As Finanças necessitam de Relações Públicas
Em Portugal, de um modo geral, toda a gente tem má imagem das Finanças, dos membros do Governo, ministros e secretários de estado e de todos os organismos que estão sobre a tutela deste ministério.
O Fisco é sempre tido como o mau da fita, os seus fiscais são pessoas terríveis que só existem para nos prejudicar, o medo é tal que os funcionários das finanças, especialmente os fiscais, são bajulados, só falta mesmo estender-lhes o tapete vermelho não vão eles lembrar-se de nos inspecionar as contas.
Aqui reside o problema, na imagem das Finanças, enquanto percecionarmos os inspetores das finanças como pessoas más e intrometidas a evasão fiscal nunca terá fim.
Se conjugarmos esta imagem com a imagem que temos dos impostos a revolta é tal que quem engana e rouba o Estado é visto como um herói, o inteligente.
A utopia é tal que os métodos de fuga são transmitidos de pessoa para pessoa, de empresário para empresário e que métodos, estes são extremamente criativos, usasse-se essa criatividade para inovar em outras situações as empresas e as pessoas seriam bem mais prósperas.
O desconhecimento do que acontece com os nossos impostos é outro problema, a maioria das pessoas não faz ideia para onde vão, o anterior Governo disponibilizou uma plataforma online com a possibilidade dos cidadãos saberem para onde iam os seus impostos, mas terá o povo interesse no assunto e capacidade para o analisar?
Quem é que nunca ouviu num estabelecimento público alguém dizer:
- Sou que lhe pago o ordenado, desconto todos os meses para a Segurança Social.
Sim, desconta para a sua reforma, nos dias de hoje desconta para a reforma dos atuais reformados, para ajudas sociais e para tapar alguns buracos, mas não desconta para pagar o ordenado de ninguém.
O ideal seria formar as pessoas para entenderem estas questões, a organização do Estado, como funciona a Economia, para que servem os Impostos, matérias que poderiam ser lecionadas juntamente com os deveres e direitos dos cidadãos, aulas de cidadania e civismo desde cedo fariam milagres. Mas se esta é uma boa solução a longo prazo, a curto prazo é necessário alertar as pessoas que há muito abandonaram o ensino obrigatório da importância do fim da evasão fiscal.
Uma questão complicada já que a primeira reação das pessoas será pensar que os governantes são todos corruptos e que só querem mais dinheiro para as suas regalias, não deixa de ser verdade, mas não se esqueçam aperte por onde apertar eles estão assegurados, nós temos de pensar na economia como um todo, existem particulares a enriquecer à custa da economia paralela, enquanto o Estado nos sufoca de impostos.
Se a evasão fiscal, as prestações sociais, isenções de saúde, escalações de ensino indevidos terminarem as contas a balança será equilibrada e será bom para todos.
É aqui que as Finanças enquanto instituição, à parte de qualquer partido político, têm de atuar, na formação, divulgação e informação ao contribuinte.
As Finanças necessitam urgentemente de uma estratégia consolidada de Relações Públicas, precisam de estar perto dos contribuintes, fazê-los entender que podem contar com eles para travar ilegalidades que os prejudicam. É necessário incentivar a denúncia, um dever de todos os cidadãos, mas muito pouco praticado em Portugal.
As Finanças não são um bicho papão, são temíveis, mas só para quem tem esqueletos no armário, para todos os outros são o óleo que permite que a máquina funcione sem problemas, são a base de toda a estrutura do Estado.
Ações como a divulgada ontem “Pé na Areia” não abonam em nada para a sua imagem, só pioram, passam a imagem que não existem situações mais importantes a fiscalizar do que os vendedores de bolas de Berlim. As entrevistas na praia demonstraram bem a opinião dos portugueses sobre o tema.
É imperativo que sejam realizados esforços para formar os portugueses para a importância de se cumprirem as obrigações fiscais através de uma estratégia a longo prazo que englobe campanhas de sensibilização, incentivos fiscais (oferecer automóveis topo de gama ou obrigações por sorteio não é um bom incentivo é um jogo) e demonstração de resultados.
É tão importante demonstrar a finalidade do dinheiro recuperado como recupera-lo no que toca à sensibilização da população.
Se todos agíssemos como fiscais de nós próprios e dos outros seria uma questão de tempo até as finanças de Portugal estarem regularizadas, depois disso seria um passo para que fiscalizássemos os orçamentos de Estado.
Um país com pessoas bem informadas e formadas é um país financeiramente mais feliz.