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Língua Afiada

Estado de graça ou de desgraça?

Só para esclarecer, estou muito, mas mesmo muito feliz por estar grávida, tanto que tenho dificuldades em transpor em palavras o que sinto, sempre descrevi melhor a tristeza que a felicidade, posto isto, estar grávida não é doença, mas também não é o paraíso.

Sou uma grávida alegre e bem-disposta, até contrasto com algumas grávidas que vou encontrando, umas cabisbaixas e tristes, outras muito ansiosas, outras indispostas e queixosas, outras apáticas, não há grávidas, nem gravidezes iguais e nem todas temos de estar radiantes, felizes e animadas a toda a hora, ter um ser dentro de nós que nos altera corpo e mente não é fácil.

 

A principal desgraça da gravidez são as hormonas, são umas infelizes que nunca sabem o que querem e por isso fazem com que fiquemos assim estupidamente inconstantes, ora eufóricas, ora tristes, capazes de chorar com uma qualquer publicidade parva que não lembra ao menino Jesus.

A segunda desgraça, pelo menos para mim, são os intestinos, preguiçosos, tão preguiçosos, os coitados têm mais sono que eu! Não gostam nadinha de trabalhar, encostam-se ali nos costados a dormir sonecas constantes e só com bombas de fibra, mesmo ao estilo tratamento de choque é que trabalham.

A terceira desgraça são as pessoas, as pessoas são uma desgraça. Ponto. Poderia terminar a frase assim, mas vamos elaborar, por cada pessoa fofinha que encontro, encontro uma ou mais que gostam de muito de duas coisas ou de colocar medo ou pressão numa grávida, as maravilhas que se vão ouvindo, precisamente quando temos menos paciência.

E chegamos à quarta desgraça, a paciência que resolveu tirar férias e sabe-se lá quando voltará, só tenho pena de não ter ido de férias com ela, mas não posso e por isso cá me aguento.

O que me deixa mesmo triste e zangada é que as pessoas que mais enervam as grávidas são precisamente mulheres que já estiveram grávidas, se me enerva que algumas pessoas pintem um quadro de flores e unicórnios, fico fula com as mulheres que só mencionam coisas más, seja da gravidez, seja do pós-parto, seja na convivência com o bebé, a sério que querem que uma grávida sofra de ataques de ansiedade? É preciso serem tão gráficas? É preciso descreverem tudo de olhos arregalados e com uma expressão de morte?

Felizmente que tenho perto de mim pessoas equilibradas e ponderadas, que me vão dando conselhos e alertando de uma e outra coisa e principalmente que me falam de coisas práticas e objetivas para me facilitarem a vida.

 

As mulheres supostamente são muito práticas, mas no que toca ao assunto gravidez gostam porque gostam de complicar, entendam de uma vez as pessoas, os organismos e os bebés não são todos iguais e por isso é impossível que as gravidezes sejam todas iguais.

Julguem menos, a última coisa que uma grávida precisa é que alguém a acuse de estar indisposta ou que diga que é queixinhas porque a prima do cunhado do tio esteve muito, mas muito pior.

E por favor não digam a uma grávida indisposta que devia estar a dar pulos de felicidade, sujeitam-se a levar uma resposta torta, suportar um ataque de lágrimas ou levar um par de estalos para aprenderem a estar calados.

Não se esqueçam que as hormonas são tramadas.

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