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Língua Afiada

Na vida não existem intervalos

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Inspiro profundamente, cerro os olhos com força, expulso o ar devagarinho, faço um compasso de espera, abro os olhos, suspiro.

Enquanto abrando à força a respiração o coração acelera os batimentos num desalinho entre o que quero sentir e o que sinto.

Inspiro novamente, amacio a respiração, fecho os olhos mais uma vez.

O coração continua a bater mil vezes mais rápido que a minha respiração, e os pensamentos…

Os pensamentos não abrandam, sucedem-se uns aos outros num ritmo vertiginoso.

Queria um espaço, um intervalo, um tempo sem pensar.

Um lugar intermitente no estado latente entre o inspirar e o expirar, suspensa por uns segundos, protegida entre a coordenação do abrir e fechar, do suster e do libertar.

Poderia dormir, dormir para não pensar, mas de que serve dormir se a vida está sempre acordada.

 

A vida não para de correr, corre sempre apressada na sua estrada sem semáforos, curva à direita, curva à esquerda, em linha reta, corre sinuosa ou a direito, mas nunca fica parada.

Nos cruzamentos, nas encruzilhadas, não me iludo, posso parar para pensar que caminho seguir, mas a vida invariavelmente corre para o lado que lhe convier, quanto mais tempo fico parada mais a deixo ter rédea solta no caminho que lhe aprouver.

Voltar para trás para rever o caminho é perder tempo, é correr contra o vento, é tentar descer uma escada rolante que está a subir.

 

Avisto uma rotunda com oito saídas, oito saídas à direita, sei que algumas são à esquerda, algumas significam voltar para trás, mas ao mesmo tempo qualquer uma saída significa seguir em frente.

Circulo, circulo, circulo em círculos, tento ler as placas direcionais, estão enovoadas, as letras são um borrão sem significado, não existe uma saída certa, só existem caminhos diferentes a seguir.

Não há intervalos, a vida é urgente, devoradora de segundos, minutos e horas que se materializam em dias, anos, décadas, a vida corre inequivocamente como um rio corre para o mar.

De nada vale desacelerar, parar, a vida tem o seu próprio ritmo, o ritmo do universo, tentamos medir o tempo, confina-lo, dividi-lo, categoriza-lo. Ilusão vã, tempo é tempo e a sua fluidez é um plano superior, tudo o que sabemos é que o tempo não para e leva consigo a vida.

 

A vida resume-se ao tempo que o tempo nos dá.

Não há intervalos, até a dormir estamos a viver, a perder.

 

Avanço instintivamente para o caminho mais solarengo, o importante é não ficar retida na ilusão da decisão porque a vida não para como eu, ela corre e leva com ela o meu tempo.

Cada segundo que passa é tempo que perdi, é tempo que vivi.

Vivo, respiro profundamente e penso o tempo não são segundos, horas, dias, anos ou décadas, são momentos imensuráveis, impossíveis de quantificar porque significam mais, ultrapassam e transcendem o tempo que demoraram, são eternos.

 

A vida que resume-se ao tempo que o tempo nos dá.

Não há intervalos, é viver com o máximo de tempo que o tempo nos dá.

 

 

“O Tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o Tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo, tempo tem.”

4 comentários

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    Psicogata 12.09.2016 17:27

    Pode obrigar-me a mudar de direção a parar não, ela não para corre sempre, mesmo que eu tenha ilusão de estar parada :)
    Não sei se foi mau mas é bom ter-te aqui no Sapo.
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    Pequeno caso sério 12.09.2016 17:35

    Foi mau pois! Dois meses imobilizada com um pé partido.
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    Psicogata 12.09.2016 17:39

    Deves ter descansado muito e stressado muito :(
    Nem quero pensar estar 2 meses com a mobilidade condicionada.
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