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Língua Afiada

Marcas pagam a influenciadores para falarem mal da concorrência – Será só na cosmética?

A polémica estalou na comunidade de youtubers que promovem cosméticos, quando MarlenaStell publicou um vídeo a desmascarar a indústria de cosméticos e beleza e foi imediatamente apoiada por Kevin James Bennet, maquilhador profissional.

Foi precisamente Kevin James Bennet que afirmou ter acesso a propostas para uma review de um produto de 64 a 73 mil euros para dizer mal da concorrência.

Se o ambiente entre youtubers segundo Marlena Stell não é o melhor, a notícia que existem marcas a pagar para que influenciadores façam reviews negativos da concorrência eleva a polémica a outro nível.

 

Não é novidade que muitos influenciadores digitas que utilizam diversas plataformas de divulgação não identificam posts, fotos, vídeos que são patrocinados, na verdade há cada vez mais incerteza se o que estamos a ler ou a ver é uma opinião honesta e sincera ou se é um patrocínio, a situação piora quando as marcas definem o que deve ser escrito ou dito.

A publicidade tradicional está a ser substituída pela publicidade digital e pelos opinion makers, a questão é se podemos realmente confiar na opinião de um influenciador.

 

Pessoalmente prefiro blogs a vblogs, mas os canais de YouTube têm cada vez mais importância e mais audiência, se tem vindo a ser discutida a influência que esses canais têm nos mais novos, não há discussão sobre a sua influência nos adultos.

A questão que se coloca é simples, como podem os pais discernir sobre a influência que os youtubers exercem sobre os filhos se eles próprios têm dificuldade em discernir se são ou não influenciados e indo mais longe manipulados.

Este é um tema muito importante ao qual não tem sido dada a importância devida e sobre o qual há pouquíssima legislação que defenda o consumidor, sempre existiu publicidade enganosa, anúncios de produtos que prometem milagres e que na verdade não passam de banha da cobra, mas a situação atinge proporções perigosas quando influenciadores não aconselham somente produtos, mas estilos de vida, dietas, medicamentos e pior a desistência da medicina tradicional.

 

Esta semana foi anunciado que todos os portugueses vão poder, a partir de Janeiro, aceder de forma gratuita a plataformas digitais internacionais com informação clínica e cientificamente validada, uma iniciativa da Ordem dos Médicos e do Ministério da Saúde.

Esta iniciativa visa combater o “Dr. Google”, já que o motor de busca parece ter mais credibilidade que os médicos e comunidade científica, esta medida é um passo importantíssimo, mas não resolve o problema, porque infelizmente pior do que o “Dr. Google” é o “Dr. Facebook” onde os grupos fechados assumem uma importância desproporcional à sua validade, onde pessoas assumem posições radicais e fundamentalistas sobre tudo e onde pessoas com pouca cultura e instrução são facilmente influenciadas.

Quando vemos pessoas questionarem ordens e prescrições médicas em grupos e fóruns e as vemos receber indicações contrárias às dadas pelo médico, é sinal que estamos a enveredar por um caminho muito perigoso.

 

A grande questão é como controlar a situação, não podemos negar a liberdade de expressão às pessoas, o que podemos e devemos é responsabiliza-las pelas suas afirmações, especialmente os influenciadores que lucram com as suas “opiniões”, há uns anos foi possível responsabilizar as tabaqueiras, deverá ser possível responsabilizar os influenciadores e acima de tudo responsabilizar as marcas que os patrocinam.

O problema só será totalmente resolvido com educação e formação, mas as pessoas, especialmente as gerações mais novas, têm cada vez mais dificuldade em distinguir conteúdo de publicidade, pelo que será muito difícil educa-las nesse sentido.

 

É por isso necessária muita atenção ao nosso comportamento e ao comportamento dos mais novos, é preciso ler e ver com atenção os conteúdos que nos chegam e questionar sempre se é uma opinião sincera, sensata ou uma opinião paga. Muitas vezes basta conhecer o influenciador e a sua forma de expressão para detetar se são as suas palavras ou as palavras da marca.

Em resumo, não acreditem em tudo o que leem e ouvem, nem tudo o que reluz é ouro e no que toca à alimentação e saúde ouçam os especialistas, a medicina pode não ser perfeita, mas ainda é a melhor opção, até prova científica em contrário.

 

 

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