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Língua Afiada

Desaparecem os pássaros da Europa

Poderia estar a referir-me às pessoas, vejo cada vez mais pessoas desprovidas de asas que as possam fazer voar, os sonhos megalómanos acumulam-se como fosse possível formarem degraus até ao topo, mas a matéria, a consistência que faz alguém realmente voar está em vias de extinção, o cultivo da mente, do intelecto, do pensamento livre e da diferença desaparecem da sociedade na proporção que se perdem valores como empatia, solidariedade, amizade.

Refiro-me, no entanto, aos pássaros que nascem com asas e que a Humanidade invejou desde sempre pela sua capacidade de voar, pela liberdade, beleza e graciosidade, os pássaros que inspiraram e continuam a inspirar poetas, músicos, cientistas, arquitetos e engenheiros.

 

Os pássaros estão a desaparecer da Europa Ocidental, embora em Portugal não existam dados tão concretos como os apurados em França e Inglaterra, esta realidade é bem conhecida pelos ambientalistas e pelas pessoas que vivem ou visitam com frequência os meios rurais, pessoalmente já havia constatado que existem menos espécies e as que perduram existem em menor quantidade, até os pardais escasseiam nas manhãs de Primavera.

Os pássaros desaparecem porque destruímos a sua cadeia alimentar, sem insetos não há alimento para eles, continuamos a expurgar as nossas plantações, hortas e jardins de insetos, não nos importamos de ver borboletas e joaninhas, mas praticamente abominamos todos os outros, com eles desaparecem também os sapos, os ouriços-cacheiros e os insetos do topo da cadeia como libelinhas, escaravelhos e aranhas.

 

Os ecossistemas são frágeis e dependem das cadeias alimentares que neles existem, mexer na base da cadeia alimentar tem implicações até ao topo, neste caso até aos homens, mas continuamos a preferir esquecer essa realidade porque no curto-prazo o que interessa é produzir mais, mais rápido e mais bonito, a beleza e a perfeição das culturas é mais importante do que o seu sabor e os seus valores nutricionais.

A base de tudo é o lucro, a oferta e o desperdício, há cada vez mais desperdício de comida, o mundo está num desequilíbrio profundo, a comida abunda onde existe menos pessoas e escasseia nas zonas sobrepovoadas.

 

E os pássaros definham na Europa, um dia perscrutaremos o céu à procura de andorinhas e tudo o que veremos será ar, despedido, sozinho, o que será dos montes e vales, dos prados e dos rios sem pássaros a colorir a paisagem?

Estamos a ficar mais pobres em biodiversidade, beleza, sons, paisagem e estas notícias que nos deveriam fazer parar para pensar no rumo que a Natureza leva pelas nossas mãos passam pelos pingos da chuva, mesmo que essa chuva seja uma tempestade devastadora.

 

Um dia acordaremos e não reconheceremos esse mundo, um dia pensaremos estar num filme catastrófico no futuro, esfregando os olhos perceberemos que afinal estamos no presente.

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