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Língua Afiada

Mãe Desnaturada #2 – A baixa médica

Apesar dos kg que tenho a mais, nem sei quantos porque resolvi deixar de me pesar, de perder o fôlego a subir escadas e da azia que parece ter vindo para ficar, sinto-me bem, quem não me conhecer até é capaz de nem se aperceber que estou grávida, nas filas de supermercado por exemplo ninguém parece reparar, já na pastelaria do mesmo supermercado a funcionária reparou logo e decidiu oferecer-me o menu café com pastel de nata, pareceu adivinhar que me estava a fazer falta um docinho.

Resumindo, estou fisicamente bem, já psicologicamente apresar da lentidão inicial ter melhorado, ainda não voltei ao meu estado normal e as saudades que sinto dele, faz-me falta a mente aguçada, adiante, estou bem dentro do possível e por isso não consigo entender porque me estão constantemente a perguntar quando entro de baixa.

 

Acreditem que algumas pessoas disseram-me para entrar de baixa assim que souberam que estava grávida, mas o que estranhei mesmo foi ser a obstetra a perguntar o mesmo na semana passada. O que aconteceu à célebre frase a gravidez não é doença?

Ok, a médica estava preocupada com o cansaço que podia estar a sentir, é bem verdade que as noites já não são tranquilas como antigamente, supostamente até ressono, o quê?|Eu ressonar?! Mentiras, calúnias do meu marido! Nem tão pouco consigo dormir 10h seguidas, as saudades que eu tenho de uma cura de sono, não vale a pena ter ilusões isso é passado, agora porque a bexiga não o permite, depois provavelmente será a minha filha a não permitir, por mais anjinho que seja, tenho a certeza de que será, terá sempre necessidades para suprir.

 

O que acho estranho é a atitude de outras mulheres, bem sei que até dá jeito estar por casa para preparar um sem fim de coisas, no nosso caso temos mesmo muitas alterações a realizar na casa, mas passar 6/4 meses a preparar a vinda do bebé parece-me um exagero, a mãe já estará bastante tempo dedicada à cria quando ela nascer, aliás já estou a preparar-me para o facto de uma ida ao médico ou à farmácia serem eventos espetaculares porque irei sair de casa para apanhar ar, por isso não consigo entender esta fixação com o estar em casa também antes.

 

Gosto de manter a mente ocupada e ativa, se já me sinto lenta a trabalhar, não quero imaginar como seria se parasse a minha atividade profissional, provavelmente alguns neurónios iriam falecer por falta de uso, assim ao menos obrigo-os a exercitar na esperança de recuperarem o vigor depois de a bebé nascer.

Nem todas as mulheres se sentem da mesma forma durante a gravidez, para além das complicações que podem surgir que obrigam a descanso e repouso, algumas ficam tão doentes com enjoos, azia ou privação de sono que não têm outra solução se não ficarem de baixa médica, é bom que assim seja, a mãe tem de estar bem para a gravidez decorrer com normalidade.

 

O que não é normal é grávidas visivelmente bem e saudáveis, encantadoras, bem-dispostas, alegres e contentes meterem baixa só porque é paga a 100% e depois andarem a laurear a pevide por esses shoppings fora em maratonas de compras.

Estão a ver a cara do vosso patrão ou chefe ao vos encontrar nesses preparos quando supostamente estão com gravidez de risco? Algumas são tão corajosas que não se coíbem de publicar passeios e viagens nas redes sociais.

Há exceções, profissões que exigem a pausa seja por serem fisicamente exigentes, seja pelo alto nível de stress, ninguém quer uma grávida constantemente à beira de um ataque de nervos, não é bom para a grávida, nem para a empresa.

 

É por muitas mulheres usarem e abusarem desse direito que depois muitas vezes grávidas que necessitam efetivamente de baixa são malvistas e criticadas não tenham dúvidas, já sabem como são as pessoas, conhecendo uma grávida que se aproveita da situação, passam a achar que todas o fazem não por necessidade, mas por aproveitamento.

 

Devo ser uma grávida desnaturada para muitas pessoas, porque quando me falam em baixa, reviro os olhos, seria incapaz de estar de baixa sem ser por necessidade, não me consigo imaginar a estar tanto tempo sem trabalhar, não digo que depois de ser mãe não vá dizer que não se importava de tomar conta dos filhos a tempo inteiro, duvido, mas nunca se deve dizer nunca.

Presentemente, sinto-me bem a trabalhar, a ter uma ocupação, a manter-me ativa, apesar de a gravidez ser a prioridade, não é toda a minha vida e espero que o meu estado de saúde me permita continuar assim até ao parto.

O que poderia ser interessante era a possibilidade de as grávidas terem uma redução de horário, ficavam todos a ganhar, o Estado que teria de pagar menos e as empresas que não ficariam sem uma colaboradora a tempo inteiro. Digo isto porque trabalhar 4 ou 6 horas não é o mesmo que trabalhar 8.

 

É importante respeitar as grávidas que necessitam de estar de baixa, mas também é importante respeitar as grávidas que optam por não o fazer, seja por sanidade mental, seja por necessidade, há empregos que uma ausência tão longa se torna uma complicação, o importante é aceitar as decisões de cada uma e não julgar a capacidade e a dedicação de uma mãe pelo tempo que passam em casa à espera do seu bebé.

 

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