Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Língua Afiada

Adeus Mário Soares

Mario-Soares-1984.jpg

 

Recordo-me de Mário Soares desde criança, tenho vaga memória do “Soares é fixe”, cresci a ouvir a admiração dos meus pais pelo homem e político, conscientes da importância do seu papel na conquista da liberdade, por ser fundador do Partido Socialista, por ser uma figura incontornável da democracia.

Sempre o vi como uma figura simpática, sempre me pareceu idoso, com as suas bochechas caraterísticas, nutria simpatia por ele sem saber explicar bem porquê.

 

Cresci, expandi os horizontes e percebi que não existem santos em lado nenhum e muito menos na política, Mário Soares não era um santo, mas isso não faz com que tenha menos relevância na história de Portugal.

Desde que foi hospitalizado que as vozes do povo se ergueram, não para o aclamar como em outros tempos, mas para contestar, para apontar o dedo, para insultar.

Pelas redes sociais leu-se um pouco de tudo, desde desejos de morte a impropérios inenarráveis, comentários, observações deploráveis que não deveriam ser feitas a pessoa alguma.

 

Após o seu falecimento os insultos continuam, diria mesmo que pioraram, coincidência ou não, todos eles são apresentados como verdades absolutas, mas sem qualquer fundamentação, palavras soltas, muitas vezes sem sentido, frases carregadas de ódio e frustração.

Os indignados do costume a dizer as barbaridades habituais.

 

Curioso que esses indignados de sempre, não parem dois segundos para pensar que Mário Soares foi uma das figuras mais importantes para que estes possam dizer e escrever o que pensam livremente.

A liberdade e a democracia são para o bem e para o mal, é lamentável que as pessoas não façam uso delas da forma mais conveniente, usam a liberdade para agredir e atingir a dignidade dos outros, cruzando o ponto onde termina a sua liberdade e começa o ataque da liberdade do outro.

 

Usassem essa liberdade, o pensamento livre, a emancipação de ideias, a tolerância das ideais, a autonomia de opinião para escrutinarem, investigarem, cultivarem, aprenderem, reclamarem, reivindicarem um Portugal melhor, menos corrupto, menos putrefacto de valores dariam melhor propósito a essa liberdade que tanto custou a ser ganha e que desvalorizam, pois acreditam que é um dado adquirido.

 

É lamentável que usem assim a morte de uma pessoa, seja a de Mário Soares, seja de qualquer outra pessoa, é incontornável que Mário Soares para além de Ex-Primeiro-Ministro e Ex-Presidente da República foi uma figura fulcral e marcante da política portuguesa, merece por isso respeito e o mediatismo que está a ter.

O sensacionalismo das notícias, não é culpa dele, é culpa dos meios de comunicação que usam conforme lhes é conivente as desgraças ou as felicidades alheias.

 

Morreu o último estadista português e isso é relevante, morreu, mas deixa um importante legado, o legado da liberdade.

Apesar de não seres o ídolo que em criança acreditava que eras, a ti devo estar a escrever este texto sem que este seja revisto por um lápis azul e por isso ter-lhe-ei sempre em consideração.

Que saibamos sempre honrar a liberdade.

Adeus Mário Soares.

44 comentários

Comentar post

Pág. 1/2