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Língua Afiada

Ignorância, pessimismo, derrotismo – Sobre o apoio à Natalidade de Rui Rio

Não importa o tema, não importa a medida, qualquer situação importante que seja colocada na ordem do dia na esfera política, independentemente do partido serve para perceber que as pessoas preferem ser ignorantes a informarem-se sobre o tema, preferem ver o lado mau das medidas e derrotam qualquer ideia só porque acham que alguém não merecedor, segundo a sua opinião, lucrará com isso.

A santa trindade dos medos dos portugueses, medo da mudança, medo de perder, medo que os outros ganhem. Que povo tão egoísta, invejoso e soberbo.

 

Rui Rio apresentou um pacote de medidas de apoio à Natalidade, uma nova “política para a infância”, no documento constam diversas medidas, mas pela amostra os portugueses só fixaram uma medida, aliás só fixaram um número, 10.000€ por filho e é aqui que começa a rebelião a indignação, porquê?

Em primeiro lugar, as pessoas em vez de lerem as notícias, só leem títulos, nem falo de ler o documento completo, mas podiam pelo menos ler as notícias que explicam como serão atribuídos os 10.000€, mas isso não interessa, 10.000€ é uma fortuna especialmente para quem pensou logo nos ciganos que passarão a procriar à velocidade da luz e nas famílias de classe média que terão mais um ou dois filhos para pagarem supostamente férias.

Em segundo lugar, as pessoas pensam logo que para dar este dinheiro o Estado terá de lhes extorquir mais alguma coisa, nem lhes passa pela cabeça que provavelmente têm filhos, sobrinhos ou primos, crianças que um dia com as suas contribuições mensais pagar-lhes-ão a almejada reforma.

 

Não é preciso ter um doutoramento em finanças, nem uma especialização em demografia para perceber que se não invertermos a curva da natalidade a Segurança Social entrará em colapso, mas não será só a Segurança Nacional será todo o modelo de sociedade, este é um problema que afeta praticamente todos os países desenvolvidos, só que em Portugal temos um problema adicional, reformas baixas e salários baixos, os idosos não terão meios de subsistência próprios e os mais novos não terão capacidade financeira para o seu sustento.

Não faltará muito estaremos a importar pessoas, o que já acontece em alguns locais, onde existem incentivos financeiros e socais para conquistar novos residentes, não posso deixar de sorrir ao pensar na indignação de algumas pessoas a pagar para ter no seu país aqueles que sempre quiserem ver à distância, mas mesmo a migração é problemática, pode ser uma solução a curto-prazo, mas não resolve a situação a longo prazo.

 

Do pacote de medidas apresentado, a medida que me chamou mais a atenção foi a das creches gratuitas a partir dos 6 meses, quem está dentro do assunto sabe que pode ser muito difícil encontrar uma vaga numa creche e que o preço pode ser proibitivo, aliás a situação é tão grave que existem casais a adiar ou a declinar o segundo filho por causa dos custos elevados precisamente das creches.

O alargamento da licença de maternidade ou paternidade para as 26 semanas, mais 6 semanas que na atual lei é também um ponto favorável, pois até aos 6 meses as crianças devem permanecer com um dos pais, a proposta menciona ainda dois pontos interessantes o facto de a licença poder ser estendida até um ano, embora sem remuneração e a possibilidade de negociar com as empresas um regresso a tempo parcial.

Estas medidas claramente vão ao encontro das recomendações internacionais e dos melhores exemplos europeus, exemplos frequentemente referenciados no documento, não li o documento completo, mas terá com certeza muitas arestas a limar e muitos pontos a discutir, mas é de louvar que se coloque o tema da natalidade na ordem do dia.

 

Rui Rio foi imediatamente acusado de tomar medidas populistas e de estar a fazer a campanha para as eleições, pergunto-me se não deverá ser esse o seu papel, de apresentar projetos e medidas, de ter uma declaração de intenções para que os portugueses saibam no que estarão a votar.

Esta perseguição que os partidos fazem uns aos outros é ridícula, primeiro acusam-se mutuamente de tentar ganhar votos, como se não fosse essa a sua principal função e depois de eleitos discutem o passado de uns e de outros em vez de se focarem no futuro.

 

Sejamos sinceros, os nossos políticos são o espelho da nossa sociedade, estarão os portugueses realmente preocupados em construir um futuro melhor ou prendem-se em saber em como alguém ganhou o quê, a criticar e a invejar o sucesso dos outros em vez de tentarem perceber o que podem fazer para alcançarem eles próprios o sucesso?

Perdemos demasiado tempo a sermos pessimistas e derrotistas, procuramos sempre encontrar uma razão má que justifique qualquer boa intenção, significará isso que no fundo somos todos maus e que nunca fazemos nada de bom gratuitamente e genuinamente?

 

Independentemente de serem boas ou más pessoas, as piores pessoas são mesmo as que preferem manter-se na ignorância, refugiando-se em estigmas, em ideologias, em simpatias, em ideais retrogradas, ideias preconcebidas, ficando estagnadas e cativas da sua própria letargia.

O problema de Portugal é, sempre será, a mentalidade, a cultura e os valores.

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