Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Língua Afiada

A profissão não define as pessoas

Ultimamente diversos meios têm publicado notícias em que se referem às pessoas pelos seus cargos, este tratamento é aceitável quando a profissão é revelante para a notícia, mas quando a notícia não se encontra relacionada com a atividade profissional da pessoa, qual o motivo para referenciarem constantemente a profissão dos visados?

 

Pior do que referirem a profissão é quando a pessoa se encontra desempregada e é constantemente mencionada como o desempregado ou a desempregada, como se o azar de se encontrar nessa situação fosse relevante.

Será preguiça de escrever o nome das pessoas? Será porque não sabem que outro tipo de título usar?

 

É tão redutor limitarem a existência da pessoa à profissão que exercem no momento da notícia, como se o que fazemos nos definisse, como se a nossa vida profissional tomasse conta de toda a nossa vida e nos reduzisse apenas ao que fazemos para nos sustentarmos.

Pode parecer um detalhe, apenas uma forma de nos referirmos a alguém de quem muitas vezes não podemos revelar o nome, mas é mais um sinal que a sociedade dá demasiada importância à profissão, à vida profissional, classificamos as pessoas pelo que fazem e não pelo que valem, reduzimo-las a uma das partes da sua vida, a que atribuímos maior importância.

 

O sucesso profissional, o que fazemos continua a ser visto como uma definição do que somos, passamos a maior parte da nossa vida a trabalhar, mas isso não significa que se deva resumir toda a nossa vida ao que fazemos no campo profissional.

O emprego é apenas uma dimensão da nossa vida, mas há muito mais para além disso, e é frequentemente o que escolhemos fazer nas horas de lazer que nos realiza, preenche e engrandece, pois é nessas horas que temos liberdade para sermos genuínos, sem obrigações, regras e condutas.

E se nessas horas revelamos o melhor de nós, é nessas mesmas horas que revelamos o pior, em que reputados profissionais se revelam uns biltres, uns pulhas, seres absolutamente desprezíveis, pois nem sempre a sucesso profissional é sinónimo de grandeza pessoal, hombridade e honestidade.

 

Não reduzam as pessoas aos seus feitos e desfeitos profissionais, isso não é sinónimo de nada, nem forma de tratar ninguém, se a notícia não é sobre a profissão da pessoa, deixem-na de parte, pois é irrelevante.

Não interessa se foi um professor, um desempregado, um caixa de supermercado, um advogado, um gestor, um telefonista, interessa sim o que fez que é motivo de notícia.