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Língua Afiada

Confiança dos portugueses em níveis históricos. Confiança ou euforia?

Segundo o Estudo Global de Confiança dos Consumidores, da Nielsen, o índice de confiança dos portugueses subiu 17 pontos face ao período homólogo, atingindo 82 pontos, o valor mais alto de sempre.

"Uma das novidades é que a maioria dos portugueses (51%) já não considera que o país está em recessão económica, revelando-se até, nesta questão, um otimismo superior ao que se observa na média europeia (59% dos europeus acreditam que o seu país está em recessão) ", pode ler-se no estudo.

Alguns portugueses não esqueceram o passado recente e "após o pagamento das despesas essenciais, 45% optam por utilizar o dinheiro excedente para fazer poupanças".

 

Na minha opinião 45% é uma percentagem curta face à crise financeira e à austeridade vivida tão recentemente, uma vez que se refere ao dinheiro excedente.

Os dados do estudo referem-se ao segundo trimestre, o nível de confiança no terceiro trimestre terá aumentado, bom tempo e férias são ingredientes poderosos para o aumento da confiança em tudo.

 

O estudo só vem confirmar o que as pessoas mais atentas já percecionavam no seu dia-a-dia, os portugueses estão mais confiantes na economia e nas finanças do país e isso é visível nos seus hábitos de consumo e nos seus hábitos sociais, por todo lado assistimos a sinais de que a população acredita na recuperação económica.

 

Mas existirá recuperação económica?

Não vou aqui tecer comentários sobre as finanças do país, da alegada descida do défice, da recuperação económica, da possibilidade de Portugal sair a curto prazo do nível lixo, deixemos isso para os analistas que terão com certeza mais dados e mais conhecimentos para analisarem a questão, falarei aqui das finanças dos portugueses.

 

Os portugueses têm mais dinheiro?

Têm as suas finanças mais equilibradas?

O poder de compra aumentou?

 

Não, a grande maioria das pessoas ganha sensivelmente o mesmo que ganhava há 1, 2, 3 (10) anos atrás, têm basicamente o mesmo rendimento disponível, e os preços dos bens não baixou, pelo contrário, se assim é o que explica este otimismo e consequente despesismo?

Um excesso de confiança nas notícias da recuperação e uma euforia característica da pós-crise, “depois da tempestade bem a bonança”, mas as contas bancárias dizem o contrário, estão cada vez mais vazias, contrastando com o aumento do recurso ao crédito.

A conjuntura económica parece favorável, mas será prudente acompanhar a tendência do aumento do consumo só porque o Estado e os outros o fazem?

Este cenário parece-lhe familiar? É provável pois as semelhanças com o que aconteceu no período que antecedeu a vinda da Troika são muitas, mais do que as desejáveis.

 

Se alguém esta preocupado com isso? Algumas pessoas, que na são imediatamente classificadas como da oposição, descartando-se assim argumentos e até factos com a desculpa partidária.

Pessoalmente, estou preocupada e não é porque apoie o partido da oposição, estou preocupada porque sei que acontecerá o mesmo de sempre, gasta-se o que se tem e o que não se tem e depois todos pagaremos a fatura.

O que me espanta nos portugueses mais do que a memória curta, são as vistas curtas, enxergando apenas um palmo à frente dos olhos, sendo incapazes de perceber uma questão matemática simples:

 

X - Y = Z

Se o X continua a ser igual, se aumentamos o Y o Z diminui.

Quando o Y ultrapassa o X o Z é negativo.

Podem manipular o que quiserem, se o Y for maior ou próximo a Z nunca existirá equilíbrio financeiro.

 

E se as contas do Estado podem ser complexas, as nossas são bem simples, não podemos gastar mais do que ganhamos, não podemos gastar com base em ganhos futuros e não podemos gastar tudo o que ganhamos quando temos dívidas a prazo.

Cálculos e deduções simples que uma boa parte dos portugueses parece ainda não ter aprendido.

 

Mais do que confiança os portugueses parecem padecer de uma súbita euforia, que escrutinada e dissecada não tem nenhuma causa plausível, a não ser o otimismo e a esperança, adjetivos que podem ser muito úteis para a nossa saúde física e mental, mas que de pouco nos valem quando em causa está a saúde financeira.

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