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Língua Afiada

Escolher ser feliz ou ser feliz

Não gosto de ser contrariada, aliás odeio, fico frustrada e às vezes com desejo de vingança, não é uma atitude nobre ou bonita, mas acontece.

Detesto que me alterem os planos e as ideias, especialmente quando não há um motivo lógico para isso acontecer.

Perante este cenário o meu comportamento natural é amuar e fazer planos de uma fria e cruel vingança. Soubessem as coisas que esta mente planeia, poderia passar horas a conjeturar cenários e hipóteses para tramar alguém.

O que acontece? Raramente os executo, aliás o conhecimento de saber que posso vingar-me e que escolho não o fazer reconforta-me.

A vingança raramente se traduz em algo bom, faz-nos acumular em sentimentos negativos e consequentemente energias negativas.

Escolho a felicidade de ter a consciência tranquila, sabendo que se alguém cruzar o risco a minha capacidade de ataque está em forma.

 

Já não tenho a mesma capacidade de resignação em relação às desilusões, vou relativizando, mas acumulo-as até à saturação.

A saturação pode ser de pessoas ou de comportamentos, posso desistir das pessoas ou posso abandonar comportamentos que tenho para com pessoas, depende da proximidade que tenho da pessoa.

Tenho refletido nisto nos últimos dias, as insónias dão-me tempo para pensar em silêncio, tenho-me indagado porque terei mudado tanto e cheguei à conclusão que eu não mudei, as pessoas é que mudaram a minha forma de interagir com elas.

Não há um relacionamento que tenha permanecido inalterado e quase todos pioraram, de desilusão em desilusão, de adaptação em adaptação moldei o meu comportamento para minimizar as desilusões e antecipar as frustrações.

 

Da jovem impulsiva, espontânea e efusiva que fui restam apenas resquícios.

Não é uma mudança necessariamente má, mas por vezes sinto saudades da impulsividade, da vivacidade, de querer viver tudo de uma vez, como se não existisse amanhã.

A minha escolha é mais ou menos consciente, essa impulsividade dava-me desgostos, era muitas vezes incompreendida, tida como irresponsável, apesar de nunca ter feito nada verdadeiramente inconsequente, os rótulos são complicados, é mais seguro viver calmamente sem esperar muito.

 

Nunca ninguém me compreendeu, normal, se demorei anos a compreender-me. Hoje, consciente, escolho ser feliz nos limites que defino como confortáveis, adapto-me, arquivo assuntos nas gavetas da memória, desfaço sonhos pela comparação com a realidade, adio planos até serem concretizáveis, corro menos riscos e redefino cuidadosamente novos limites.

Se escolho esta felicidade, porque este texto?

Porque há sempre um lado meu que pergunta:

- Será que vale a pena?

 

Espero um dia não olhar para trás e lamentar ter-me imposto tantos limites, às vezes sinto que desperdiço os melhores anos da minha vida a perseguir a vida que é suposto ter e não a que escolhi ter.

Achamos sempre que estamos destinados a grandes coisas, que somos especiais, a realidade que mais custa aceitar é que somos todos banais, ou para os otimistas, que somos todos especiais, mas deixemos isso para outro texto.

A grande questão é:

Ao escolhermos conscientemente a felicidade somos efetivamente felizes?

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