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Língua Afiada

Moda e política – O paradoxo de vestir Melania Trump

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Moda e política à primeira vista parecem não nada a ver uma com a outra, mas só para os mais distraídos ou para os que escolhem acreditar que a moda é apenas um meio fútil de algumas corporações enriquecerem, provavelmente as mesmas pessoas que enriquecem corporações através da política e do lobbying.

A moda dita tendências e desengane-se quem pensa que apenas dita tendências e padrões de beleza, a moda é muito mais do que isso e a prova é nova polémica sobre vestir ou não vestir a futura primeira-dama Melania Trump.

 

Depois de da criadora Sophie Theallet ter pulicado uma polémica carta a anunciar que não vestiria Melania Trump que iniciava com a frase: “Enquanto marca de Moda independente, consideramos que a nossa voz é expressão das nossas crenças e ideias artísticas".

A criadora que vestiu Michelle Obama, durante oito anos, disse que a sua decisão se baseia no facto dos seus ideais: "diversidade, liberdade individual e respeito por todos os modos de vida" não serem os defendidos pelo futuro presidente Donald Trump, havendo por isso um conflito ideológico e encorajou os seus pares a tomar a mesma atitude. 

Mas será que todos os criadores, designers e casas de moda seguirão o mote de Sophie Theallet?

 

Com certeza que não e vozes contrárias não tardaram a pronunciar-se, primeiro foi Tommy Hilfiger que enalteceu a beleza da futura primeira-dama, antiga modelo, dizendo que "qualquer designer deveria sentir-se orgulhoso por vesti-la".

Diane Von Furstenburg também saiu em defesa de Melania Trump dizendo que "merece o respeito que foi dado a qualquer primeira-dama anterior a ela" e que volta a questão contra os argumentos de Sophie Theallet ao defender que o papel da moda é "promover a beleza, inclusão e diversidade". 

 

Tom Ford, em entrevista ao programa de televisão norte-americano The View, confessou “Há anos, pediram-me para a vestir e recusei. Ela não representa a minha imagem.” O criador disse ainda acreditar que as suas peças são "demasiado caras" para uma primeira-dama "que deve ser representativa do público geral".

A Theallet e a Ford juntou-se Marc Jacobs que expressou também não ter qualquer interesse em vestir Melania Trump. "Pessoalmente, prefiro usar a minha energia a ajudar aqueles que serão lesados por Trump e pelos seus apoiantes". 

 

Se por um lado os criadores devem promover e defender os ideais em que acreditam, por outro lado ao recusarem vestir Melania Trump não estarão de certa forma a discriminá-la e a julgá-la pelo marido? Não acredito em discriminação positiva, mas será que podemos encarar estas recusas como discriminação?

Não creio que este argumento seja válido, no que toca a ideais os defendidos por Donald Trump não são os que melhor servem o mundo, há a questão da ética, não podemos atestar que um conjunto de valores é melhor ou pior que outro, mas há a questão dos Direitos Humanos que defende a igualdade de direitos, deveres e oportunidades, após um longo caminho na perseguição destes valores, é perigoso fazermos agora um retrocesso.

 

Um criador que diz publicamente recusar-se a vestir Melania Trump alegando conflitos ideológicos é tão válido como recusar ter relações comercias com um país que viola a Carta Internacional dos Direitos Humanos.

Não é uma questão de discriminação, é uma questão de princípios e uma declaração pública dos mesmos.

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