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Língua Afiada

Carruagens só para mulheres? E se fossem só para homens?

E se Lisboa tiver carruagens só para mulheres? Esta foi a proposta apresentada por Joana Amaral Dias, candidata pela Nós, Cidadãos! à Câmara Municipal de Lisboa.

A proposta levantou desde logo polémica, nem se poderia esperar outra coisa, mas se a proposta fosse colocada ao contrário qual seria a reação:

 

E se Lisboa tiver carruagens só para homens?

 

Alguém propusesse isto e ficaria para sempre na lista negra dos políticos, seria o caos nas redes sociais, petições com milhares de assinaturas, manifestações pela igualdade, pedidos de demissão, pedidos de prisão e não me admiraria que sofresse um atentado, seria atacado por insultos e quem sabe levaria com uns ovos podres no próximo comício.

Estas medidas contraditórias à busca pela igualdade são contraproducentes e perigosas, há semelhança do festival exclusivo para mulheres na Suécia, a regra nunca deverá passar pela exclusão dos homens e pela segregação, como escrevi na altura não podemos cair na tentação de elevar o protesto a regra.

 

O intuito desta medida seria o mesmo, marcar uma posição, mostrar aos homens que não são dignos de privar com as mulheres, em primeiro lugar a medida penaliza todos os homens colocando-nos a todos na mesma posição, em segundo lugar tratando-se de uma separação de géneros que não contribui nada para a igualdade.

Isolar as mulheres não as protege, apensas as fragiliza, as categoriza e as exclui.

 

Como podemos querer um mundo onde as mulheres são vistas como iguais quando propomos medidas como estas que as isolam?

Num dia temos feministas que querem abolir as diferenças de género, basta recordar a recente polémica dos livros de atividade, no outro temos feministas que defendem locais específicos para mulheres nos transportes públicos.

O que se segue? Locais de diversão noturna só para mulheres? Hotéis só para mulheres? Restaurantes e bares só para mulheres? Praças, ruas só para mulheres? Empresas só para mulheres?

Afinal são todos locais onde mulheres são vítimas de assédio físico e verbal. Vamos criar ambientes seguros para as mulheres ou vamos garantir que todos os locais são seguros para as mulheres?

 

O assédio combate-se com educação, civismo, não com segregação.

Até porque não sei em que mundo tem andado Joana Amaral Dias, mas hoje há a mesma probabilidade de sermos assediadas quer por um homem, quer por uma mulher, desengane-se quem pensa que só os homens são trogloditas, as mulheres também o são, quer seja com mulheres, quer seja com os homens, já vi muitos homens serem assediados e apalpados descaradamente e ainda terem de levar com o rótulo de homossexuais por reclamarem.

Para mim é tão abusivo e desprezível ser assediada por um homem como por uma mulher, o que propõe Joana Amaral Dias para combater isto? Criar carruagens segundo a orientação sexual?

 

Nunca se poderá combater o machismo sendo-se machista, criar carruagens específicas para mulheres é assumir o machismo. A igualdade obtém-se com igualdade nunca com limitações à liberdade de escolha de qualquer cidadão ou com segregação mesmo que opcional.

Ou será legítimo impedir um homem que se sente numa carruagem onde existem lugares sentados só porque é homem? E o que fazer com os homens que escolhem vestir-se de mulher?

Esta medida só fomenta a desigualdade e o machismo, até porque não seria necessário esperar muito até que alguns homens nas carruagens mistas convidassem as mulheres a saírem para as suas carruagens exclusivas deixando-os assim mais à larga e mais à vontade.

 

Este é problema do feminismo, a falta de coerência e assertividade, não se pode num dia promover a igualdade dos géneros e no dia seguinte promover atividades, locais específicos apenas para um dos géneros.

O que faz falta há igualdade dos géneros é uma estratégia concertada com medidas eficazes e eficientes com resultados inequívocos e não com duplo significado.

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