportivas apenas as afetas à modalidade Futebol, logo uma lei discriminatória, em segundo lugar porque é completamente ineficaz, impedir as pessoas de assistirem a um jogo de futebol não faz com que as mesmas atendam às mesas de voto.

 

Em reação a esta decisão, a CNE saúda a posição do Governo, mas lamenta que tenha sido necessário recorrer à lei e que não tenha imperado o bom senso e o dever cívico.

A coerência é adjetivo que não assiste à CNE, pois se esperava que imperasse o bom senso e o dever cívico, nunca deveria ter feito tal recomendação à FAP ou ao Governo, deveria antes incentivar os cidadãos a exercerem o seu direito de voto.

Se é um direito, não é uma obrigação e como tal, só vota quem quer, se querem mesmo que todos votem tornem o voto obrigatório, só existe um problema isso não seria democrático.

A situação seria facilmente resolvida se os políticos colocassem os interesses do país à frente dos seus e em vez de promessas vãs, ideias megalómanas e doses massivas de ego, cumprissem o dever cívico de servir o país e levassem à letra o juramento que fazem diante do Presidente da República, juramento esse que é o único em Portugal escrito em contrato, assinado que depois de quebrado não apresenta quaisquer consequências.

Já alguém tinha pensado nisto? Coisas estranhas deste país. Livremo-nos nós de não cumprir um qualquer contrato, nem que seja de telecomunicações, e estamos metidos em sarilhos legais.

O que os políticos ainda não entenderam é que os portugueses não gostam de proibições, não resulta, somos o típico povo que gosta de pisar o risco, de ultrapassar os limites de velocidade, de fugir aos impostos, de passar a perna ao outro, no fundo, somos os políticos que nos governam.

 

Já estou mesmo a ver as conversas em dias de eleições:

- Não posso ir ver o glorioso… Vou marcar um jogo de solteiros contra casados, assim no final sempre comemos umas bifanas e bebemos umas cervejolas.

- Oh Manel, já que não tens que ir ver o Porto no Domingo podíamos aproveitar para ir dar um passeio?

- Sebastião não temos jogo do Sporting que tal marcarmos um almoço com a malta toda? O que dizes pá?

 

Não faltarão com certeza alternativas às pessoas que haja ou não futebol não têm a mínima intenção de votar.

Então qual a solução? Tão simples, mas tão simples que não consigo compreender como não pensaram nisto antes. A solução é um incentivo, mas daqueles bons, deixo aqui algumas sugestões, simples e fáceis de implementar:

 

- Raspadinhas

Toda a gente sabe que os portugueses adoram raspadinhas, façam do boletim de voto uma raspadinha. No fim entregam o boletim e recebem uma raspadinha verdadeira. A alegria, o frenesim que seria nas mesas de voto. O prémio? Nem precisava ser um Audi topo de gama, poderia ser um fim-de-semana no Algarve ou um cartão presente daqueles que televisões oferecem.

 

- Comes e bebes

Se há povo que gosta de comer e beber é o português, as mesas de voto são quase sempre nas escolas, nas escolas existem cantinas, porque não dar uma sandes e uma bebida a quem vota, um porco no espeto e uma barraca de cerveja é mais do que suficiente.

 

- Incentivo fiscal

Estamos constantemente a queixarmo-nos que pagamos muitos impostos, que tal ter uma bonificação nas deduções no IRS? Vote e receba mais 50€ de reembolso.

 

- Cheque dentista

Vote e receba um cheque dentista.

 

No fundo basta pensarem em qualquer solução que já usaram para angariar votos e aplicarem-na no incentivo aos votos.

Não é física quântica, é só oferecer o que estão fartos de prometer.

6 comentários

  • Imagem de perfil

    Psicogata 20.09.2017 12:00

    Estas ideias são uma brincadeira :)
    Mas não duvido que resultassem.

    Há um sem fim de coisas que interferem com as eleições, o futebol é uma gota no oceano, o problema é que as pessoas valorizam muito pouco o seu direito e voto.
    As soluções apresentadas são uma brincadeira, mas não é preciso mudar a constituição para apelar ao voto, campanhas informativas são precisas.
    Mas no fundo o problema resume-se à minha última frase " é só oferecer o que estão fartos de prometer."
    Se os políticos fossem decentes e cumprissem não só as promessas como o juramento que fazem, a abstenção seria com certeza menor e os cidadãos envolveriam-se mais com a política.
  • Imagem de perfil

    Andy Bloig 20.09.2017 12:11

    Essas eram boas ideias e são fáceis de aplicar, se não existissem legislação que impede que o voto possa ser "remunerado". (Ainda são coisas de 1976 porque oferecer algo pelo voto é como se fosse voto obrigatório, tal como acontecia até 1974.)

    Lembras-te daquelas campanhas para parar de fumar, que se gastavam milhões em publicidade, seguiu-se as palavras chocantes nos maços e as imagens? Nenhuma fez efeito... a única que fez reduzir o número de fumadores foi o aumento de preço ser acima do triplo da inflação.
    E há a coisa pior (está relacionada com aquilo que escreveste ontem) que é o não acreditar que ir votar pode resultar em algo proveitoso para a pessoa.
    Quando era pequeno, a minha avó vendia roupa e artigos para casa numa praça de Lisboa. Tinha escola de manhã, passava parte da tarde com a minha avó, pois a praça era a 1 minuto da escola. Uma da coisas que me divertia era nas campanhas eleitorais. Ganhavam-se autocolantes, canetas, peluches, chapéus ou outros brindes só por ir cumprimentar o candidato que andava por lá a passear. Tive uma caixa de sapatos com milhares de autocolante das eleições desde 1982 até 1989. Nalgumas cheguei a cumprimentar os candidatos todos e era um miudito.
    Actualmente, se quiseres cumprimentar um candidato, ou marcas audiência (e pagas uma consulta jurídica) ou és membro do partido ou pagas um bilhete para ir a um jantar e ouvires o comício (mesmo nestes, a maioria das pessoas nem chega a cumprimentar o candidato/a). As acções de rua parecem mobs que aparecem, tiram fotos, dão uma entrevista e desaparecem. A maioria dos eleitores não sabe em quem é que pode votar (algo que se tornou normal nas autárquicas e legislativas). Se não sabem quem são as pessoas, entre votar e não votar, não lhes faz diferença.
  • Imagem de perfil

    Psicogata 20.09.2017 12:20

    O que eu acho é que também não interessa a muita gente que mais pessoas votem, pois se isso acontecesse talvez os partidos ditos grandes que alternam a cadeira do poder entre si talvez tivessem adversários capazes de lhes fazer frente.

    Aqui na minha zona têm existido arruadas frequentemente, mas é um caso à parte, ao contrário dos anos anterior há possibilidade do PSD perder a câmara e isso está a gerar uma campanha nunca antes vista e obras nunca antes vistas, nem em outros anos de eleições.
    Nunca assisti a tanta luta pelo poder.
  • Imagem de perfil

    Andy Bloig 20.09.2017 12:35

    Também... se só votarem 50 é mais fácil que um grupo mais coeso vença, pois serão quem tem mais votos.
    As arruadas acabam por ser só nas zonas comerciais. Onde moro, ontem esteve um candidato num jardim público a promover-se. Deram-me um panfleto e um cartão de visita, com as fotos dos candidatos à junta, câmara e assembleia municipal. Junto à porta de um centro comercial, estava outro partido a dar panfletos. Em mais de 50 fotos, só conheço 1...
    Empresários, advogados, técnicos de vendas, empreendedores... são as profissões. Já fui a várias assembleias da junta (pedir para resolver problemas dali da rua) e nunca lá vi ninguém que está naqueles papéis. (A junta é CDU com 7, mais 1 elemento do PSD e dois do PS.)
    O único que reconheci é alguém que é conhecido no concelho, pois é dono de um dos maiores restaurantes da freguesia e tem uma coisa cómica: Nas legislativas faz parte da lista da CDU, nas autárquicas já fez parte das listas da CDU, PS, CDS e este ano é parte da lista do PSD. Vai rodando pelos partidos, daí ser conhecido como o "troca-tintas" (o restaurante chama-se "A tinta pura do choco"). (Nunca conseguiu ser eleito... este ano é o 3 da lista para a freguesia, como o PSD elegeu 1 nas outras eleições, será mais um ano que não vai apanhar tacho. )
  • Imagem de perfil

    Psicogata 20.09.2017 12:48

    Aqui andam de casa em casa a falar com as pessoas e não somos propriamente uma freguesia pequena, todos os dias saem à rua em desfiles com música e bandeiras, só falta mesmo distribuírem brindes como antigamente.
    Mas há anos que não via uma campanha assim.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.