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Língua Afiada

A deselegância do vestir demonstra a deselegância do estar?

Uma pessoa estar pobremente mal vestida não significa que seja pobre, uma pessoa vestida com roupas luxuosas não significa necessariamente que seja abastada, a forma como nos vestimos não nos define, verdade, no entanto, também é verdade que é a nossa personalidade nos veste.

Uma pessoa pode vestir roupas simples, até um pouco gastas, mas ter uma imagem cuidada, uma certa atenção aos detalhes que lhe confiram uma certa elegância, até dignidade, que geralmente vem acompanhada de gestos e comportamentos igualmente dignos.

Se temos consciência de que a imagem conta e que no fundo é o nosso catão de visita, porque nos permitimos passar tantas vezes a imagem errada? Porque nos permitimos aparentar ser o que não somos? Porque insistimos em usar uma pele que não nos veste?

 

Tiro o chapéu aos despreocupados, não os que se acham despreocupados e se esforçam constantemente em o parecer, mas sim aos que o são realmente, que não se preocupam com a imagem porque a sua imagem está nas palavras e nos gestos que nos demonstram naturalmente que por detrás daquele desleixo se encontra uma mente demasiado ocupada e distraída para se ocupar e se deter com roupas.

Os que me causam estranheza são os que não são despreocupados, que tentam pelo contrário dar nas vistas pelo que vestem, mas que acabam sempre por fazê-lo pelas piores razões, seja porque não sabem adequar a roupa à ocasião, seja porque se nota tanto o esforço que se perde qualquer hipótese de classe.

 

Não sou moralista, acho que cada um deve vestir-se como bem entende e que a roupa não deve de todo definir-nos, são apenas trapos e o que interessa realmente é o conteúdo, mas podemos desassociar as duas vertentes? Não é assim tão simples.

Nos últimos tempos olho à minha volta e não consigo entender o que leva algumas pessoas a vestirem certos tipos de roupa, sejam mulheres ou homens, o que leva alguém a usar uma peça de roupa que não a favorece rigorosamente em nada? E que ainda passa uma imagem errada e nada abonatória, não podem ser tão ingénuas e pensar que a imagem não conta.

 

É necessidade de ser notado? Necessidade de ser aceite? Necessidade de estar na moda?

Este desleixo de não querer saber das consequências a par com a necessidade de chamar à atenção, exemplificará a sua atitude perante a vida, serão estas pessoas tão deselegantes a vestir como a pensar?

Dei por mim a pensar na sala de espera do consultório, se as pessoas que se vestiam de forma tão incoerente não seriam as mesmas que despejam nas redes socais frases da cifras que martelam na ideia da minha vida cuido eu, os invejosos não me atingem e que simultaneamente pedem, imploram por atenção, gostos e comentários, numa guerra constante entre o - não dou importância nenhuma ao que as pessoas pensam, mas preciso tanto da sua atenção e aprovação.

 

Será esta deselegância propositada e construída representativa de um pensamento e consequentemente comportamento descabido e deselegante?

Será que afinal o esforço de desassociar as pessoas da sua imagem tem sido um terrível engano, mais uma filosofia moderna sem qualquer sentido?

Teriam as nossas avós razão? Uma pessoa de bem, veste-se bem, com decoro e elegância, de acordo com as suas possibilidade e de acordo com a ocasião?

Uma pessoa de bem, não digo, mas uma pessoa educada e com bom senso, cada vez mais acredito que sim.

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