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Língua Afiada

Não comparem a vitória do Benfica à visita do Papa e à vitória do Salvador

 

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Entendo que seja fácil cair na tentação de juntar os acontecimentos, mas a visita do Papa Francisco, a vitória do Benfica e a vitória do Salvador não cabem no mesmo saco.

Porquê?

 

Porque simplesmente são coisas totalmente diferentes, especialmente porque não somos todos benfiquistas, não somos todos católicos, mas somos todos portugueses, embora às vezes alguns pareçam estrangeiros.

O Benfica foi campeão, parabéns, é algo que estamos todos habituados, não é propriamente novidade que o Benfica ganhe o campeonato, que seja tetra campeão, sim é novidade, mas não é propriamente um milagre ou magia, bem há quem diga que existiu magia no campo, há quem diga que existiu magia da arbitragem, de qualquer forma apesar de ser inédito para o Benfica, o que confere a unicidade ao feito é o clube que dizem ser o melhor de Portugal ter demorado tantos anos a consegui-lo, mas todos sabíamos que seria apenas uma questão de tempo.

 

A visita do Papa é importante para Portugal, mas é apenas importante para quem tem fé, nem sequer é para os católicos porque há muitos que se dizem católicos que não têm fé, bem vistas as coisas para os funcionários públicos também é importante, porque é sempre de louvar um fim-de-semana prolongado, palmas para as autarquias que souberam fazer distinção entre o que é necessário e o que não é e não deram a tolerância.

Apesar de nutrir um carinho especial pelo Papa Francisco e pela forma como deu um novo ruma à Igreja Católica a visita de um Papa ao Santuário de Fátima não é nenhum milagre, nem nenhum facto extraordinário, se querem referir alguma coisa extraordinária relacionada com a religião refiram o centenário das Aparições e a canonização de Jacinta e Francisco, a visita do Papa é só um reforço da comemoração, não é a comemoração em si, pena que a maioria das pessoas se tenha esquecido do motivo da visita e tenha-se focado apenas na visita.

 

Na minha opinião o Papa deveria visitar Portugal uma vez por semana, os 708 mil euros apreendidos dão imenso jeito aos cofres do Estado, as 46 armas sempre dão uma ajuda para repor o stock roubado e os 36 kg de droga também darão jeito a alguém, podem por exemplo fazer sticks de incenso para colocarem nos balcões das finanças, contribuintes e agentes da autoridade agradecem ambiente zen.

Mas como o Papa Francisco tem mais do que fazer e os funcionários públicos também, mas podem sempre fazer estas operações de controlo por rotina, é só uma sugestão, teríamos todos a ganhar com isso.

 

Mas o dia 13 de Maio ficou marcado pela vitória de Salvador Sobral na Eurovisão, dia 13 em Portugal porque os manos só souberam que eram vencedores no dia 14, já que na Ucrânia já era dia 14, mas parece que ninguém se apercebeu disso.

Preciosismos à parte, o que é que a vitória do Salvador tem a ver com a vinda do Papa e com a vitória do Benfica?

Absolutamente nada e porquê?

 

Porque Portugal ganhar a Eurovisão está para a igreja como uma nova aparição, caso raro e digno de ser chamado de milagre.

Porque Portugal ganhar a Eurovisão está para a música como Portugal ganhar o Europeu de Futebol para o Futebol.

 

Entendem a diferença?

Não misturem e acima de tudo não tirem o protagonismo aos irmãos Sobral, foi muito mais do que uma vitória de Portugal, foi uma vitória da nossa língua, da nossa cultura, da nossa identidade e acima de tudo foi uma vitória da música e para a música.

Esta enorme conquista não se esgota na vitória, mas numa profunda reflexão em particular sobre o rumo do festival e sobre a música no geral.

Esta vitória tem repercussões incalculáveis para a música portuguesa e para a marca Portugal, o nosso país está nas bocas do mundo e desta vez não é por causa da TROIKA, mas pelo que fazemos bem.

Da minha parte um imenso obrigado aos irmãos Sobral por me fazerem vibrar com o Festival da Eurovisão, regressei à infância quando seguia religiosamente o Festival, ao sofrimento de esperar pelo resultado com a enorme diferença que desta vez a desilusão deu lugar a uma enorme felicidade, a uma euforia desmedida, um daqueles raros momentos em que sentimos uma vitória como nossa, sofrida, merecida, há tantos anos almejada.

 

Obrigada Luísa Sobral pela música, obrigada Salvador Sobral pela belíssima interpretação.

Não amaram por dois, amaram por todos os portugueses.

 

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