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Língua Afiada

Marketing emocional ou abusivo?

A emoção vende, a emoção tem possibilidade de ser tornar viral, é por isso que os vídeos de Storytelling estão na moda, mais do que produzir anúncios as marcas pretendem contar histórias, histórias relevantes.

Quando apelamos às emoções existe uma barreira ténue entre o que emociona e o que fere, entre o que comove e o que incomoda, entre o que é belo e entre o que é abusivo.

Não há propriamente uma regra, uma fórmula, é praticamente impossível prever se um anuncio emocionará ou causará revolta, se irá tornar-se viral por bons ou maus motivos.

Na ânsia de captar a atenção das pessoas as marcas arriscam para lá do que o bom senso aconselha, muitas vezes na esperança que o lado emocional sobreponha o racional e que o público se deixe levar pela comoção.

 

Em Portugal o caso mais falado foi o da Crioestaminal em que as opiniões se dividiram entre o promover uma causa ou a culpa, o público determinou que a sensação de culpa transmitida aos pais era muito mais pertinente do que defender a causa, que não era mais do que a venda dos seus produtos.

Abusaram, elevaram a fasquia, vender pelo medo resulta, mas vender pela culpa não, tivessem optado vender por uma história de sucesso, tenho a certeza que teriam excelentes resultados.

 

O mais recente anúncio polémico é da cadeia Macdonald’s no Reino Unido que explora as saudades de um órfão, mais uma vez o que poderia ser uma comovente história resultou numa história abusiva.

 

Qual foi o erro da Macdonald’s?

Na minha opinião a arrogância de achar que algum filho pudesse ter em comum com o pai apenas o gosto pelo menu da cadeia de fast food.

Se este anúncio poderia resultar?

Podia, se fosse contado de outra forma, a história podia ser quase a mesma, bastava apenas mudar alguns grandes detalhes, a ideia de base é boa.

Quando recorremos às emoções é quase impossível antecipar a reação do público, mas quase não é impossível, testes prévios com uma audiência representativa da cultura de cada país seriam o suficiente para deixar muitos projetos na gaveta ou realizar ajustes noutros.

 

Continua a existir uma enorme discrepância entre o que os profissionais acham que será um sucesso e entre o que público realmente recebe bem, resquícios de décadas onde as empresas impunham os seus produtos e serviços com queriam e bem entendiam.

Hoje, apesar de existir uma maior abertura para o marketing e para os estudos de mercado, as empresas continuam a impor muitas vezes as suas ideias aos profissionais de marketing e comunicação, muitas das vezes castrando a criatividade.

 

Mas até onde as empresas estão dispostas a ir para vender?

Será que existem limites a serem impostos, fará sentido legislação nesse sentido?

A exploração de sentimentos sempre foi uma fórmula de venda, tradicionalmente estamos habituados a ver anúncios que exploram sobretudo sentimos positivos como o amor e o humor.

 

Será menos legítimo explorarem sentimentos negativos como a morte?

Devemos deixar a morte apenas para as campanhas de sensibilização?

Afinal o que nos incomoda num anúncio como o do Macdonald’s?

 

A exploração da dor do órfão ou que ela nos lembre que existem milhares de órfãos no mundo?

Não incomodará a imagem de uma família perfeita a quem teve a família desfeita?

 

Podem assistir o vídeo e tirarem as vossas próprias conclusões, mas uma coisa vos afianço se a história fosse contada com um final feliz, como uma recordação feliz do pai, não existiria esta revolta com o anúncio.

 

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