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Língua Afiada

Acusações de racismo marcam semana de Alta-Costura em Paris

Tudo começou nas redes sociais, mais concretamente no Instagram, quando Miroslava Duma, decidiu partilhar no stories o convite da designer Ulyana Sergeenko, para o seu desfile. A nota acompanhada com um ramo de rosas podia ler-se: «To my niggas in Paris» – “Para os meus niggas em Paris”.

A nota escrita à mão é uma referência a uma música de Kanye West e Jay-Z, N***as in Paris, e foi partilhada por Duma, que não se terá apercebido da questão moral relacionada com o facto de o termos estar a ser utilizado por duas mulheres caucasianas.

 

 

Instalou-se a polémica através da propagação do print screen da imagem do stories, entretanto eliminado, apesar de ser seguido por um pedido de desculpas, Ulyana Sergeenko não foi perdoada pela falha e Miroslava Duma também não.

Alvos de duras críticas e acusações de racismo as duas têm-se visto a braços com comentários de várias personalidades do mundo da moda numa polémica que não parece ter fim à vista.

Este é mais um caso que prova que não podemos partilhar ou comunicar o que nos aprouver nas redes sociais, especialmente as figuras públicas, que podem ver arrasada a sua reputação e ter seriamente a sua carreira ameaçada pelo uso de uma palavra.

 

Pessoalmente não vejo neste caso motivo para tanto alarme, em primeiro lugar claramente a palavra não foi usada de modo pejorativo, pelo contrário, trata-se obviamente de uma manifestação de carinho, de intimidade entre as duas amigas, em segundo lugar o termo é comumente usado na gíria nos Estados Unidos da América por jovens da comunidade Afro-americana e também por outros jovens, assumindo o significado não só de negro mas de mano, uma alternativa ao “Bro”.

O problema reside no background da palavra que deriva de nigger, um termo usado pelos sulistas com caracter altamente pejorativo e racista.

 

A grande questão pretende-se com o contexto, a palavra se for usada por negros não parece magoar ninguém, mas quando usada por brancos assume outro significado, passando a ser uma ofensa. Dada a história e o peso da palavra é perfeitamente aceitável, devemos respeitar que membros de uma determinada cultura e/ou grupo permitam certos tipos de tratamento que estão vedados a pessoas exteriores.

A questão aqui é que Ulyana Sergeenko não se estava a referir a nenhum negro, mas sim a uma amiga, numa clara imitação de um comportamento, nem sequer se pode acusá-la de ridicularizar a expressão, pois vê-se claramente que não era essa a intenção, aliás no pedido de desculpas entretanto apagado podia ler-se “nós usamos a palavra começada por «N» às vezes quando queremos acreditar que somos tão cool como os tipos que a cantam.”

Na minha opinião a existir indignação seria pela apropriação da expressão, no limite dizer que não é correto brancos usarem essa expressão e que não é certo um determinado grupo apropriar-se de expressões de outro, há que saber respeitar as diversas culturas e grupos.

Criticar a apropriação da palavra é uma coisa, acusar de racismo um branco por usar uma expressão de negros exatamente como eles a usam é só parvo.

Na minha opinião a utilização da expressão de forma carinhosa por brancos é sinal de respeito, admiração e de integração e globalização, num mundo cada vez mais global é impossível conter, restringir hábitos, linguagem a um só grupo, especialmente quando esse grupo divulga amplamente a mensagem em músicas cantadas por todos independentemente da raça, género ou credo.

 

O uso do turbante há anos que desperta contestação, historicamente símbolo das mulheres negras, um adereço religioso com muitíssimo significado tem sido alvo de críticas sempre que é trazido para a moda, não obstante tem sido utilizado por mulheres de todo mundo como acessório e basta fazer uma pesquisa para perceber que apesar do seu simbolismo para os africanos e seus descendentes, o turbante não é exclusivo da sua cultura.

As apropriações culturais são sempre complicadas, mas serão mesmo apropriações ou apenas sinais da globalização?

 

Chamar-lhe-ia inspirações sejam de moda, sejam de linguagem, o ser humano inspira-se nas mais variadas situações, a inspiração cultural é mais rica e mais diversa seja no âmbito da moda, da decoração, da arquitetura, no campo linguístico, bebemos influências dos ídolos, das pessoas que tomamos como exemplo, que admiramos.

Será assim tão estranho que se use uma expressão de uma música famosa numa cidade citada na música?

Não, pode ter sido uma má escolha de palavras, mas daí a ser racismo vai uma longa distância.

 

Este caso é diferente do da H&M por causa da simbologia das palavras e a forma como foram utilizadas, mas parece que há cada vez mais dificuldade em distinguir o certo do errado, parece que de um lado estão os que não veem mal em nada, do outro os que veem mal em tudo.

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