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Língua Afiada

Dia dos namorados com ou sem filhos?

É uma dúvida que me assiste.

Não é que se vá pegar nos filhos e despeja-los nos avós (que também têm direito a festejar) ou contratar uma babysiter para tomar conta deles enquanto se festeja o dia, não é essa a questão.

A questão é se deve-se ou não separar as figuras, de mãe e de pai de namorado e namorada.

 

É claro que na nossa vida não é difícil dissociar-nos dos diversos papéis que desempenhamos, somos pessoas inteiras sem botões de ligar e desligar e todos os papéis que desempenhamos são influenciados uns pelos outros.

É sabido que para bem e o para o mal a relação do casal muda após o nascimento de um filho, se por um lado passa a existir um laço inquebrável e indissolúvel que os unirá para sempre, por outro passará a existir um amor maior, imensurável e inexplicável que ofusca tudo o resto.

Há casais que nas dedicatórias de amor incluem os filhos, trazendo para o dia dos namorados a prole, não dissociando o amor entre os pais do amor dos filhos, confesso que esta associação me faz confusão.

Se hoje é dia dos namorados, é o dia dele e dela, deles, do amor dos dois, ele e ela só são namorados do respetivo, não são namorados dos filhos, para essas manifestações de amor já existem o Dia do Pai e o dia da Mãe.

Hoje celebra-se o amor dos pais, desse amor surgiram os filhos, são uma consequência, mas o amor é anterior e merece, na minha opinião, ser celebrado em separado.

 

Muitas mulheres sonham com a maternidade, fazem desse ato um projeto de vida, eu sempre sonhei com um grande amor.

E a vida pode tirar-me tudo e negar-me tudo, mas esse grande amor já não é possível roubar-me, já foi concretizado e jamais poderá ser apagado, é real, existe e é palpável, independentemente do que possa acontecer no futuro já o vivi, já o senti, já o experienciei.

 

Deixar de ser o centro das atenções, das preocupações, é terrível, dizem que o sentem mais os homens, porque as mães se esquecem deles com a dedicação aos filhos, eu penso que sentirá mais quem valorizar mais a relação, podem sentir os dois ou nenhum, tudo dependerá da atitude e da forma como vivem a relação pós filhos.

Esta mudança na dinâmica nas relações sempre me assustou e intrigou, porque se por um lado existe o receio de passar para segundo plano existe a dúvida de como eu própria reagirei.

Talvez os exemplos que conheça me enviesem a visão e me levem a questionar, mas gosto de pensar que se um dia do meu amor nascer um filho, esse amor continue a existir e a valer só por si.

 

Afinal da família só há uma pessoa que escolhemos, aquela que nos acompanhará para o resto da vida, aquela com quem nos propomos a criar uma nova família, essa escolha é o princípio de tudo, não deveria por isso ser essa pessoa o centro de tudo?

Uma vez alguém me disse, os filhos não são nossos, são da vida, um dia seguem o seu rumo e nós ficamos sozinhos, e quem é que estará sempre ao nosso lado?

O marido. Por isso devemos sempre nutrir a relação, separa-la, dissocia-la da maternidade, antes de sermos mães, somos mulheres e amantes, quando os filhos saírem do ninho continuaremos a ser mulheres e amantes se o amor ainda persistir, se nos esquecermos dele com certeza que ele não estará à nossa espera.

 

Consciente desta visão que me parece ser a certa, vejo, incrédula, que a maioria dos casais não faz essa dissociação numa coisa tão básica como uma dedicatória numa rede social. Se são incapazes de o fazer num ato tão simples, como o poderão fazer diariamente em todas as rotinas da vida?

A relação amorosa é a relação amorosa, diferente, distinta da relação paternal que se tem com os filhos, se não fazem essa distinção no Dia dos Namorados quando é que a fazem?

Espera-se até que os filhos sejam autónomos para a celebrar?

Poderá ser tarde demais para celebrar.

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