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Língua Afiada

É de boas famílias! E depois?

Os portugueses estão colados a este pensamento provinciano exacerbado pela sabedoria popular que “quem sai aos seus não degenera”, como se os filhos fossem clones dos pais, ou uma extensão dos mesmos, esquecem-se que há maças podres em todas as macieiras e que “no melhor pano cai a nódoa”.

 

Hoje, ao ler o artigo "Subir na vida sem berço de ouro é mais difícil em Portugal" do Público não consegui deixar de pensar neste facto tão antiquado, é desolador confirmar o que já sabia, em Portugal as origens ainda ditam e condicionam o nosso destino.

 

Sempre o soube por experiência própria, que mais do que a inteligência, a competência, a determinação era importante ter o apoio de pessoas importantes, num meio pequeno, pequeno especialmente a nível de mentalidade, é impressionante como a família influencia o acesso ao emprego, chegar a um cargo de relevância em qualquer empresa implica ter pais influentes ou alguém conhecido que intervenha a nosso favor.

 

Se não tivermos isso podemos optar pela a hipocrisia, a bajulação e a imposição, colocar-nos estrategicamente no meio dos influentes, nem que para isso seja preciso ser o empregado de serviço, suportar humilhações e ser pau para toda a colher, apenas com o intuito de ganhar o direito de estar no seu meio, almejando um dia ser reconhecido como um deles, não por mérito mas por continuidade e rotina, até lá vai-se alimentando de migalhas.

 

Um caminho alternativo é esforçar-se a quadruplicar, trabalhar acima do limite e dar tudo, mesmo tudo para que alguém no topo perceba que afinal está ali alguém de valor, tendo sempre a sombra que se por um acaso um filho, um sobrinho ou até um filho do amigo quiser o lugar estão tramados.

 

Ainda mais antiquado é procurar um lugar ao sol pelo amor, perdão pelo casamento de interesse, conheço vários casos que para além de escolherem cuidadosamente as amizades, escolheram com quem casar na esperança que isso lhes abrisse a tão ansiada porta que dá acesso à escada para o topo.

 

Quem não tem estômago e feitio para bajular, quem escolhe amizades por afinidade e casar por amor, só tem duas opções: esforçar-se quatro vezes mais do que o necessário ou expandir horizontes.

 

E não é preciso sair de Portugal, basta sair do local onde todas as pessoas conhecem as nossas origens e após ouvirem o nosso sobrenome demoram menos de dois segundos a fazer um juízo de valor da nossa personalidade, das nossas capacidades e até a decidir se cumprimos ou não os requisitos para o cargo.

 

Não é de estranhar que depois estes marginalizados pelas suas raízes se tornem em piores chefes que os seus chefes, já diz o ditado “não sirvas a quem serviu, não peças a quem pediu”, este comportamento torna-se num ciclo vicioso, sem que consigamos ultrapassar esta herança castradora da competitividade e mobilidade social.

 

Escrevi esta semana sobre a percentagem altíssima de racismo biológico em Portugal, não é surpreendente que ela exista quando ainda existe um tão grande preconceito biológico entre a própria população portuguesa.

 

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