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Língua Afiada

Mistérios da mente de grávida

Quando pensei que o tempo não pudesse passar ainda mais rápido, eis que o meu cérebro abranda, desliga e me mostra que pode passar muito, mas muito mais depressa. Um contrassenso, um verdadeiro paradoxo, abrandamos, desligamos e o tempo voa, literalmente desaparece porque não conseguimos a rentabilidade desejada.

Isto acontece para que as grávidas consigam relaxar, para que não morram de ansiedade e para que não estejam em constante sobressalto, isto porque pode correr tanta coisa mal que se estivéssemos constantemente a pensar nos riscos sofreríamos horrores e provavelmente teriam de nos dopar, a sábia genética e engenharia humana já se encarregou que isso aconteça naturalmente, é por isso que o cérebro das grávidas fica mais lento e mais desligado.

 

É ótimo que assim seja, estamos mais sensíveis e mais emotivas se não estivéssemos também mais desligadas a gravidez seria um tormento, são diversos os pensamentos maus que me assolam a mente, é como se todos os medos e receios estivessem ali à espreita para aflorarem num momento de distração.

Numa noite destas deitei-me a pensar no problema de uma das pessoas mais importantes da minha vida e simplesmente não conseguia adormecer atormentada, receosa, temendo o pior, senti uma angústia tão grande que parecia estar a ser puxada para um buraco negro sem fundo, incapaz de lutar contra a escuridão sombria que me invadia e comprimia o peito.

 

Sonho muito, não me recordo dos sonhos, mas sei que são maus, são possivelmente pesadelos, deve ser neles que exorcizo os medos, mas mesmo assim quando menos espero sou invadida por receios, ontem quando entrava no chuveiro pensei – e se escorrego? Sou dada a quedas, já caí grávida, felizmente o meu pensamento foi rapidíssimo, consegui nem sei explicar como controlar para cair para o lado direito estrategicamente em cima do saco da praia quando pela lógica o normal seria cair para a frente.

A conduzir penso inúmeras vezes no que pode acontecer, não é um pensamento bonito, tenho tendência a pensar graficamente, sinto calafrios, dor de estômago, sacudo os pensamentos maus e canto para espantar os males.

 

Este modus operandi do cérebro não me é totalmente estranho, sempre que estou muito feliz há uma espécie de treva escondida nas sombras das profundezas do meu inconsciente que tenta aparecer, não sei se por aviso, para me recordar da fragilidade da felicidade se para me ferir, lembrando-me que bem lá no fundo não está tudo bem, há sempre algo de ruim a acontecer.

 

Entre o esquecimento das banalidades e o desapego das importâncias, o tempo passa entre picos de humor, cansaço e um sorriso difícil de arrancar do rosto, por vezes queria que o tempo fosse mais generoso e me permitisse usufruir plenamente de cada detalhe, mas é aí que percebo que o tempo é sempre igual, eu é que estou diferente e é assim que um dia sou uma pessoa normal e no outro sou o centro do mundo, não por mim, mas pelo milagre que carrego no ventre.

 

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